Jornal Estado de Minas

''Parece a música do Raul Seixas'', diz vendedora de algodão doce sobre Pampulha na quarentena

 

Casal não abriu mão da pedalada matinal, mesmo na quarentena (foto: Jair Amaral / Estado de Minas)
“Parece o apocalipse da Bíblia, ou aquela música do Raul Seixas (O dia em que a Terra parou). Eu gosto dela: ‘Essa noite tive um sonho de sonhador, maluco que sou, acordei’. Mas é isso, ele acorda do sonho. No nosso caso aqui é a realidade mesmo”. Dessa forma a vendedora de algodão doce Neide Bárbara, de 56, descreve o domingo menos movimentado na atividade que exerce há 20 anos na região da Pampulha. 



Em frente ao Parque Guanabara, fechado, e à Igreja de São Francisco de Assis, que ainda atrai um visitante ou outro, mas bem distante do movimento normal para o dia, a vendedora mostra preocupação em relação ao momento. “É meu ganha pão, é com isso que me mantenho e pago minhas minhas contas, e elas vão vencer desse jeito”, diz Neide, que não tinha certeza se encontraria o parque fechado, apesar do anúncio feito pela Prefeitura na sexta-feira.

 “Imaginei que pudesse estar fechado, mas achei que haveria algum movimento aqui na região, de pais com crianças, só que não tem nada. Em 20 anos, nunca vi desse jeito. Assim que eu conseguir o valor da passagem de ônibus, vou voltar para casa”, afirma a ambulante que até o meio dia não havia vendido nenhum algodão doce sequer. A média para os domingos é próxima aos 50, segundo ela.

 

Em relação aos riscos de contágio pelo novo coronavírus que ela mesma se expõe por estar na rua, a preocupação não é tão grande. “Vejo que para todo lugar está assim, né? Até quem é mais jovem está se preocupando. É uma coisa complicada mesmo, o pessoal está com medo”, diz a vendedora, que não usava máscara, ou nenhuma outra proteção.



 Apesar do movimento reduzido para o dia da semana que costuma ser o mais concorrido no Complexo da Pampulha, várias pessoas não abriram mão da corrida ou da pedalada na orla da lagoa, mesmo com as orientações de isolamento residencial e com a chuva fina que caía. 

Chopp da Fábrica da Pampulha fechado, funcionando apenas para retiradas e delivery (foto: Jair Amaral / Estado de Minas)

Foi o caso do casal formado pelo motorista Délio Luiz, 44, e a artesã Roseane Alves, 39. Juntos, eles aproveitaram a manhã de domingo para pedalar, como é de costume dele. “É preciso se precaver, evitar contato e aglomeração, mas dá para manter a atividade física”, diz Délio. Roseane ainda vê vantagem na situação: “está bem vazia a pista, mas pelo menos é mais sossegado”.

Os restaurantes que costumam ter lotação esgotada e fila entre o fim da manhã e o começo da tarde na região mantêm as portas fechadas, mas um balcão para retirada de pedidos feitos por encomenda. É o caso do Chopp da Fábrica, localizado na Otacílio Negrão de Lima, entre a Igrejinha e o Mineirão. 

Afonso Pena no domingo sem Feira Hippie (foto: Jair Amaral / Estado de Minas)

Longe dali, na Avenida Afonso Pena, outro ponto muito concorrido da capital aos domingos, por causa da Feira Hippie, o esvaziamento era completo pela não realização do evento.