Jornal Estado de Minas

Tensão e prateleiras vazias: mineira fala sobre o coronavírus nos Estados Unidos

Nos supermercados em Houston, limitação na compra de água e pão e cartazes com orientações aos clientes para manter distância segura um do outro (foto: Ingrid Furtado/Divulgação)
 

Aqui, no extremo Sul dos Estados Unidos, vivemos um misto de apreensão e cautela nas últimas semanas. Sabe aquela respiração pausada, às vezes curta e pesada? Estou assim. Tenho que me lembrar de respirar, porque estou, sim, tensa. Com duas crianças pequenas, não posso perder a sanidade, mas também não dá para ser leviana e minimizar o impacto do coronavírus na Grande Houston e no mundo.




Praticamente tudo aqui tem sido feito em modelo drive-thru, para evitar contato entre as pessoas. A escolinha da minha filha, de 1 ano, não deixa mais os pais entrarem para levar ou buscar as crianças. Funcionários com luvas e termômetros fazem um pente-fino em todas ainda dentro do carro: quem estiver tossindo ou com temperatura um pouco mais alta, volta.


Estamos na primavera e, por isso, há muito pólen no ar, muito mesmo. A temperatura oscila entre 20 e 27 graus e, como a umidade é elevada, tudo contribui para problemas alérgicos e respiratórios, todos lembrando um resfriado. No atual contexto, o mais tímido espirro já provoca olhares suspeitos.

Logística


Enquanto isso, distritos escolares (instituições públicas) inteiros cancelaram as aulas. E a suspensão já está prorrogada até 10 de abril. Claro, essa data pode ser estendida por mais tempo. Com a perspectiva de um afastamento que veio para durar, professores estão preparando atividades on-line para os estudantes, agora confinados em suas próprias salas de casa.



Empresas ligadas às indústrias de petróleo e gás natural, carro-chefe em Houston, estão incentivando o trabalho remoto, e isso é, sem dúvida, um privilégio, no meu caso. Mas, com o preço de petróleo e a demanda em baixa, a indústria também sinaliza demissões na cadeia de produção.
Dói em mim pensar nos trabalhadores que têm de manter a rotina presencial e principalmente nos autônomos – figuras extremamente comuns aqui nos EUA. Mesmo porque muitas dessas pessoas não têm plano de saúde.

Testes

Os testes para coronavírus aqui em Houston, também via drive-thru, só podem ser feitos com prescrição médica. Li que, se a pessoa não tiver plano de saúde, terá de desembolsar por volta de US$ 150 (cerca de R$ 750) para o exame. Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o teste deveria ser 100% gratuito. Mas, em um país em que a saúde pública é capitalismo puro, tudo é possível.




Li também que, até semana passada, a capacidade de atendimento/testes estadual era de 273 pessoas/dia. O governo texano está em negociações com laboratórios privados, na tentativa de que se unam e disponibilizem testes que detectem o coronavírus.

 

 

Supermercados

Devido à localização geográfica, Houston está na rota de furacões e tornados – e a temporada vai de junho a novembro. Então, a ideia de desastre natural é muito presente na mente da população. É quase intuitivo para as pessoas correrem aos supermercados para comprar o máximo que puderem, diante de sinais de perigo. Mas nem todos agem no pânico.


Fiz compras um pouco acima do normal: principalmente de enlatados e alimentos secos (arroz, cereais etc.). Mesmo se quisesse, não conseguiria comprar quantidade maior de itens de higiene pessoal, como álcool em gel (ou líquido), papel higiênico, papel-toalha ou material de limpeza como água sanitária, cloro, desinfetantes em geral: está tudo em falta em supermercados.



 

 


Restaurantes e também fast-foods só vendem via drive-thru. E ninguém pode sair do carro. As filas estão enormes. Comprei remédios para febre e dor também. E estou pensando em deixar mais dinheiro em espécie na carteira, em vez de contar apenas com cartão de débito ou crédito. Com o efeito dominó da economia, a insegurança me deixa em suspense.

E agora?

Esse clima de racionamento e incertezas mexe muito com nosso lado psicológico, e faz a gente pensar muito sobre desperdício, sistema econômico e pessoas que vivem em um contexto realmente de privação.


A principal questão agora, tão importante quanto não ser contaminado, é não contaminar o outro. Por isso, o distanciamento social é a prevenção mais eficaz. Hora de o “eu”, urgentemente, dar espaço para o “nós”. Os principais ingredientes para enfrentar estes tempos não estão à venda em supermercados: solidariedade e respeito ao próximo são itens primordiais para sobrevivermos a esta pandemia – que, como tudo na vida, é temporária.



O que é o coronavírus?

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.

 

Como a COVID-19 é transmitida?

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.



Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia


Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

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