“Só da luta brota a liberdade” é o lema que fez mulheres saírem cedo de casa na manhã deste domingo para se reunirem em defesa de seus direitos, no Dia Internacional da Mulher. Movimentos sociais, sindicais e estudantis se encontraram na Ocupação Pátria Livre, na Pedreira Prado Lopes, Região Noroeste de Belo Horizonte. Emblemático, o local foi erguido pelas integrantes da Frente Popular Brasil, coligação de diversas militâncias do País.
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A manifestação deste domingo também denuncia os governos de Romeu Zema e Jair Bolsonaro. As participantes resgataram os atos históricos do #EleNão e afirmam uma luta contra os ideiais da extrema direita. O movimento lembra que, antes do dia 15, quando devem ocorrer manifestações pró-Bolsonaro, as mulheres devem se recordar do dia 14, que marca os dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco (1979-2018).
"Somos mulheres pelo povo no poder. Contra tudo que nos violenta: a milícia, o patriarcado, o neoliberalismo!", ecoam líderes femininas de cima do trio.
"Somos mulheres pelo povo no poder. Contra tudo que nos violenta: a milícia, o patriarcado, o neoliberalismo!", ecoam líderes femininas de cima do trio.
Na Praça Raul Soares, a concentração une vozes a favor da legalização do aborto. "Cadê o homem que engravidou? Por que a culpa é da mulher que abortou?", gritam as manifestantes. Assassinada em 14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco também foi citada protesto. "Por Marielle peço justiça, eu não aceito presidente da milícia", cobram as militantes.
Mulheres unidas
Organizado pela Frente Brasil Popular, a comunhão de mulheres deste domingo foi inspirada no carnaval de rua de BH. As participantes saíram "em desfile", organizadas em "alas" semelhantes às carnavalescas.
"A gente marca essa data como um momento de grande resistência. Precisamos reafirmar nossas lutas e pautas de reivindicação. Estamos sofrendo ataque direto aos nossos direitos, por isso estamos aqui contra os desmandos desse governo", disse a secretária de mulheres do PT, Andrea Cangussu, de 36 anos, integrante da ala "Silenciadas nunca mais", que enfrenta a violência contra a mulher.
O grupo de bordadeiras "Pontos de Luta" colore em tecido a manifestação. O coletivo é formado por cerca de 40 mulheres que produzem artesanato. "Esse é um processo democrático, sabemos que só na luta vamos impedir o retrocesso em direitos", afirma Delze dos Santos, de 59, que se define como "bordadeira, professora, mãe, avó, tia, amiga e muito mais".
A certeza do feminismo não cabe no tamanho da estudante Helena Maués, de 15. Inspirada em Manuela D’Ávila, a adolescente conta o que já aprendeu sobre o movimento. “Já consegui entender os tipos de feminismo. Hoje me identifico com o feminismo cultural. São formas diferentes de lutar pela mesma causa”, afirmou segurando seu cartaz que celebra direitos já conquistados e almeja novas conquistas.
Crimes contra mulheres
Para Dalcira Ferrão, psicóloga que também é Conselheira Federal de Psicologia, 8 de março não é data para comemorar, e sim para reivindicar. “A quantidade de mulheres que são assassinadas por feminicídio, o assédio e outros abusos sexuais estão crescentes, principalmente das mulheres negras. Minas Gerais tem sido o estado que tem ocupado o ranking da violência e massacre das mulheres”, lembra.
E tem razão. Minas lidera matança de mulheres. No estado, 156 morreram nesse tipo de crime em 2018, seis a mais que em 2017 – o maior número absoluto do Brasil entre todas as 27 unidades federativas. No primeiro semestre de 2019 ocorreram 64 feminicídios no estado e outras 104 tentativas. Os dados são os números mais recentes da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Caracteriza-se como feminicídio o assassinato de pessoas do sexo feminino, pelo menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou por violência doméstica. Outros assassinatos de mulheres, provocados por latrocínio, por exemplo, não entram na conta.
8 de março
As mulheres carregam mais de um século de garra e história feminista empregada em 8 de março, data que só foi oficialmente criada pela Organização das Nações Unidas em 1977. No entanto, movimentos femininos já usavam a data desde o início do século 20 após uma tragédia que revelou assustadoras condições de trabalho que mulheres eram submetidas. Foi em 1911, quando 130 mulheres morreram em um incêndio na fábrica de roupas Triangle Shirtwaist, em Nova York.