Recursos de R$ 1 bilhão da União e do estado de Minas Gerais poderiam ter sido revertidos em 11 hospitais, dois centros de saúde e três estruturas de suporte a unidades hospitalares capazes de reforçar os mineiros contra a pandemia da COVID-19. São unidades identificadas pela reportagem do Estado de Minas em levantamentos dos tribunais de Contas da União (TCU) e do Estado (TCE), que tiveram obras paralisadas ou atrasadas, algumas de 2010, outras deste ano, e que seriam capazes de fornecer ao menos mais 2.030 leitos a pacientes (veja a lista). Desses, 309 acomodações de terapia intensiva para os infectados pelo novo coronavírus em estado mais crítico. Só os leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e de Centros de Terapia Intensiva (CTI) previstos representariam reforço de 11% na oferta de 2.795 atuais de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas. Parte dessas instalações foi ofertada pelo governo do estado em parcerias com a iniciativa privada, podendo resgatar um investimento que desfalca pacientes mineiros.
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Regiões que sofrem com muitos casos, demandando exames e que ainda estão sujeitas a uma escalada exponencial de casos, poderiam ter essa retaguarda não fosse a morosidade e os desvios de verbas que culminaram na paralisação de obras de grandes hospitais.
Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, o Hospital Regional da cidade parou com 56,44% de conclusão, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Só no município, de 569 mil habitantes, há 73 casos de COVID-19 sendo investigados, sendo que oito pacientes foram diagnosticados positivamente. Mas os 226 leitos do Hospital Regional, dos quais 50 seriam de terapia intensiva, poderiam reforçar toda a área da região de saúde em que Juiz de Fora está incluída, que reúne 1,7 milhão de pessoas. As obras foram iniciadas em 20 de outubro de 2010 pela administração municipal e, depois de sucessivas paralisações, fo- ram abandonadas em fevereiro de 2017.
Outro caso, mas em que o abandono se deu pela administração estadual, é o Hospital Regional de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. O município de 280 mil habitantes, que já identificou 63 casos suspeitos da COVID-19, deveria ter recebido uma unidade que disporia de 226 leitos, sendo 40 UTIs e 10 leitos e semi-intensivos, possibilidade de expansões futuras e um heliponto para o trânsito de pacientes críticos. As obras foram iniciadas em 2013, mas pararam em 2016, deixando 69% da estrutura concluída. A região de saúde onde a unidade poderia funcionar beneficiaria uma população de 1,5 milhão de habitantes de 86 municípios.
Outros casos
Os atrasos nas entregas de obras de estruturas hospitalares em Brasilândia de Minas, Nova Resende, Salinas, São Roque de Minas e Tapira são acompanhados pelos tribunais de Contas, que pressionam para que sejam realizadas e entregues à população. Já a conclusão dos 11 hospitais regionais em Além Paraíba, Conselheiro Lafaiete, Divinópolis, Governador Valadares, Juiz de Fora, Montes Claros, Nanuque, Novo Cruzeiro, Sete Lagoas e Teófilo Otoni necessitaria, segundo estimativa da SES-MG, de mais R$ 750.084.233,63.
Um grupo de trabalho foi instituído e em maio do ano passado foi lançada uma Tomada Pública de Subsídios (TPS), “para obter estudos e levantamentos que subsidiem a elaboração de modelos de negócios para a conclusão das obras e colocação em operação dos hospitais regionais do estado. Participaram do processo as secretarias de Planejamento e Gestão (Seplag) e de Transportes e Obras Públicas (Setop)”, segundo informações do governo estadual.