O sonho de um curso de especialização no exterior acaba de se transformar em pesadelo para uma psicóloga mineira. Luciana Gaudio está "presa" desde o último domingo em Johanesburgo, na África do Sul, com poucas perspectivas de voltar nos próximos dias para casa, em Belo Horizonte, e reencontrar os dois filhos, Ian, de 10 anos, e Luana, de 9. Os voos internacionais para o Brasil estão restritos por causa da pandemia do coronavírus. Com ela se repete o drama de vários brasileiros que estão sem condições de retornar de outros países.
O drama de Luciana começou no domingo (22). Ela chegou à África do Sul no dia 15, na cidade de Cape Town. Quando o curso terminou, aproveitou para conhecer Johanesburgo. Tudo transcorrida na mais absoluta tranquilidade, até que veio a hora do embarque.
“Cheguei ao aeroporto, tudo tranquilo. Fiz o check-in, despachei a bagagem. Já estávamos na fila de embarque, quando chegou a informação de que o voo tinha sido cancelado. Entrei em pânico. Mas não teve jeito. A Latam cancelara o voo e a alegação era o coronavívus”, conta ela.
A empresa aérea levou todos os passageiros para um hotel, Birchwood. “Lá temos café da manhã, almoço e jantar. Mas não é isso o que quero. Não tenho a certeza de que vou voltar pra casa. Não vejo a hora de reencontrar meus filhos. Eu converso com eles por um aplicativo. Minha filha já disse que tem medo de não me ver mais. Também tenho esse medo”, conta ela.
Luciana diz que chora todos os dias depois de conversar com os filhos virtualmente. “O pior é a incerteza. Avisaram na Latam que haveria um voo dia 30 e outro dia 31. Mas hoje (ontem), cancelaram o primeiro. Ontem, passei o dia no aeroporto. Fui de manhã, bem cedo. Passei o dia. Nem almocei, mas consegui vaga no voo do dia 31. Só que não há certeza se ele vai acontecer”.
No hotel, segundo Luciana, entre passageiros do mesmo voo, muitos já começam a passar necessidades. “Tem muito idoso e eles já estão sem remédios. A situação é grave. Dá medo. Criamos um grupo pelo celular, mas muitas vezes chegam informações desencontradas, o que dá mais medo ainda”.
Muitos brasileiros na África do Sul, segundo a psicóloga, estão buscando alternativas para retornar ao Brasil. “Alguns tentar sair pela Nigéria, Outros. por Dubai. O pior é quem tem gente com passagem na mão que não consegue trocar e paga preços altos. Há passagem que sai por R$ 18 mil. Outras, R$ 32 mil, R$ 33 mil. O pior é que a própria Latam está vendendo passagens para quem já as tem”.
Luciana diz que nesta quarta-feira (25) retornará ao aeroporto. Quer seguir sua situação de perto. “O que posso fazer é acompanhar e torcer para que esse voo, do dia 31, saia realmente e que eu esteja nele”. Seu temor maior é haver superlotação. "Outro dia, aconteceu um overbooking de 35 passageiros, todos com passagem”.
Outros brasileiros também não estão conseguindo voltar ao Brasil pic.twitter.com/iRDHDDGOxD
%u2014 Estado de Minas (@em_com) March 24, 2020
Portugal
A drama dos brasileiros, passageiros da CVC, que estavam num cruzeiro da empresa Pullmantur, chegou ao final. Sem autorização para atracar no Porto de Lisboa, a embarcação Soberano foi recebida em Cádiz. Da Espanha os passageiros foram levados para a capital de Portugal e lá, hospedados num hotel. Começava então um pesadelo que só terminou com a chegada de dois aviões alugados pela empresa de turismo.
Os passageiros retornaram em duas viagens. A primeira no domingo, tendo chegado na madrugada de segunda-feira ao Brasil. O segundo retornou nesta terça-feira (24), saindo no início da tarde da cidade portuguesa e chegando ao Brasil no final da noite.
A empresa se pronunciou por meio de nota oficial. “A agência de viagens CVC tem acompanhado de perto e atuado de forma ativa nas remarcações e embarques de passageiros para o retorno ao Brasil, independentemente do destino em que se encontram. Para o retorno dos passageiros de Portugal ao Brasil, a CVC fretou dois aviões, o primeiro já decolou ontem, segunda-feira, dia 23 de março e o segundo retorna ao país hoje, terça-feira, dia 24 de março. Esse trabalho tem sido realizado em cooperação com as companhias parceiras e consulados, com o objetivo de atender nossos clientes com brevidade e segurança, considerando o cenário de reduções de voos internacionais e restrições de trânsito impostos por diversos governos ao redor do mundo”.