“Parece o apocalipse da Bíblia, ou aquela música do Raul Seixas (O dia em que a Terra parou). Eu gosto dela: ‘Essa noite tive um sonho de sonhador, maluco que sou, acordei’. Mas é isso, ele acorda do sonho. No nosso caso aqui é a realidade mesmo”. Dessa forma a vendedora de algodão doce Neide Bárbara, de 56, descreve o domingo menos movimentado na atividade que exerce há 20 anos na região da Pampulha.
Em frente ao Parque Guanabara, fechado, e à Igreja de São Francisco de Assis, que ainda atrai um visitante ou outro, mas bem distante do movimento normal para o dia, a vendedora mostra preocupação em relação ao momento. “É meu ganha pão, é com isso que me mantenho e pago minhas minhas contas, e elas vão vencer desse jeito”, diz Neide, que não tinha certeza se encontraria o parque fechado, apesar do anúncio feito pela Prefeitura na sexta-feira.
“Imaginei que pudesse estar fechado, mas achei que haveria algum movimento aqui na região, de pais com crianças, só que não tem nada. Em 20 anos, nunca vi desse jeito. Assim que eu conseguir o valor da passagem de ônibus, vou voltar para casa”, afirma a ambulante que até o meio dia não havia vendido nenhum algodão doce sequer. A média para os domingos é próxima aos 50, segundo ela.
Leia Mais
Coronavírus: Quarentena em BH tem intensidade que pode reduzir mortes Proteja seu celular contra o ataque da COVID-19Profissionais de saúde se desdobram na guerra contra contra coronavírusKalil 'manda' que patrões liberem funcionários: 'cada um cuide da sua casa' Coronavírus: comerciante de Montes Claros instala pia em frente a loja e incentiva pedestres a higienizar as mãosMinas tem 28 novos casos de coronavírus; número de infectados chega a 83Apesar do movimento reduzido para o dia da semana que costuma ser o mais concorrido no Complexo da Pampulha, várias pessoas não abriram mão da corrida ou da pedalada na orla da lagoa, mesmo com as orientações de isolamento residencial e com a chuva fina que caía.
Foi o caso do casal formado pelo motorista Délio Luiz, 44, e a artesã Roseane Alves, 39. Juntos, eles aproveitaram a manhã de domingo para pedalar, como é de costume dele. “É preciso se precaver, evitar contato e aglomeração, mas dá para manter a atividade física”, diz Délio. Roseane ainda vê vantagem na situação: “está bem vazia a pista, mas pelo menos é mais sossegado”.
Os restaurantes que costumam ter lotação esgotada e fila entre o fim da manhã e o começo da tarde na região mantêm as portas fechadas, mas um balcão para retirada de pedidos feitos por encomenda. É o caso do Chopp da Fábrica, localizado na Otacílio Negrão de Lima, entre a Igrejinha e o Mineirão.
Longe dali, na Avenida Afonso Pena, outro ponto muito concorrido da capital aos domingos, por causa da Feira Hippie, o esvaziamento era completo pela não realização do evento.