Jornal Estado de Minas

Coronavírus: Maitê Proença faz vídeo ensinando 'receita' de álcool em gel e especialistas criticam

A população está apostando alto para se ver livre do novo coronavírus. E, com a falta do álcool em gel e máscaras nos marcado e farmácias, começaram a surgir receitas caseiras - que não dão o resultado esperado e, ainda, podem se prejudiciais. Nesta terça-feira, a atriz Maitê Proença postou em seu Instagram um vídeo em que ensina a fazer um suposto um álcool em gel caseiro. O Estado de Minas ouviu dois especialistas para tirar dúvidas sobre o tema. 


"Esse não é o da rua, do camelô, que não se sabe como foi feito. Esse será feito por você, usado vasilhas limpas e os melhores ingredientes que você tiver à mão. E, por favor, leia bem as observações que seguem a receita.", escreveu Maite. Os ingredientes usados são: uma porção gel transparente de cabelo e  quatro a seis porções álcool.   Em apenas duas horas, o vídeo tinha 25,1 mi visualizações. E aí? Dá certo?

O professor titular da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Gerson Pianetti, é enfático na resposta: não funciona e não é recomendado repetir a fórmula indicada pela atriz. "O álcool em gel se tornou a estrela da temporada, mas acontece o seguinte: o vírus tem uma capa de gordura. E, para matá-lo, é necessário 'furar' essa capa de gordura. Quando você usa lava as mãos com o sabonete liquido, com o sabonete em em barra e até com shampoo, o vírus é eliminado. O mesmo funciona com o álcool em gel", disse o professor. 

 

O especialista explica que o álcool em gel é manipulado em um espaço isento de contaminação e que nenhuma receita caseira deve ser reproduzida.  "É completamente irresponsável publicar esse tipo de vídeo. Imagine se todo esse material de cozinha dela estiver contaminado? Ela não tem nenhuma tecnologia ou lugar adequado para isso", enfatizou o professor.

O professor Márcio de Matos Coelho, que também trabalha na faculdade de farmácia da UFMG, explica que agências regulatórias não trazem orientações e não recomendam que a população faça o produto em casa. "As substâncias gelificantes geralmente só são encontradas em distribuidoras de produtos químicos e não no mercado tradicional. O preparo do álcool gel deve ser feito de forma correta para que a atividade antimicrobiana aconteça", disse. 




"Na internet, há várias 'receitas' indicando diferentes formas de preparo de álcool gel. Em uma farmacopeia (documento oficial que traz orientações corretas sobre o preparo do álcool gel), há recomendação para que seja feito o ajuste de pH ao final do processo, um procedimento que é improvável de ser feito em casa", confirmou Márcio.

Também viralizou nas redes sociais uma receita usada com gelatina transparente. Gerson é afirma: "A gelatina é apenas uma das maiores fontes de contaminação. Além do mais, o álcool é inflamável. A pessoa pode causar um grande acidente."

E receitas usando vinagre de álcool e vinagre de maçã? Gargarejos com chá de erva cidreira? Limão com vinagre e bicarbonato para lavar as mãos? Nada disso é recomendado pelo especialista.

"Não temos nenhuma comprovação cientifica. O vírus é novo,  não se sabe se pode causar algum problema. Vale seguir as informações recomendadas pelo Ministério da Saúde.  Além do mais, fique atento: muito desses produtos podem causar uma grave irritação na pele", disse o professor.

E, caso acabe o álcool em gel, lave com sabão em barra, sabão líquido ou shampoo. "O resultado é exatamente o mesmo."