Jornal Estado de Minas

Idosos e transplantados ficam expostos ao coronavírus na Farmácia Minas em BH

 

 

As orientações do Ministério da Saúde são claras: as pessoas do grupo de risco devem ficar em casa para evitar uma contaminação com o coronavírus. Idosos, portadores de doenças crônicas ou pacientes com baixa imunidade fazem parte do grupo em que há maior potencial de letalidade. No entanto, apesar de todos esses riscos e da recomendação expressa de isolamento social, centenas de pessoas desse grupo enfrentaram uma fila para retirar medicamentos na Farmácia Minas Regional Belo Horizonte. A partir da portaria na Avenida do Contorno, a fila dobrava o quarteirão e se estendia para a Rua André Cavalcanti, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul, num cenário considera de alto risco por infectologista. A Secretaria de Estado de Saúde informa que alterou a rotina para evitar aglomerações dentro do prédio e que pessoas de grupos de riscos podem ser representadas por outras na retirada dos remédios (leia mais abaixo).´





 

Na farmácia, é feita a dispensação de medicamentos para pessoas transplantadas, asmáticos, que fazem hemodiálise, entre outros quadros clínicos. A razão de estarem ali é um contrassenso: precisam receber medicamentos controlados fundamentais para a saúde. Mas, ao fazer isso, ficaram expostos à maior preocupação da saúde pública mundial, a pandemia do coronavírus. "As autoridades tinham que tomar alguma providência. Esse problema na área da saúde?", afirmou a Eliáurea Martins, de 52 anos, que enfrentou a fila para buscar medicamento para a mãe, Íris Divina, de 80, que trata de uma doença reumatológica.

 

(foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
 

 

As pessoas entravam em grupos de 20 no interior da Farmácia de Minas. No entanto, lá dentro, em ambiente fechado, havia um número considerável de pessoas, com o agravante de serem a maioria de grupo de risco. Muitos idosos usavam máscaras, mas, para esperar o momento de serem atendidos, tinham que ficar nas filas sem que fosse mantida a distância de dois metros entre eles, recomendação para evitar o contágio com o novo vírus. Lado a lado, esperavam até duas horas para serem atendidos. Do lado de fora, com o sol a pino, as sombrinhas protegiam contra o calor, mas não contra o novo vírus que circula em Belo Horizonte. 

 

Helmar Lobo Aranha, de 77, ficou preocupado com o tamanho da fila e o tempo de espera. Além da idade, que o coloca no grupo de risco, ele faz hemodiálise há 6 anos e 9 meses. "Sou frágil. Não tem condição essa fila. Há tanta gente que usa remédio. Tinham que ter marcado horário para não ter essa fila", queixou-se. Para se proteger, ele usava uma máscara.





Transplantada de rins, Cleuza de Fátima, de 51, cansou de esperar e sentou-se no meio-fio até ser atendida. "Cheguei há 20 minutos, no fim da manhã, mas acho que só saio daqui à tarde. A fila está dobrando a rua", afirmou. Ela sugeriu às autoridades que pessoas como ela pudessem receber o medicamento sem correr risco de se contaminar com a COVID-19, a doença provocada pelo micro-organismo. "Melhor seria que as pessoas recebessem em casa."

 

Já esperando havia uma hora e meia, José Antônio da Silva, de 68, procurou uma sombra no pé de uma árvore. "De outras vezes que vim buscar o remédio foi mais rápido", afirmou. Wilma Amaral, de 59, foi até o local para pegar o medicamento para a irmã Soraia Amaral, de 49, que é transplantada. A rede Farmácia Minas teve início em 2008, com previsão de serem instaladas em 67 municípios de até 10 mil habitantes. As unidades têm como objetivo dispensar medicamentos para a atenção primária. Esses espaços também fazem a dispensação de medicamentos de alto custo.

 

Logística

 

Transplantada de rins, Cleuza de Fátima, de 51 anos, cansou de esperar e sentou-se no meio-fio até ser atendida (foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
 

 

"O risco é grande, porque tem aglomerações. O ideal é ter uma forma de evitar filas", afirma o infectologista Estêvão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia. Ele sugere que o melhor seria que o Estado possibilitasse uma logística para que essas pessoas pudessem receber os medicamentos em casa.





Também infectologista, André Fernando considerou “gravíssimo” o cenário flagrado pelo Estado de Minas. “A recomendação é de não deixar mais de 10 pessoas no mesmo ambiente e manter uma distância de pelo menos, dois metros entre elas”, explica.

 

Mudança

 

(foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
 

 

Consultada pelo Estado de Minas, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou, por meio de nota, que para evitar aglomerações no interior da farmácia, o protocolo de controle de entrada foi alterado. De acordo com a pasta estadual, está sendo permitida a entrada dos pacientes de acordo com a capacidade dos guichês e fluxo dos atendimentos.

“A SES-MG também está orientando que compareçam à Farmácia de Minas somente os pacientes com atendimento agendado, evitando possíveis deslocamentos desnecessários. Informamos, ainda, que novas adequações logísticas nas farmácias estaduais estão sendo estudadas”, completou.

 

Por fim, a secretaria informou que pessoas que necessitam retirar medicamentos na farmácia e que sofrem de doenças crônicas ou fazem uso de imunossupressores, além de gestantes, lactantes e idosos têm a possibilidade de uso da declaração autorizadora, para que alguém de confiança retire seus medicamentos. O documento pode ser retirado no link (clique aqui para acessar).





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