A angústia vivida pelos belo-horizontinos neste início do ano passa por uma junção que, historicamente, sempre tirou vidas e causou prejuízos na capital mineira: a falta de estrutura somada às fortes chuvas. Diante do problema que já se tornou recorrente, o poder público sempre coloca nas obras a solução das cheias que cercam todas as regionais da cidade. Em um mundo cada vez mais aberto às inovações, os telhados verdes aparecem como alternativa para drenar a água da chuva.
A tecnologia é adotada em dezenas de imóveis de BH e funciona como desafogo para a rede pública: o sistema capta a precipitação a partir de drenos e o líquido fica armazenado em tanques, que são usados na irrigação da grama que é plantada em cima. A ideia vai exatamente na mesma mão do que é defendido pelo novo Plano Diretor da cidade, que incentiva a criação e manutenção de áreas verdes.
A tecnologia é adotada em dezenas de imóveis de BH e funciona como desafogo para a rede pública: o sistema capta a precipitação a partir de drenos e o líquido fica armazenado em tanques, que são usados na irrigação da grama que é plantada em cima. A ideia vai exatamente na mesma mão do que é defendido pelo novo Plano Diretor da cidade, que incentiva a criação e manutenção de áreas verdes.
João Manoel Feijó, engenheiro agrônomo que pesquisa e desenvolve produtos para drenagem urbana, estuda os telhados verdes e outras medidas semelhantes há mais de uma década. Segundo ele, existe um senso comum nas prefeituras que sempre colocam as obras públicas como única solução para as enchentes, quando tecnologias inovadoras podem contribuir para reduzir os danos.
“Esse tipo de urbanização (obras de grande porte), geralmente, diminuem os terrenos e áreas permeáveis, ou seja, tudo fica impermeável. Isso tudo aumenta a quantidade de água que vai para os bueiros”, afirma o especialista, que presta serviços para a empresa Ecotelhado.
“Esse tipo de urbanização (obras de grande porte), geralmente, diminuem os terrenos e áreas permeáveis, ou seja, tudo fica impermeável. Isso tudo aumenta a quantidade de água que vai para os bueiros”, afirma o especialista, que presta serviços para a empresa Ecotelhado.
Segundo ele, os telhados verdes podem conter até 200 litros por metro quadrado. Além dos benefícios na drenagem da água da chuva, o equipamento contribui, de acordo com Feijó, para a redução no consumo de energia elétrica queimada pelo ar-condicionado, sempre vilão na conta de luz.
“Ao evaporar essa água, a vegetação plantada sobre os reservatórios consome o próprio calor, como se fosse um ar-condicionado, como a natureza faz mesmo. O que fazemos é renaturalizar a cidade. Os benefícios são muitos, além da drenagem urbana, combatemos o calor que tanto incomoda as pessoas”, explica. Outras vantagens apontadas pelo engenheiro agrônomo é o fato dos jardins embelezarem os ambientes corporativos e as residências que adotam a medida.
“Ao evaporar essa água, a vegetação plantada sobre os reservatórios consome o próprio calor, como se fosse um ar-condicionado, como a natureza faz mesmo. O que fazemos é renaturalizar a cidade. Os benefícios são muitos, além da drenagem urbana, combatemos o calor que tanto incomoda as pessoas”, explica. Outras vantagens apontadas pelo engenheiro agrônomo é o fato dos jardins embelezarem os ambientes corporativos e as residências que adotam a medida.
BH colocou em vigor seu novo Plano Diretor, depois de cinco anos de debates. O que é defendido no texto aprovado pela prefeitura segue exatamente o que é trazido pelos telhados verdes. A promessa principal da nova legislação é adequar a capital aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). O documento traz como uma das principais novidades a criação de cerca de 950 quilômetros de arborização e eleva em 40 quilômetros quadrados a quantidade de áreas verdes, aquelas que não se pode construir, um aumento de 12% no total.
