Enquanto a pandemia do novo coronavírus provoca a suspensão de aulas em escolas de todo o país, uma nova equação precisa ser resolvida. Como lidar com as crianças que agora passam os dias em casa, criando atividades para entretê-las e, ao mesmo tempo, esclarecer que, apesar do tempo livre, não é um período comum de férias? Como também grande parte dos familiares começa a trabalhar no modelo home office, esse acaba sendo um momento oportuno para, além da diversão, estreitar laços entre pais e filhos.
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Coronavírus exige cuidados redobrados dentro de casaCoronavírus: PBH adia cobrança de impostos para não sufocar empresas; veja comoCoronavírus: cemitérios de BH restringem velórios. Cartórios fechamÉ apropriado pontuar que o isolamento domiciliar proposto por órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde é indicado para casos de suspeita da doença e infectados, e para tudo isso existem diretrizes específicas. Para o restante da população, há que se ter atenção aos novos avisos e protocolos relacionados ao resguardo.
“Atualmente é inegável, como comprovam educadores e psicólogos, entre outros profissionais, a importância do brincar no desenvolvimento social, emocional e cognitivo das crianças. No entanto, alguns pensam que essa atividade se restringe a elas, quando, na verdade, os adultos podem e devem participar desse universo", diz Oscar D'Ambrosio, jornalista, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura.
Como explica, esse envolvimento não só estreita laços afetivos entre pais e filhos como aumenta o interesse e a motivação da criança, pois o momento lúdico propicia uma interação proveitosa para ambos, já que o adulto pode auxiliar a criança a lidar com emoções como a frustração da derrota, assim como estimulá-la propondo problemas que demandam soluções.
“Se brincar socializa, seja por meio da música, do corpo, do gesto e da escrita, também desempenha papel essencial no sentido de mostrar a importância de saber partilhar, cooperar com o outro, comunicar-se e relacionar-se em diferentes situações, desenvolvendo respeito a si mesmo e ao outro, num processo que auxilia a autoimagem e a autoestima", continua o especialista.
Por tudo isso, brincar é coisa séria e, como pontua Oscar, uma maneira de gerar situações em que ocorra um diálogo aberto, marcado pela liberdade do falar e do sentir, uma maneira de compreender o mundo.
Busca do equilíbrio
Entre as possibilidades de distração para a garotada enquanto a COVID-19 assusta todos por aí, não vale a pena lutar com o mundo das telas – é uma característica contemporânea. Mas tudo pode ser bem dosado para garantir equilíbrio. Brincadeiras antigas, fora da época da tecnologia, e exercícios de organização da rotina podem ser uma boa opção para fazer a meninada se movimentar nessas que são circunstâncias desafiadoras.
Uma ideia é manter a agenda diária, como os horários para sono, alimentação e banho, para que o pequeno perceba que essa não é uma pausa de férias comum. O que muda na programação são as horas de brincadeira, seja com os pais, irmãos, ou sozinho.
Imbuir a garotada das tarefas do lar também é uma maneira de entretenimento e, ainda mais, desenvolve senso de responsabilidade quanto ao compromisso de manter a casa limpa e arrumada – dá para fazer tudo brincando. Ao concluir uma incumbência, os pais podem incentivar os filhos com um gesto de celebração.
Para gastar energia, há muito além da bola. Use e abuse da criatividade! Patinação de meia, guerra de papel, algodão ao alvo, ouvir música. Ou atividades de imaginação, como criar um brinquedo de sucata, desenhar, escrever cartinhas. Para os maiores, o quebra-cabeça, inventar o próprio jogo de tabuleiro, criar roupas para os bonecos, massinha de modelar, colecionar figurinhas, jogos de adivinhação. Brincadeira de luz e sombra, colar adesivos no corpo ou pela casa e, para quem tem mais espaço, vale propor bagunça no quintal, sessão de cinema em casa, caça ao tesouro, cuidar de plantas. Também a leitura, que pode motivar uma encenação teatral. Se for o caso de irmãos que interagem bem, há lugar para brincadeiras conjuntas. Depois da algazarra, a arrumação é mais um motivo para seguir com a diversão.
