Depois de enfrentar o janeiro com mais precipitações em sua história, situação que resultou em 13 mortes e inúmeros danos pela cidade, a chuva em Belo Horizonte segue batendo marcas históricas. Mesmo antes de acabar, o atual mês de fevereiro já é o mais chuvoso dos últimos 41 anos na cidade. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a capital mineira já registrou 366,8 milímetros de precipitação, a oitava maior marca da história do município e a maior desde o mesmo mês de 1978, quando o Inmet registrou 487,3 milímetros de pluviosidade. E os números devem aumentar hoje, último dia do mês, quando começam a vigorar alertas de risco de tempestade para todo o estado, e também de risco geológico para a capital, emitidos por organismos de Defesa Civil local e nacional.
Minas Gerais começa o fim de semana também na rota de temporais, que tendem a atingir principalmente as porções leste e sudeste do estado. Ontem, órgãos do governo federal e órgãos de Defesa Civil do Sudeste se reuniram por videoconferência para traçar um planejamento diante da possibilidade de chuvas intensas nos quatro estados da região até quarta-feira. A ação integra um procedimento adotado pela Defesa Civil Nacional para alinhar estratégias e divulgar informações, previsões e alertas. A previsão dos órgãos aponta para a possibilidade de desastres naturais como enchentes, enxurradas, alagamentos e deslizamentos de terra. O detalhamento das áreas mais sujeitas a temporais será feito por atualização meteorológica sempre que necessário, segundo autoridades federais.
O alerta conjunto foi emitido pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), pelo Serviço Geológico Brasileiro, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e pelo Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad). Esse último órgão trabalha inclusive em “estágio de atenção”, devido à grande quantidade de chuvas que atinge o Sudeste do país. Com isso, o Cenad articula com o governo federal eventuais ações de preparação a possíveis ocorrências de desastres naturais.
Já a Defesa Civil de Belo Horizonte prevê pancadas de chuva com trovoadas ao menos até segunda-feira. A situação forçou o órgão a expedir um alerta de risco geológico para a capital. A ameaça de deslizamentos, já se tornou realidade durante o temporal entre a noite de quinta e a madrugada de sexta-feira. No Bairro Nova Cintra, na Região Oeste da cidade, uma casa foi danificada após ser atingida por um barranco, na madrugada de ontem.
O deslizamento deixou quatro feridos na Rua Carmo da Cachoeira, 290, onde um barranco desceu e levou parte de uma casa. Segundo o Corpo de Bombeiros, o imóvel fica próximo a uma linha férrea e o talude que escorregou cobriu as entradas. Os moradores conseguiram sair antes do desabamento. Duas pessoas foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levadas para o Hospital Odilon Behrens. As outras duas foram atendidas por bombeiros. Informações sobre o estado de saúde delas não foram divulgadas. Conforme os militares, a família deve ir para casa de parentes.
MUITA CHUVA
A média histórica prevista pelo Inmet para a capital em fevereiro é de 181,4 milímetros de chuvas. Ou seja, o volume de 366,8mm registrado até ontem já é mais que o dobro normalmente esperado para o mês. Ainda assim, BH não é a cidade que mais registrou precipitação no período em Minas Gerais. Segundo o instituto meteorológico, São João del-Rei, na Região Central do estado, é o município com maior índice pluviométrico: 583,6mm, taxa que quase triplica a média da cidade no período, que é de 201mm. A cidade histórica chegou inclusive a decretar situação de emergência, por causa dos danos provocados pelas precipitações neste ano.
Considerando o ano de 2020 como um todo, a cidade em que mais choveu em Minas Gerais foi justamente sua capital: 1.312,6 milímetros registrados na estação meteorológica de Cercadinho, localizada no Oeste de BH, justamente a que mais recebeu água em fevereiro. No extremo oposto está Almenara, no Vale do Jequitinhonha, onde o Inmet registrou apenas 112,4mm de chuva.
A chegada de mais chuva a Belo Horizonte aumenta o encharcamento do solo e potencializa o risco geológico na cidade. De acordo com a Defesa Civil de BH, o risco de quedas de muros, deslizamentos e desabamentos persiste ao menos até terça-feira. Por esse motivo, moradores devem redobrar a atenção com sinais de risco. Entre as recomendações estão a instalação de calhas, conserto de vazamentos, evitar jogar lixo sobre encostas e não despejar esgoto em barrancos. Além, é claro, de observar os sinais de movimentação de solo, como trincas em paredes e muros, fendas, poças d'água e rachaduras.
ZONA DA MATA
Alagamentos e enchentes já atingiram Muriaé, na Zona da Mata, agravando o quadro no município, já em situação de emergência por causa das chuvas. De acordo com o Corpo de Bombeiros da região, foram registrados aproximadamente 100 milímetros de precipitação no município ontem, o que causou danos em vários pontos da cidade. No fim de semana, mais temporais devem ocorrer na região, com pancadas de chuva principalmente no período da tarde.
De acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais e o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), o Rio Muriaé saiu da calha e deixou várias pessoas desalojadas. Houve deslizamento de barreira na estrada que liga o Centro da cidade ao distrito de Vermelho na noite de quinta-feira. Segundo os bombeiros, ainda existe risco de deslizamentos no local. Apesar dos danos, nenhuma pessoa está desaparecida ou ferida na cidade.
PREVISÃO DO TEMPO
O Inmet prevê mais chuva hoje em oito regiões do estado. Segundo o instituto, a pancadas de chuva com trovoadas devem ocorrer na Grande BH, no Vale do Rio Doce, no Triângulo Mineiro, no Alto Paranaíba e nas regiões Noroeste, Central, Centro-Oeste e Zona da Mata. Nas demais áreas, deve haver precipitação isolada. A temperatura máxima prevista para Minas é de 34°C e a mínima, de 13°C. A umidade relativa do ar deve variar entre 45% e 100%. Em Belo Horizonte, além das pancadas de chuva e dos trovões, o Inmet estima que os termômetros devem marcar entre 18°C e 25°C. Já a umidade relativa do ar terá mínima de 80% e máxima de 100%.
* Estagiária sob supervisão do editor Roney Garcia
AGUACEIRO
Os oito meses de fevereiro mais chuvosos da história de Belo Horizonte
1978 487,3mm
1916 469,3mm
1979 424,0mm
1926 419,5mm
1965 418,2mm
1929 392,7mm
1949 384,3mm
2020* 366,8mm
* Consolidado até 28/2