Na Região Oeste de Belo Horizonte, o prédio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), localizado na Avenida Barão Homem de Melo, no Bairro Nova Granada, adotou a tecnologia em 2015. “Essa ideia surgiu durante a elaboração do projeto do prédio. Antes de acordar com a prefeitura o início da obra, a gente cumpriu algumas condicionantes e trouxe esse planejamento”, ressalta Mário Henrique de Oliveira, de 40 anos, analista do Sebrae, onde os jardins ultrapassam 900 metros quadrados e estão instalados entre os dois prédios da entidade.
Medidas e desafios
Quem nunca, ao andar pela cidade, se deparou com os muros vegetados, que são cercados de fora a fora por trepadeiras. Apesar de adotada muitas vezes pelo ponto de vista paisagístico, esse tipo de construção ajuda a reter muito mais água que os muros de concreto. É só um exemplo das inúmeras alternativas que podem ser adotadas pelo cidadão para que cidades como BH fiquem menos marcadas pelas enchentes.
“Esse tipo de tecnologia vem crescendo e incorporando funções. A primeira vez que se ouviu falar sobre isso, aquilo foi visto como curiosidade. Há 15 anos, tudo isso começou a ser usado em obras, como construção sustentável. Mas, não se discutia outras vantagens que esses equipamentos tinham. Nosso estudo é voltado à criação de sistemas tecnológicos para implantar vegetação em prédios por exemplo. Tudo é um pensamento novo”, ressalta o engenheiro agrônomo João Manoel Feijó.
"Esse tipo de tecnologia vem crescendo e incorporando funções. A primeira vez que se ouviu falar sobre isso, aquilo foi visto como curiosidade"
João Manoel Feijó, engenheiro agrônomo e pesquisador de drenagem urbana
Entre as medidas relatadas por ele à reportagem estão os pisos permeáveis. Tratam-se de pequenas peças de plástico reciclado que são colocadas no chão, como se fosse um piso. Os fluidos penetram facilmente por entre elas. As pecinhas podem, até mesmo, ser cercadas por gramíneas para dar ao ambiente uma aparência mais favorável.
O tratamento de esgoto para reuso também é uma opção sustentável e que ajuda na drenagem de água, principalmente em edificações ocupadas por um grande número de pessoas. No dia a dia, a água que despejamos na rede pluvial tem duas classificações: os fluidos cinza e negros. A primeira subdivisão diz respeito às águas usadas, por exemplo, na limpeza de vasilhas e na máquina de lavar. Já a segunda é o líquido dos vasos sanitários, que depende de maior tratamento para ser reutilizado.
Filtro biológico
É nesse momento que entra para o debate o “vermifiltro”. O equipamento é constituído de uma única câmara, que varia de tamanho de acordo com o projeto e o volume de efluente a ser tratado. Nela, entram tanto a água negra quanto a cinza. Canos levam os fluidos até o filtro, onde o processo de tratamento de afluentes sanitários alia a degradação bacteriana com a vermicompostagem (uso de minhocas para tratar resíduos orgânicos), resultando em um filtro biológico de elevada eficiência para a remoção de poluentes do esgoto.A adoção de reservatórios para acumular água da chuva é mais uma das alternativas. Um exemplo é o prédio do Sebrae localizado em BH, que além do telhado verde promove medidas que ajudam na drenagem de fluidos. Segundo o analista Mário Henrique de Oliveira, há uma caixa que abriga até 10 mil litros de água da chuva para irrigar os demais jardins espalhados pela estrutura.
Quando esse compartimento de 10 mil litros se enche, o líquido vai para outra pequena caixa, que retém a água da chuva e a solta em uma intensidade menor, ou seja, minimiza as enxurradas que alagam a Avenida Barão Homem de Melo naquela altura. “Na própria porta do Sebrae tem um ponto de inundação, pois a rua está num ponto baixo aqui. Então, toda essa estrutura de retenção de água ajuda não só o meio ambiente, mas também a infraestrutura da cidade”, destaca o analista.