Minas Gerais e em especial Belo Horizonte estão a cinco dias da época do ano mais crítica para a disseminação de doenças como a causada pelo novo coronavírus, identificada internacionalmente pela sigla COVID-19. Apenas na capital, as internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por doenças respiratórias infecciosas provocadas por vírus com características similares chegou a ser 130% maior na média dos últimos cinco outonos – estação que começa na sexta-feira – do que nos cinco verões passados (veja tabela).
No estado, também ocorre um salto de 97% na média das hospitalizações, levando-se em conta o mesmo período. Segundo avaliação do presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva, não se sabe ao certo qual grau de contaminação enfrentaremos, mas é certo que os números “crescerão de forma exponencial”, ou seja, tendem a ter uma rápida e progressiva elevação. O que torna mais importante que nunca medidas de autoproteção e prevenção em todos os ambientes (leia mais na página 14). “O problema não é o frio, mas pela ventilação contida em locais mais fechados. As pessoas se aglomeram onde o ar circula pouco e isso facilita muito a dispersão do vírus”, explica o infectologista.
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O período do outono que se aproxima (20 de março a 19 de junho) nos últimos cinco anos tem levado mais pessoas à internação do que o inverno (20 de junho a 21 de setembro), tanto em Minas Gerais quanto em Belo Horizonte. Para se ter uma ideia, a média de internados nos últimos cinco invernos em BH foi de 573 pacientes, volume 74% maior que os 330 do verão na capital. No estado, a média é de 1.903 pacientes nos verões, contra 3.235 (%2b70%) nos invernos. Esse volume sobe no outono para 763 ( 130%) em BH e vai a 3.758 ( 97%) em Minas.
Os dados compilados junto ao Ministério da Saúde pela equipe de reportagem do Estado de Minas são referentes, segundo orientação da Sociedade Mineira de Infectologia, a doenças infecciosas do sistema respiratório, de propagação predominantemente viral, como a influenza (gripe) e os resfriados, que em suas formas mais graves levam centenas de pessoas à internação todos os meses. “O novo coronavírus se comporta de forma semelhante ao vírus da influenza (gripe), aos rinovírus (resfriados) e metapneumovírus, com taxa de contágio de dois a quatro em cada 100 que têm contato”, compara o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
Lugares a se evitar
Estações de metrô, de ônibus, repartições públicas, centros comerciais, agências bancárias e de serviços que costumeiramente agregam muitas pessoas tendem a se tornar locais a serem evitados quando possível, especialmente nessas estações mais críticas, pois a proximidade é um fator de risco mais importante que a proteção das vias aéreas. “Nem sempre usar máscaras pode ser uma solução. Isso é uma medida para quem lida diretamente com pacientes. Uma máscara utilizada a esmo pode se tornar uma fonte de contaminação, mantendo não apenas o novo vírus como vários outros retidos e próximos da pessoa. O melhor é ter hábitos de saúde como higienizar as mãos e evitar ir a lugares de grandes concentrações. Doentes com sintomas, principalmente, não devem frequentar ambientes de aglomeração”, afirma Estevão Urbano.
Seguindo essa lógica, os maiores aglomerados urbanos, como a Grande BH, com mais de 5,5 milhões de habitantes, são locais onde há de se ter maior atenção quanto à possibilidade de contágio. Por outro lado, são também as áreas que contam com rede de saúde mais bem estruturada. “Estamos no início dessa doença em Minas Gerais e não temos ainda nenhum caso de infecção local, são todos vindos de fora. Não se sabe exatamente o que vai chegar. O desafio diz respeito aos casos graves, que podem afetar idosos e pessoas debilitadas, de baixa imunidade. Esses vão demandar quartos de isolamento e leitos de CTI, mas não sabemos ainda mensurar em que volume. Os hospitais estão treinando recursos humanos, preparando suas instalações, o estado está com seus planos de contingência. A impressão que fica é de que, no pior cenário, não apenas o Brasil, como nenhum país tem condições de enfrentar. Basta ver o volume de recursos de que a China precisou dispor”, afirma.