Poços perfurados em série e filtros capazes de reter até metais pesados dissolvidos na água poderão devolver a independência de abastecimento a 10 mil ribeirinhos atingidos na Bacia do Rio Paraopeba e que captavam do curso d'água. A contaminação do manancial interrompeu o abastecimento de comunidades e produtores que mesmo furando poços não encontravam água viável para consumo próprio, animal e para utilização em suas lavouras. Uma das principais reclamações dessas comunidades é a falta de autonomia pela dependência de um fornecimento regular de água pela mineradora Vale, que operava a Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, e que se rompeu no dia 25 de janeiro de 2019.
A ruptura do reservatório de rejeitos de mineração lançou mais de 5 milhões de metros cúbicos (m3) de rejeitos de minério de ferro no Rio Paraopeba. Outros 7 milhões de m3 ficaram acumulados ao longo do Ribeirão Ferro-Carvão, abaixo do barramento. Assim que liberados pelas equipes de resgate do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), esses resíduos e outros depositados nos primeiros 2 quilômetros afetados do Rio Paraopeba estão sendo dragados e removidos para a cava da Mina do Feijão, dentro do complexo minerário, como antecipou a reportagem do Estado de Minas. As buscas por 11 desaparecidos, dos 270 mortos pela devastação, completam nesta terça-feira 418 dias, com a implantação de 50 bombeiros militares.
De acordo com a Vale, a partir deste mês estão sendo implantados 370 poços e filtros especiais ao longo do manancial, como uma forma de solução que será definitiva. Até setembro, a mineradora instalará 250 filtros de alta performance para tratar a água de poços subterrâneos que atendem a 10 mil pessoas nessas comunidades ribeirinhas. Desse total, 97 filtros serão instalados ainda este mês.
A empresa construirá outros 120 poços exclusivos para 70 produtores rurais que captavam a água do rio para irrigação e consumo animal e estavam prejudicados pela interrupção na captação determinada pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). A previsão é que as construções estejam concluídas até o final do ano.
Os filtros especiais utilizam uma tecnologia de membranas e estágios que removem resíduos sólidos e até mesmo contaminantes como metais, que quando dissolvidos tornam a água imprópria para o consumo humano, conforme os critérios do Ministério da Saúde. Após a instalação, a Vale será responsável pelo monitoramento da qualidade da água e pelo funcionamento e limpeza dos equipamentos.
Desde a suspensão da captação de água do Rio Paraopeba, em janeiro de 2019, a Vale fornece o abastecimento emergencial com entrega de fardos de água mineral e distribuição por caminhões-pipa, que coletam água nas estações de tratamento da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). Até o momento, mais de 700 milhões de litros de água foram distribuídos. O objetivo é assistir toda população que captava água diretamente no rio, além de usuários de poços artesianos que residem em até 100 metros das margens.
“Além de disponibilizar água para irrigação e consumo animal, a empresa assegurou condições saudáveis para alimentação animal”, informa a mineradora. Foram fornecidas mais de 17 mil toneladas de ração para animais que utilizavam as margens do rio como área de pastagem. “A empresa também instalou 350 mil metros de cercamento e proveu 550 bebedouros para prevenir o contato dos animais com o rio”.