Minas corre para garantir mais leitos para pacientes com coronavírus
Estado busca novas UTIs para não sobrecarregar redes pública e particular, diante da constatação da falta de estrutura dos hospitais de campanha
Por Mateus Parreiras
23/03/2020 06:00 - Atualizado em 23/03/2020 09:36
Uma corrida em busca de maior oferta de leitos segue em paralelo às medidas de isolamento em todo o Brasil após a previsão de colapso da estrutura de saúde existente. Vagas criadas em estádios, áreas adaptadas para servir de ambulatório e o reforço dos hospitais militares são modelados. Em Minas Gerais, essa necessidade é ainda mais urgente, pois um dos mais importantes reforços estratégicos para o acolhimento de pacientes graves com a COVID-19 não tem condições de fazer internações que precisam de cuidados como respiradores mecânicos.
As estruturas dos hospitais de campanha da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) não são capazes atualmente de atender os pacientes com esse perfil, que é o mais crítico da doença disseminada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), e, por isso, só seriam utilizadas em atendimentos ambulatoriais e menos complexos, deixando o estado na dependência dos leitos de terapia intensiva já existentes nas redes pública e particular.
A informação foi obtida com exclusividade pela reportagem do Estado de Minas, que teve acesso a comunicados do Comitê Extraordiário COVID-19 formado no estado sobre essa situação, envolvendo inclusive mensagens do comandante-geral da PMMG, coronel Giovanne Gomes da Silva. Nos informes, a preocupação com a internação de pacientes é grande e a falência do sistema regular de atendimento é dada como certa quando for atingido o pico de infecções. “A assistência hospitalar de Minas Gerais não irá suportar a demanda”, prevê o comunicado.
Segundo informações trocadas entre o comando da PMMG e integrantes do comitê, “espaço para instalação de hospital de campanha não é o problema, mas não teremos equipamentos para tratar dos pacientes com insuficiência respiratória. Todos morreriam coletivamente por falta de ar. Isto está acontecendo em outros países de Primeiro Mundo”, destaca a mensagem. Nesse sentido, a dependência para a demanda mais crítica se apoiará sobre a oferta já existente. “Estamos preparados para montar um hospital para pessoas que não necessitem de CTI. (Isso) Já está planejado”, revela o comunicado do comitê. “A esperança é a de que tenhamos leitos de CTI suficientes nas unidades hospitalares existentes, por isto a prevenção é importante de forma que a evolução gradativa da pandemia seja suportada pela nossa capacidade de resposta”.
A carência por leitos dependerá do nível e da eficiência de isolamento que a população conseguir fazer para evitar o contágio. O diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, produziu simulação para a Grande BH em que mostra que, sem medidas de controle, até 160 mil pessoas seriam infectadas, sendo que 8 mil precisariam de internação e, dessas, 3.750 morreriam. Se medidas de controle conseguirem evitar 50% da transmissão, seriam 30 mil doentes, 1.500 internados e 750 mortos.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) de Minas Gerais conta com 2.795 leitos de UTI que poderão ser utilizados para atendimento dos casos graves de infecção pelo coronavírus. Além disso, a rede particular conta com outras 1.591 vagas que podem ser acionadas em caso de emergência.
Baixa complexidade
Como reforço, a Prefeitura de São Paulo, por exemplo, espera contar com hospitais de campanha com capacidade para 2 mil leitos de baixa complexidade. No estádio do Pacaembu serão 200 a partir da semana que vem e no Anhembi, 1.800 que estarão aptos no início de abril. O Ministério da Defesa também informou que as Forças Armadas modelam adaptações de seus hospitais de campanha para reforçar a saúde em locais mais graves e estuda a implantação desses serviços.
O governo de Minas Gerais não comentou sobre as capacidades e nível de equipamento dos hospitais militares em caso de necessidade. Informou que “o Hospital da Polícia Militar está em alerta para garantir o atendimento necessário de casos. Militares da área da saúde poderão ser convocados e quartéis abertos para hospitais de campanha. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) estuda todas as possibilidades viáveis para a abertura de leitos nos municípios mineiros, sempre em parceria com o Ministério da Saúde. Diversos fatores são levados em consideração. No momento oportuno, as definições serão comunicadas à sociedade.”
A SMSA informou que a adaptação de locais como estádios para receber doentes está em análise. Por enquanto, o apoio do Exército só se dará em áreas administrativas, com preenchimento de fichas de atendimento e notificações de casos, liberando os profissionais da saúde para suas atividades junto à população. No ano passado, o Exército enviou contingente de médicos para auxiliar no combate à dengue, zikavírus e febre chikungunya em BH e essa parceria pode ser reativada.
A dois níveis do caos na assistência
Atualmente, o nível de enfrentamento em Minas Gerais da pandemia da infecção pelo COVID -19 provocada pelo novo coronavírus se encontra na escala mais grave, que é o estágio 3 do planejamento do Comitê de Enfrentamento COVID-19. Pelo plano de contingência da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a doença em Minas está na escala crítica intermediária do nível mais severo, com transmissão sustentada ou comunitária, comprometimento de mais de uma regional de saúde, ocorrência de número de casos sem comprometimento da rede assistencial.
O nível 3 tem ainda dois modelos mais graves, com o cenário 3 apresentando uma transmissão sustentada, com comprometimento de mais de uma regional de saúde, com ocorrência de número grande de casos e comprometimento parcial da rede assistencial. O mais catastrófico é o cenário 4, com a transmissão sustentada, ocorrência de grande número de casos que levam à situação de desassistência da saúde.
Segundo o plano de contingência original, com essa elevação de prioridade, a vigilância passa a monitorar todos os casos suspeitos, confirmados e seus contatos. Indica e previne condições para isolamento domiciliar. orientar e acompanhar isolamento em hospitais de referência quando o caso preencher os critérios de descompensação clínica. Casos suspeitos já são imediatamente notificados e indicações de isolamento e quarentena mantidos.
Nos laboratórios, todos os casos suspeitos são examinados e os resultados imediatamente comunicados à sala de situação. A assistência em saúde passa a realizar atendimentos domiciliares por equipes. Internações com indicação seguem a hospitais de referência previamente determinados (em Belo Horizonte são o Eduardo de Menezes e o João Paulo II). Todas as regionais de saúde deverão organizar hospitais de referência para tratar de doentes internados. (MP)
O que é o Coronavírus?
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (Covid-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas semelhantes aos resfriados ou gripes leves.
Como o Covid-19 é transmitido?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra o Covid-19.
Quais os sintomas do Coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pelo Covid-19:
Febre
Tosse
Falta de ar e dificuldade para respirar
Problemas gástricos
Diarréia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
Pneumonia
Síndrome respiratória aguda severa
Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação do Covid-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: