Aqui, no extremo Sul dos Estados Unidos, vivemos um misto de apreensão e cautela nas últimas semanas. Sabe aquela respiração pausada, às vezes curta e pesada? Estou assim. Tenho que me lembrar de respirar, porque estou, sim, tensa. Com duas crianças pequenas, não posso perder a sanidade, mas também não dá para ser leviana e minimizar o impacto do coronavírus na Grande Houston e no mundo.
Leia Mais
Coronavírus provoca guerra por respiradores artificiais no BrasilMineiro que se mudou para aeroporto em Lisboa consegue voo para o Brasil''Não somos números. Não quero morrer'', desabafa mineira com suspeita de coronavírus na EspanhaCasos de recuperação do coronavírus passam de 150 mil, mas taxa é a menor desde fevereiro
Estamos na primavera e, por isso, há muito pólen no ar, muito mesmo. A temperatura oscila entre 20 e 27 graus e, como a umidade é elevada, tudo contribui para problemas alérgicos e respiratórios, todos lembrando um resfriado. No atual contexto, o mais tímido espirro já provoca olhares suspeitos.
Logística
Enquanto isso, distritos escolares (instituições públicas) inteiros cancelaram as aulas. E a suspensão já está prorrogada até 10 de abril. Claro, essa data pode ser estendida por mais tempo. Com a perspectiva de um afastamento que veio para durar, professores estão preparando atividades on-line para os estudantes, agora confinados em suas próprias salas de casa.
Empresas ligadas às indústrias de petróleo e gás natural, carro-chefe em Houston, estão incentivando o trabalho remoto, e isso é, sem dúvida, um privilégio, no meu caso. Mas, com o preço de petróleo e a demanda em baixa, a indústria também sinaliza demissões na cadeia de produção.
Dói em mim pensar nos trabalhadores que têm de manter a rotina presencial e principalmente nos autônomos – figuras extremamente comuns aqui nos EUA. Mesmo porque muitas dessas pessoas não têm plano de saúde.
Testes
Os testes para coronavírus aqui em Houston, também via drive-thru, só podem ser feitos com prescrição médica. Li que, se a pessoa não tiver plano de saúde, terá de desembolsar por volta de US$ 150 (cerca de R$ 750) para o exame. Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o teste deveria ser 100% gratuito. Mas, em um país em que a saúde pública é capitalismo puro, tudo é possível.
Li também que, até semana passada, a capacidade de atendimento/testes estadual era de 273 pessoas/dia. O governo texano está em negociações com laboratórios privados, na tentativa de que se unam e disponibilizem testes que detectem o coronavírus.
Supermercados
Devido à localização geográfica, Houston está na rota de furacões e tornados – e a temporada vai de junho a novembro. Então, a ideia de desastre natural é muito presente na mente da população. É quase intuitivo para as pessoas correrem aos supermercados para comprar o máximo que puderem, diante de sinais de perigo. Mas nem todos agem no pânico.
Fiz compras um pouco acima do normal: principalmente de enlatados e alimentos secos (arroz, cereais etc.). Mesmo se quisesse, não conseguiria comprar quantidade maior de itens de higiene pessoal, como álcool em gel (ou líquido), papel higiênico, papel-toalha ou material de limpeza como água sanitária, cloro, desinfetantes em geral: está tudo em falta em supermercados.
Restaurantes e também fast-foods só vendem via drive-thru. E ninguém pode sair do carro. As filas estão enormes. Comprei remédios para febre e dor também. E estou pensando em deixar mais dinheiro em espécie na carteira, em vez de contar apenas com cartão de débito ou crédito. Com o efeito dominó da economia, a insegurança me deixa em suspense.
E agora?
Esse clima de racionamento e incertezas mexe muito com nosso lado psicológico, e faz a gente pensar muito sobre desperdício, sistema econômico e pessoas que vivem em um contexto realmente de privação.
A principal questão agora, tão importante quanto não ser contaminado, é não contaminar o outro. Por isso, o distanciamento social é a prevenção mais eficaz. Hora de o “eu”, urgentemente, dar espaço para o “nós”. Os principais ingredientes para enfrentar estes tempos não estão à venda em supermercados: solidariedade e respeito ao próximo são itens primordiais para sobrevivermos a esta pandemia – que, como tudo na vida, é temporária.
O que é o coronavírus?
Como a COVID-19 é transmitida?
Como se prevenir?
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:
Especial: Tudo sobre o coronavírus
Coronavírus: o que fazer com roupas, acessórios e sapatos ao voltar para casa