A militar Vânia Lúcia Teixeira, de 66 anos, sabe se proteger. E não se descuida. Desde o início da propagação do novo coronavírus mundo afora, ela tem estado atenta às informações e determinação das autoridades epidemiológicas e, nos últimos dias, anda mais precavida até porque está um pouco gripada. Dessa forma, explica, tem circulado com máscara cirúrgica em todos os seus compromissos e atividades de costume, incluindo a missa dominical na Igreja São José, no Centro de Belo Horizonte. Na missa das 10h de ontem, ela só tirou a proteção na hora da comunhão.
Moradora do Centro da cidade e militar reformada da Aeronáutica, Vânia Lúcia se diz preocupada com a situação. “No ônibus ou na igreja, fico de máscara”, afirmou. Ela considerou positiva a determinação da congregação dos padres redentoristas, conforme divulgado, ontem, pelo Estado de Minas, de cancelar a festa em honra ao padroeiro que seria realizada na próxima quinta-feira – e, desta vez, para comemorar os 120 anos da Paróquia de São José. “É uma forma de evitar a contaminação”, disse a militar, sobre a celebração religiosa que reúne, tradicionalmente, cerca de 50 mil fiéis. Abrindo a bolsa, ela mostrou mais um cuidado: o vidrinho com álcool gel.
Na manhã de ontem, nas missas, os padres orientaram os devotos de São José sobre as modificações. Segundo o vigário paroquial, padre Flávio Campos, a igreja ficará fechada na quinta-feira, mas a imagem de São José estará exposta na frente do templo. Todas as missas neste dia foram canceladas e, para evitar aglomeração, apenas uma será celebrada, a portas fechadas, às 19h, com transmissão pela TV Horizonte (Rede Catedral de Comunicação Católica). “As intenções solicitadas pelos fiéis serão mantidas, e vamos pedir pela saúde de todos os brasileiros”, disse padre Flávio. Ele adiantou que as confissões foram suspensas, embora mantidas as missas durante a semana.
Queda
“Já sentimos queda na presença dos fiéis, especialmente na missa das 7h, que reúne o maior número de idosos”, explicou o religioso. “Mandamos instalar sete recipientes com álcool gel nas entradas e deixamos de distribuir os folhetos durante as missas. Basta ver que o movimento caiu olhando o adro, sempre cheio nesta hora do dia (entre 10h e 11h). O pessoal vai à feira de artesanato, na Avenida Afonso Pena, e passa aqui. Hoje, está vazio”, avaliou. Também as barraquinhas instaladas no adro, do lado da Rua dos Tamoios, para receber os visitantes durante os festejos em louvor a São José estavam vazias. “Amanhã (hoje), vamos decidir se elas vão continuar funcionando.”
Em BH para consulta oftalmológica, o morador de Jequitinhonha, no Vale do Jequitinhonha, Darcy Duarte, de 73, não deixou de ir à missa das 10h, na companhia da mulher Eli Noronha Duarte, de 72. Casados há 52 anos, eles se surpreenderam com o cancelamento da festa de São José. “Vamos ficar em Belo Horizonte mais uns dias. Estamos atentos às orientações, mas, na nossa terra, não há tanta preocupação”, explicou Darcy.
Venda
Se muitos moradores se queixam da falta de máscaras protetoras, nas farmácias, contra a disseminação do novo coronavírus, ou dos preços abusivos praticados pelos comerciantes, ambulantes aproveitam a brecha para vender o produto na porta de hospitais. Ontem, na frente da Santa Casa, na região hospitalar de BH, o ambulante Carlos André oferecia a unidade ao preço de R$ 15, garantindo que estavam de acordo, pela “dupla proteção”, às normas do Ministério da Saúde. Ao lado de uma amiga que já estava com a máscara do tipo cirúrgico, a moradora de Peçanha, no Vale do Rio Doce, Marilene Mourão Aguiar, comprou duas do modelo PFF-2.
“Sou acompanhante de uma pessoa aqui, na Santa Casa, desde fevereiro. Como estão falando para a gente se proteger, faço minha parte”, contou Marilene, que, na falta de “intimidade” com máscara, se enrolou um pouco, mas depois adequou o acessório ao rosto.