O labirinto de vias de desenhos provisórios com balizas, cavaletes, placas e cones direcionando os veículos por uma sucessão de pavimentos diferentes, do asfalto antigo ao concreto recém-construído, tornaram ainda mais perigoso o tráfego pela Rodovia da Morte. Nessa mistura de maquinário de construção, operários e trânsito intenso, a atenção e o respeito à sinalização não têm bastado para garantir a segurança no segmento de 100 quilômetros entre Belo Horizonte e João Monlevade, como mostra a reportagem do Estado de Minas, que percorreu o trajeto ao lado do especialista em transporte e trânsito Antônio Prata.
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Essa confusão observada pelo professor do Cefet se traduz em vários acidentes. Na quinta-feira (5), uma carreta que usava a pista única na altura do KM 438, em Bom Jesus do Amparo, acabou por fechar a passagem do caminhão carregado de recicláveis conduzido Frederico de Oliveira, de 30 anos.
“Está muita confusão nessa estrada e junta isso com a imprudência, a gente sofre ainda mais. Fluxo muito lento, muitas placas enganadas jogando a gente para a contramão. Já tem mais de seis anos que essa estrada ficou ainda mais perigosa por causa das obras. Quando duplicar, muitas vidas serão salvas, mas o preço ainda estamos pagando”, afirmou o caminhoneiro, que viajava de Itaguara para Contagem, na Grande BH.
No KM 409, em Nova União, a sinalização engana os motoristas. Uma placa alertando para ficar à direita foi esquecida num trecho de pista simples e sem acostamento, enquanto que no sentido oposto, a falta de uma placa com esse alerta deixa para o julgamento próprio do motorista ver que a pista de repente vai para a direita e que a direção que essa pessoa segue se torna contramão. Nesse trecho, essa placa está contribuindo para provocar acidentes, porque manda entrar para a direita, mas não há essa opção, enquanto que o lado oposto necessitaria urgente de uma indicação como essa”, aponta o professor.
Mais adiante, no KM 400, em Bom Jesus do Amparo uma sequência de curvas fechadas em terreno com obras intensas tem apenas balizadores (pequenos postes de plástico branco) para demarcar a pista e a separar do canteiro de obras. “Isso a gente vê em vários pontos da BR-381 com as obras. Uma sinalização muito deficitária que poderia e deveria ser complementada”, observa o especialista em transportes e trânsito.
Um dos pontos mais confusos é o trevo de Itabira, na altura do KM 400. Uma rotatória provisória foi formada com segmentos de muretas, cavaletes e balizadores, permitindo até cinco movimentos para quem segue nos dois sentidos da via, deseja ir a Itabira ou vem de lá para um dos dois sentidos. “Era prioritário que se terminasse o trevo novo de Itabira, para que esse que é provisório fosse desativado. É muito pequeno, tinha de ser pelo menos alargado, pois quem entra para Itabira acaba fechando a pista normal, levando muitas pessoas a desviar e outras a parar”, afirma Prata.
Imprudência na BR-381
A falta de fiscalização não permite apenas que motoristas imprudentes façam ultrapassagens em pontos proibidos e ajam com irresponsabilidade em trechos perigosos. Muitos se aproveitam de longos segmentos praticamente terminados, mas ainda não abertos para o tráfego e fazem desses pontos atalhos, apesar de placas indicarem que isso é proibido e sujeito a multa. “São segmentos que ainda não estão prontos e que quem ingressa neles pode encontrar um outro carro vindo em sentido oposto, uma máquina trabalhando, um operário que não espera tráfego ali, sem falar que podem haver interrupções, buracos e obstáculos, pois, mais uma vez, a via não está pronta”, frisa o professor Antônio Prata.As obras de construção dos lotes 3.1 e 7 da BR-381 estão dentro do cronograma físico-financeiro de execução, de acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit). A previsão de conclusão dos dois trechos com cerca de 60 quilômetros é o final de 2020, afirma o departamento. “Até o momento foram investidos cerca de R$ 350 milhões no lote 3.1, e R$ 565 milhões no lote 7”, afirma o Dnit. Os demais nove lotes foram abandonados ao longo dos anos e precisariam ser reativados para que a rodovia seja realmente duplicada.
“Se apenas alguns trechos forem duplicados, corremos o risco de em vez de oferecer uma estrada mais segura por ser duplicada, ofertarmos um trecho de imprudência e de alta velocidade”, alerta o engenheiro Antônio Prata, que pertencia ao departamento de Engenharia de Transportes do Cefet e é doutor em engenharia com tese em mobilidade urbana.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) reconhece que o trecho em obras traz ainda mais dificuldades e por isso inspira cuidados dos condutores. “Quando transitar por um trecho em obras os motoristas devem redobrar a atenção, diminuir a velocidade e respeitar a sinalização”, recomenda o porta-voz da PRF, inspetor Aristides Amaral Júnior.