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Polícia entra na linha de produção da Backer: as próximas fases da investigação

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Delegado Flávio Grossi deixa área de produção depois de contornar impasse com representantes da cervejaria (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)


Com 49 dias de investigação sobre a contaminação de produtos da Cervejaria Backer, de Belo Horizonte, a Polícia Civil dá início a uma nova fase de perícia. A força-tarefa encarregada das apurações quer verificar se há vazamento nos equipamentos da fábrica. Para isso, foi esvaziado ontem um dos 70 tanques da fábrica, no Bairro Olhos D'Água, na Região Oeste de Belo Horizonte. O teste de estanqueidade dos tanques tem objetivo de verificar se há rachadura, furo, trinca ou porosidade na superfície. A suspeita é de que a presença de substâncias tóxicas na bebida esteja relacionada com a intoxicação de 34 pessoas, seis delas mortas.


 
Mas ontem policiais encontraram resistência da empresa, que inicialmente não concordou com o teste. A mudança de tom da Backer, que vinha colaborando com a investigação, ocorreu no mesmo dia em que o Estado de Minas revelou que a polícia investiga quem, dentro da fábrica, sabia da contaminação. E se alguém assumiu o risco. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Flávio Grossi, somente à tarde a perícia conseguiu dar início aos procedimentos no chamado Templo Cervejeiro da Backer.
 
“Inicialmente houve um desacordo quanto ao teste se estanqueidade dos tanques. Mas conseguimos acordar quanto ao método e começamos a primeira etapa desta perícia, que é a limpeza”, afirmou Grossi. Segundo o policial, a Backer havia resistido ao trabalho porque considerou que o método para esvaziamento poderia levar à contaminação de outros tanques.

A Backer conta com 70 tanques, mas, inicialmente, a perícia vai analisar somente um. A Polícia Civil está retirando a bebida do recipiente de número 10. “Estamos deslocando o líquido para outro tanque. Esse tanque principal (10) será periciado.


Começamos por ele, porque já há uma contaminação”, disse o delegado. O trabalho prosseguirá com a verificação de eventual vazamento. Caso seja constatado, haverá uma terceira etapa, para quantificar o tamanho do problema, que pode demorar 15 dias. 

Conflito de versões

Os testes estão sendo feitos pela Polícia Civil e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Técnicos da empresa fabricante dos tanques de inox também dão suporte às ações. Representantes da cervejaria acompanham os trabalhos, embora a empresa tenha divulgado nota no fim da tarde, informando que o teste de estanqueidade não seria realizado.
 
Logo depois, a assessoria da Polícia Civil rebateu a informação, reforçando que “os trabalhos estão acontecendo normalmente”. A nota da cervejaria menciona que após reunião da Backer entre polícia, Mapa e representantes da cervejaria “ficou definido que não serão realizados testes de estanqueidade no momento, devido à ausência de laudos quantitativos a respeito da concentração do dietilenoglicol”.



 
Segundo a empresa, foram coletadas amostras dos tanques 10 e 17 para a realização de novos testes. “O material foi transferido de um tanque para outro, com o objetivo de preservá-lo”, diz a nota. Em seguida, às 19h, a Polícia Civil divulgou comunicado detalhando que peritos e investigadores continuavam na Backer executando a primeira fase da perícia. “A segunda etapa está prevista para iniciar amanhã (sexta-feira), pela manhã. A partir das análises ocorridas Na segunda etapa é que será possível definir sobre a realização ou não da terceira fase”, informa.
 
O Mapa, que já constatou a presença das substâncias tóxicas monoetilenoglicol e dietilenoglicol em 53 lotes de cervejas da Backer, informou que equipe técnica esteve na fábrica com peritos da Polícia Civil, a fim de liberar os tanques lacrados para permitir a realização da perícia. A fábrica está interditada desde 10 de janeiro. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a venda de qualquer produto da marca com data de fabricação igual ou posterior a agosto de 2019.

CRONOGRAMA De acordo com o delegado Flávio Grossi, a limpeza do tanque é feita em um dia. A segunda etapa levará mais um dia. Uma vez vazio, a ideia é que o tanque funcione sem a bebida dentro. Esses tanques são circundados por uma serpentina, por onde corre o fluido anticongelante, o monoetilenoglicol ou o dietilenoglicol. Esse sistema permite o resfriamento da cerveja sem que a bebida congele.


 
Embora a Backer usasse o monoetilenoglicol em seu processo fabril, a investigação indica que o fornecedor desse anticongelante adulterava o produto com dietilenoglicol, também encontrado nas perícias anteriores feitas pela força-tarefa na fábrica. Ambas as substâncias são tóxicas e não poderiam ter contato com a cerveja.
 
Uma das linhas investigativas dos policiais se dedica agora a desvendar se alguém, dentro da empresa, sabia da contaminação, quem era e se assumiu os riscos, conforme revelaram os investigadores em entrevista exclusiva ao podcast O caso Backer, do jornal Estado de Minas. Pela primeira vez, a polícia listou “possibilidade dolosa de contaminação” entre as hipóteses investigadas. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Flávio Grossi, o uso intencional de dietilenoglicol pela empresa dentro da cerveja é “um ponto a ser desvendado”. O episódio com os bastidores da investigação policial foi publicado nessa quinta-feira.

Teste de vazamento


Conheça as fases do teste de estanqueidade, iniciado pela Polícia Civil na cervejaria Backer, que vai verificar se há algum vazamento nos equipamentos da empresa

» Primeira etapa
» Consiste no esvaziamento e limpeza de um dos tanques, com a transferência do líquido para outro. A programação da perícia era concluir esse trabalho até o fim da tarde de ontem
» A perícia escolheu fazer o esvaziamento do tanque 10, onde foi constatada contaminação

Por quê?
» A força-tarefa que investiga o caso encontrou as substâncias monoetilenoglicol e dietilenoglicol nas cervejas e em equipamentos da Backer.


» Ambos fluidos anticongelantes são tóxicos, usados na etapa de resfriamento da cerveja, e não podem ter contato direto com a bebida

» Segunda etapa
» Peritos vão ligar os equipamentos, sem a bebida no tanque. A intenção é verificar se há algum vazamento nas serpentinas que contêm o anticongelante

Por quê?
» Em volta dos tanques de inox há um serpentina por onde corre o fluido anticongelante que contaminou a bebida. A serpentina fica entre duas chapas de aço inox.

» Terceira etapa
» Caso seja encontrada alguma rachadura, furo, trinca no tanque, a perícia vai checar qual a quantidade de material vazado

Por quê?
» A hipótese de contaminação por vazamento é uma das consideradas pela polícia, que não descarta, no entanto, que a mistura tenha ocorrido intencionalmente