Uma experiência em grandes desastres que poucas corporações acumularam torna o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais referência para operações de resgate em todo o mundo. Com 400 dias de buscas ininterruptas por vítimas da tragédia de Brumadinho completando-se hoje e um total de 259 corpos recuperados, os militares mineiros usam o conhecimento acumulado na maior tragédia humana da história da mineração no país, além do que aprenderam com o pior desastre socioambiental do Brasil, em Mariana, para ministrar treinamentos a militares de outros seis estados, no curso de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas (Brec). Um conhecimento prático apoiado por ações contínuas de treinamento, como o de salvamento em altura, feito ontem no Ribeirão Arrudas, em Belo Horizonte.
“Pelo cenário no nosso estado, nossos riscos e emergências, estamos nos especializando cada vez mais. E agora vamos deixar equipes em condições de atuação internacional”, afirma o capitão bombeiro Herbert Aquino Marcelino, coordenador do curso. A atividade prepara militares para lidar com desastres nos padrões internacionais, com foco em escoramentos complexos e entrada em escombros, capacidade aprimorada pelos militares mineiros também na atuação internacional em Moçambique, onde participaram de missões de salvamento em áreas devastadas pelo ciclone Idai.
Na manhã de ontem, o treinamento ocorreu no aeroporto da Pampulha para demonstrar protocolos da Organização das Nações Unidas (ONU) em caso de convocação para desastres. Foi simulada a chegada de cinco equipes brasileiras ao Vietnã, em uma hipótese de o país do sudeste asiático ser atingido por terremoto. Foram analisados procedimentos de imigração, alfândega e vigilância sanitária diferentes das adotadas em voos comerciais.
Com duração de três semanas, o curso começou na segunda-feira e termina no próximo dia 13. Participando integrantes do Corpo de Bombeiros Militares do Espírito Santo, Paraná, Bahia, Ceará, Roraima e Distrito Federal. Além de militares de todo o estado de Minas Gerais com formação em busca e resgate, o grupo de instrutores é formado pelo diretor-geral do Grupo de Resgate e Atenção às Urgências e Emergências (Grau), Jorge Michel, e pelo coordenador-geral de Gerenciamento de Riscos do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres, da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, o tenente-coronel veterano do Distrito Federal Paulo José Barbosa de Souza.
Resgate e prevenção
Ontem, enquanto 34 bombeiros participavam do primeiro curso do país de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas em nível avançado, outros seis enfrentavam o desafio do salvamento em altura. O treinamento ocorreu no Ribeirão Arrudas, na Avenida do Contorno, Centro de Belo Horizonte, e simulou o resgate de vítima em tentativa de suicídio. “Diariamente a gente faz simulações para aperfeiçoamento da tropa. Como é corriqueiro esse tipo de ocorrência na região central, fazemos simulados constantemente”, afirmou o sargento Luiz Fernando Diniz Almeida, instrutor da ação.
De acordo com o bombeiro, dois tipos de abordagens são simuladas no treinamento. A primeira é a técnica com ajuda voluntária da vítima. “Muitas vezes o indivíduo fica dependurado na viga e precisamos fazer aproximação dele com dispositivo de segurança. O ideal é que a vítima se conscientize e colabore com a guarnição, para que façamos a remoção com segurança”, explica o militar.
Caso a vítima não se convença, os militares partem para a abordagem tática, considerando o maior potencial de risco. “Os socorristas vão dialogando com a vítima e fazem a abordagem lateralmente, imobilizando a pessoa e fazendo a remoção dela com segurança”, disse o sargento Almeida.
Segundo o militar, do 1º Pelotão de Bombeiros, o treinamento ainda capacita agentes para salvamento em outras situações, como viadutos, passarelas e sacadas de prédios. De acordo com o sargento Almeida, a unidade atende a cerca de duas ocorrências do tipo por mês.
Capacitação contínua
Na data que marca os 400 dias do maior desastre humano já ocorrido no Brasil, o Corpo de Bombeiros de Minas promove um evento com palestras de técnicos japoneses, que dissertarão sobre como prevenir tragédias como a de Brumadinho e Mariana. As atividades de capacitação integram a semana do 7º Seminário Internacional de Gestão do Risco de Desastres. As palestras ocorrem na Cidade Administrativa, hoje, das 8h às 18h. De acordo com a corporação, o seminário tem como objetivo disseminar a cultura de gestão do risco de desastre para bombeiros militares, agentes de defesa civil, estudantes e profissionais do ramo, para capacitá-los a agir como multiplicadores do tema em suas regiões.