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Coronavírus

Risco de epidemia cruzada de coronavírus e dengue impõe pressão extra à saúde pública

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Larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue: velha conhecida dos brasileiros, a doença entra agora no período do ano de maior contágio (foto: Paulo filgueiras/em/d.a press - 23/5/17)

Se os efeitos do novo coronavírus (COVID-19) ainda são um mistério no país, a dengue, velha conhecida dos brasileiros, mostra sua força. Há mais notificações da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti no Brasil do que confirmações de casos do coronavírus no mundo. Para complicar, o microorganismo de DNA chinês, que desembarcou oficialmente em território nacional, chega exatamente no período reconhecido como o de maior contágio da dengue. Frente à ameaça das duas epidemias, infectologistas alertam sobre possível sobrecarga no sistema de saúde.



Já são 94.149 os casos prováveis de dengue no Brasil, conforme boletim do Ministério da Saúde de 29 de dezembro a 1º de fevereiro, ou seja, ainda sem incluir o último mês. O número é 7,5%  maior em relação ao contágio pelo novo coronavírus, que se alastrou na China justamente no fim de dezembro. Desde então, o COVID-19 fez 87.135 vítimas em 58 países, de acordo com levantamento de ontem Organização Mundial de Saúde (OMS). A organização elevou o risco de disseminação da doença de alto para muito alto. A maior parte dos casos, 79.968, concentra-se na China.


O sinal de alerta em relação ao coronavírus se acendeu no Brasil na quarta-feira, com a confirmação do primeiro caso da doença na América Latina: um homem, de 61 anos, que mora em São Paulo e viajou para a Itália. A partir daí, houve uma explosão nos casos notificados pelo Ministério da Saúde, que passaram de 132 para 252. No sábado, mais um caso foi confirmado em São Paulo, enquanto os Estados Unidos registravam a primeira morte pela virose nas Américas. Em Minas, são 17 os pacientes com a suspeita de contaminação pelo novo coronavírus. Outras três suspeitas foram descartadas.

O embaixador internacional da Sociedade Brasileira de Infectologia, o médico Carlos Starling, afirma que a tendência é a escalada dos casos. “O coronavírus está chegando agora e cada pessoa pode transmitir para outras duas ou três, num crescimento geométrico”, ressalta.



E, de acordo com o infectologista, isso vai ocorrer no período de maior incidência da dengue, entre março e maio, quando há mais infestação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da enfermidade. “Todo ano temos um aumento da dengue a partir de março. Vamos ter um problema agravando o outro, congestionando o sistema de saúde”, afirma Starling.



Para se ter uma ideia, no ano passado, somente em Minas Gerais, houve 480 mil casos suspeitos de dengue, sendo que mais de 70% se concentraram nos meses de março, abril e maio, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES). A expectativa dos infectologistas é que a transmissão da dengue seja menor em relação ao ano passado, já que a população está mais imunizada, mas o quadro exige cuidado redobrado, com a companhia desagradável do novo coronavírus. Até 17 de fevereiro, o estado registrava 13.178 casos prováveis da doença e 10 mortes eram investigadas, segundo a SES.

“Além das doenças crônicas, vem a dengue e, se não tiver um sistema muito fortalecido, vamos ter uma dificuldade enorme para conter essa epidemia nova”, reforça o professor de infectologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Unaí Tupinambás. “Não sabemos qual será o impacto do coronavírus na nossa realidade, por isso temos que ficar atentos. É um vírus novo para o ser humano, com o qual ainda não se havia tido contato”, completa.



Ele aponta que o combate ao coronavírus, junto com a dengue, demandará um Sistema Único de Saúde (SUS) forte. “O enfrentamento dessa epidemia passa pelo SUS, ameaçado pela redução de investimentos e do programa de saúde da família. Essas questões todas se somam à Emenda Constitucional 95, que estabeleceu o teto de gastos públicos”, critica.

Gravidade

(foto: Arte EM)
Ambas as doenças podem apresentar quadros bem graves, mas o coronavírus oferece maior risco à vida. Sem tratamento nem vacina, o COVID-19 matou, até o momento, 2.977 pessoas, apresentando uma letalidade de 3,4%, considerando casos em todo o mundo. Há, no Brasil, 14 mortes confirmadas pela dengue, e outras 62 em investigação, uma letalidade que nem chega a 0,1%. Idosos acima de 60 anos concentram metade dos óbitos.

Apesar de acometerem a população no mesmo período, a dengue e o coronavírus têm mecanismos completamente diferentes de contágio. A transmissão da dengue está relacionada à picada do mosquito Aedes aepypti, também responsável pela disseminação da chikungunya e do zika vírus, o coronavírus.



“É necessário eliminar os focos do mosquito e é importante o uso de repelentes”, destaca Starling. “A dengue hemorrágica é extremamente grave e muito debilitante. Pessoas de 9 a 45 anos que já tiveram dengue uma vez podem tomar a vacina para se proteger dessa forma mais grave da doença”, reforça.

Já o contágio pelo novo coronavírus ocorre pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, além do contato com objetos ou superfícies contaminadas. “A prevenção ocorre ao lavar as mãos, evitar grandes aglomerações, ter etiqueta ao tossir e manter uma vida saudável”, ressalta.

A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa, em nota, que mantém ações de combate ao Aedes aegypti e Vigilância Epidemiológica de doenças contagiosas, ao longo de todo ano. “Também conta com planos de contingência para ambas as doenças, que preveem a implantação de forma progressiva serviços complementares conforme demanda”, diz.