As históricas chuvas deste início de ano, que trouxeram danos e causaram mortes em Minas Gerais, principalmente na Zona da Mata e na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em outra ponta contribuíram para reduzir os efeitos da seca no estado. A precipitação de janeiro e fevereiro, muito além da média histórica, ajudou regiões como boa parte do Triângulo Mineiro e parte do Norte a registrar estágio moderado em lugar do tradicional quadro de seca grave. Os dados são do Monitor das Secas, elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em parceria com o governo do estado, comparando os levantamentos de dezembro e janeiro. Áreas onde a pluviosidade ficou mais concentrada não apresentam qualquer sinal de desequilíbrio.
Segundo indicou a ferramenta da ANA, em dezembro de 2019 somente três regiões mineiras não registravam aridez acentuada: parte do Sul do estado e pequenas parcelas do Triângulo e do Alto Paranaíba. Com as chuvas frequentes do início do ano – Belo Horizonte teve, por exemplo, o janeiro mais chuvoso de sua história e o maior índice pluviométrico de fevereiro em 40 anos –, já é possível detectar territórios sem seca nas mesmas regiões do último mês de 2019 e na Grande BH, Central, Mata, Vale do Rio Doce e Centro-Oeste.
Além disso, pontos historicamente afetados pela estiagem, como o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha, viram diversas de suas cidades passarem do quadro grave para o moderado. Ainda que a situação tenha melhorado, levantamento diário da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil mostra que Minas Gerais tem, atualmente, 66 municípios em situação de emergência por conta da falta de chuva, ainda que não haja localidades em calamidade pública.
O Monitor das Secas mede a estiagem em seis níveis, que variam desde a cor branca (sem seca relativa) até o vermelho-escuro (seca excepcional). Ele leva em consideração indicadores meteorológicos, hidrológicos e agrícolas para definir quais são os pontos que podem sofrer efeitos de curto e longo prazo em decorrência de períodos sem chuva ou com precipitação abaixo da média.
Em dezembro, a maior parte do estado enfrentava quadros severos ou moderados. Nesse primeiro estágio, segundo a Agência Nacional das Águas, há possibilidade de perda de vegetações ou pastagens e escassez e restrições de água. Já no segundo parâmetro, a situação melhora, mas os moradores podem conviver com níveis baixos de córregos, restrições voluntárias de água e pequenos danos em culturas.
Sem emergência
Não há, conforme o Monitor das Secas, cidades em situação excepcional de seca. Neste quadro mais grave, a agricultor vê toda a sua plantação ser perdida por causa da falta de chuvas, havendo quadros de emergência por escassez de água. No Brasil, atualmente, somente o Norte da Bahia e parte do Pernambuco enfrentam essa dificuldade.
Os contrastes entre o fim de 2019 e o início deste ano, trazidos pelo Monitor das Secas, são resultado da relação de Minas Gerais com as condições temporais nos últimos meses. Enquanto o início de 2020 é marcado pelas chuvas, o que forçou 243 municípios a decretarem situação de emergência, o segundo semestre do ano passado teve como principal característica as queimadas.
Foram quase 10 mil focos ativos detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, maior índice desde 2014 no estado – o que refletia os efeitos da estiagem.