A psicóloga Rita Calegari explica que brincar com os filhos é importante para a saúde física e mental dos adultos também. “Ao brincar com nossos filhos ou outras crianças, resgatamos parte da nossa história e da criança que fomos um dia”, diz a especialista, reforçando a relevância de trazer a brincadeira para cada atividade relacionada ao cuidado diário. Além de assegurar que deixem os tablets e celulares de lado e valorizem cada momento do cotidiano com os pais, Rita afirma que a criança cuidada por meio da brincadeira e do lazer é mais feliz, pois acaba descobrindo que a felicidade não é um destino, mas sim um caminho.
Diante da pandemia do novo coronavírus, diferentes plataformas começam a disponibilizar conteúdos educativos e divertidos para as crianças, além de materiais para ajudar pais e educadores. No YouTube, uma dica é procurar canais livres de publicidade, e assim é possível encontrar uma rica lista de conteúdos, como música, literatura, culinária, desenho, contação de histórias, entre outros – ideias para ampliar o repertório infantil.
Nesses dias de isolamento, a proximidade física com os pais faz toda diferença. Uma opção é destinar um canto para as brincadeiras perto de onde os pais estão trabalhando. E para conciliar o trabalho dos adultos com as crianças em casa, brincadeiras inusitadas a cada dois ou três dias ajudam na percepção do tempo de diversão e do tempo sem brincar.
Criatividade
Se o objetivo é evitar aglomerações, é imprudente convidar os colegas para as brincadeiras em casa. A boa nova é que brincar sozinho é um ato natural da criança: estimula o crescer e as habilidades socioemocionais. Outra orientação essencial é higienizar os brinquedos.
Estéfi Machado é designer, crafiteira, cenógrafa, fotógrafa, escritora e autora de um blog que há oito anos compartilha ideias de brincadeiras entre adultos e crianças para inspirar os pais a se conectarem com os filhos. Prega a importância do brincar, para ela uma ferramenta que pode “salvar o mundo”. E é mãede Teo.
“Não sou pedagoga, nem agente de saúde, nem especialista em epidemias, e assim como vocês também estou com um filho em casa em quarentena. O que eu sei é que a vida às vezes nos dá lindas oportunidades de estarmos intimamente conectados com o que mais importa. Agarre essa oportunidade e juntos (mesmo de longe) vamos tirar o melhor disso tudo”, escreve no texto de introdução do pequeno livro que concebeu, chamado Kit de sobrevivência para uma quarentena brincante, em que seleciona 40 brincadeiras criadas por ela para fazer com as crianças em casa nesse período de coronavírus.
São atividades simples usando materiais que facilmente estão à mão, como tesoura, estilete, fita crepe, cola, papel e papelão, pratinhos e copinhos de papel, palitos e pregadores de roupa, giz, tinta e canetinhas, caixas de fósforo e rolos de papel higiênico. Com abordagem didática e lúdica, o guia é uma verdadeira fonte de referência para afastar o tédio.
Na lista divertida, tem dicas de distração no estilo faça você mesmo. Entre elas: animais feitos de pregadores de roupa, bichos-preguiça de papelão, bonecos na colher descartável, teatro de sombras, microscópio feito com recipiente de amaciante de roupas e tubo de papelão, macarrão de feltro, tubarão no pregador, giz de cera derretido que vira formas divertidas, máscara de urso panda, televisão de caixa, foodtruck de papelão, fogão de papelão, bicicleta de canudo de papel, lap top de papelão, picolé de água de côco, monstrinhos no shampoo, spray antimonstro, Iphone de lata, e muito mais.
Quem tem interesse em conhecer o trabalho, pode acessar o perfil de Estéfi no perfil dela no Instagram, @blog.estefi.machado.