A ordem foi dada pelo prefeito. Fechem os comércios, parques e clubes. Nada de aglomeração. Qualquer rodinha com mais de dez pessoas já é uma festa, e isso está proibido. Pedras foram colocadas nas entradas do município. Só entra quem for morador. Se é mesmo a quarentena que vai salvar vidas, ninguém vai morrer de coronavírus na pacata Andradas, município mineiro de 40 mil habitantes na divisa com São Paulo.
Jatubá só não atentou para um detalhe. No prédio da frente, seu amigo Rafael, o "Feijão", que não foi chamado para o almoço, acompanhava tudo da janela. Feijão não teve dúvida. Passou a mão no telefone e ligou para a guarda municipal. "Tem um festão acontecendo aqui na minha rua..."
Foi questão de minutos. O frango caipira ainda cozinhava no panelão de Jatubá quando a campainha tocou. Ele foi até o portão achando que podia ser um amigo atrasado, quando se viu de frente com os guardas. Disseram que tinham recebido uma denúncia de aglomeração.
Jatubá, de olhos arregalados, explicava que não era festa, mas um almoço entre amigos. Nada disso, está proibido, dizia a guarda. Aos risos, Feijão registrava tudo da janela, mandando fotos e mensagens pelo WhatsApp, para um grupo que inclui o próprio Jatubá. Indignado, Jatubá disparou um áudio contra Feijão: "Oh, chifrudo. Tamo fazendo armoço. Tamo em seis aqui, oh chifrudo. Foi você que denunciou, né?" Jatubá, depois de muita conversa, conseguiu mostrar que só tinha seis pessoas em casa. A guarda deixou o almoço seguir.
O grupo veio abaixo
Chorando de rir, os amigos saíram em defesa de Feijão. Carlos, o "Ju", mandou um áudio: "Tá certim, Jatubá. Tem de prende ocêis memo. É seis! Num interessa. Você não entende i-so-la-men-to?". A foto de Jatubá abrindo o portão para a guarda correu a cidade e chegou à prefeitura. Numa "live", o prefeito Rodrigo Lopes (PMDB) lembrou a população sobre a quarentena. E no grupo de WhatsApp, Jatubá recebeu ainda outro alerta dos amigos, para que não brinque com o conoravírus. "Cê tem mais de 60, Jatubá..."