Compreender os modos de infecção e prevenção quanto ao novo coronavírus é um aprendizado diário. São muitas as dúvidas e para diversos aspectos da vida. A influência da COVID-19 na reprodução e gravidez está entre as questões mais frequentes. Por enquanto, pouco se sabe acerca do impacto do patógeno nessas situações. Há, por exemplo, relatos de mulheres com teste positivo para a infecção que geraram bebês livres da doença. Em alguns cenários, essas são informações tranquilizadoras, mas tudo deve ser considerado com cautela.
Existem estudos em andamento, mas não há informações precisas que atestem que o contato com o vírus pode ou não dificultar a gravidez ou, quando ela acontece, quais as interferências na saúde do feto e após o nascimento. Podem surgir diferentes formas de interpretação quanto a cada caso em particular. Então, todo cuidado é pouco. Afinal, esse deve ser naturalmente um momento de felicidade, e não de aflição.
“As autoridades de saúde seguem realizando análises e pesquisas para entender os reais impactos da infecção por COVID-19 em grávidas. Ainda não há precisão dos dados analisados. O que podemos afirmar é que não existem evidências de que elas estejam em maior risco de doença grave do que a população em geral”, esclarece o infectologista Alexandre Cunha. “Até o momento, o que sabemos é que pesquisadores não encontraram o vírus em amostras de líquido amniótico ou leite materno.”
A gravidez pode acarretar mudanças constantes na imunidade da mulher, que pode ser afetada por muitos tipos de infecções respiratórias. “Agora, o mais importante é atentar às medidas de prevenção contra o novo coronavírus e relatar ao seu médico possíveis sintomas, incluindo febre, tosse ou dificuldade em respirar”, orienta. Assim, em caso de aparecimento dos sinais pertinentes à infecção pelo coronavírus, é importante procurar atendimento médico o quanto antes e seguir as instruções da autoridade de saúde local.
Gestantes, portanto, precisam ter atenção quanto às medidas para evitar a doença, o que é comum à população em geral. O infectologista lembra da importância de lavar sempre as mãos, manter distância para as outras pessoas, evitar aglomerações, evitar tocar olhos, nariz e boca, cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar, com o braço ou um tecido dobrado, que deve ser imediatamente descartado após o uso. “É fundamental ressaltar que gestantes e recém-nascidos devem comparecer às consultas de rotina, cercados de precaução, sempre”, diz o especialista.
E, para o período da amamentação, até então não existem restrições. “Mulheres com a infecção podem amamentar desde que sejam cumpridas as regras de segurança implementadas pelas autoridades de saúde, como a higiene respiratória durante a alimentação, usando máscara de proteção, se disponível, lavar bem as mãos antes e depois de tocar no bebê, limpar e desinfetar constantemente superfícies com as quais tiveram contatos”, ensina.
É unanimidade afirmar que o leite materno, o primeiro alimento natural para as crianças, detém toda a energia e os nutrientes de que necessita, contudo, quando aparecem sintomas graves em mães infectadas, faz-se fundamental observar novas práticas e rotina seguras para oferecer o leite. “Isso inclui, por exemplo, relactação e receber doação de leite materno”, diz Alexandre.
Receio
Admayra Indira, de 26 anos, está no sexto mês de gravidez e mostra receio em relação ao coronavírus. “Meu maior medo é de me infectar por estar na faixa de risco devido aos meus problemas respiratórios, e que meu bebê venha prematuro. Preocupo-me também com a possibilidade dele se infectar após o nascimento, caso o vírus não seja contido até lá, ou que alguma complicação possa acontecer tanto em minha vida, quanto na dele, em caso de infecção.”
Por isso, a gerente administrativa conta que tem tomado os devidos cuidados a fim de evitar uma contaminação por COVID-19. “Tenho permanecido em casa, fazendo home office e evitando o contato humano. Lavo as mãos frequentemente e, sempre que sinto necessidade, faço uso da higienização com álcool em gel. Além disso, procuro me distrair nos momentos ociosos com brincadeiras com familiares e demais atividades de lazer, claro, sempre dentro de casa, para manter um equilíbrio emocional.”
Incerteza
Grávida de sete meses, Gabriela Silva, de 28, conta que, diante das condições atuais, sua consulta pré-natal foi cancelada e o cenário de incerteza quanto a isso a assusta. “Não vou ter um acompanhamento mensalmente e não sei quando tudo irá se normalizar. Além disso, há a possibilidade de imprevistos nesta reta final e, caso isso aconteça, não sei se vou achar um hospital ou algum médico para me atender.”
Ela diz que, além dos cuidados necessários, tem tentando se afastar de informações para evitar distúrbios psicológicos nessa fase da gravidez. “Quando fica sabendo de algo, meu marido me fala. Mas, para ficar bem, estou tentando me manter isolada de informação também, porque acho que nesse momento o que eu preciso é de tranquilidade para passar para o meu bebê. Minhas emoções impactam na saúde dele também.”
Ambiente hospitalar
Laissa Silva Caram, de 33, está no último mês de gravidez e revela que o parto é o que mais lhe preocupa. “Minha bebê pode nascer a qualquer momento e até agora não definimos o hospital, uma escolha que seria relativamente fácil em outros tempos. É preciso pensar em um ambiente hospitalar que tenha o menor número de casos registrados ou suspeitos do vírus, para proteger a minha saúde e a do meu bebê.”
Além disso, Laissa ressalta que a gestação por si só acarreta preocupações e, em meio a uma pandemia, os receios se tornam ainda maiores. “O medo pelo desconhecido já causa pânico e a gestação é um período de incertezas e insegurança. Então, estar grávida de 37 semanas no meio de um colapso de contaminações pela COVID-19 apavora qualquer pessoa que pense na situação”, diz.
Mulheres grávidas, infectadas ou com suspeita de infecção por COVID-19, têm direito assegurado a cuidados de alta complexidade antes, durante e após o parto, lembra o infectologista Alexandre Cunha, como cuidados de saúde pré-natal, recém-nascido, pós-natal, intraparto e saúde mental. * Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram
Palavra de especialista
Alexandre Cunha, infectologista
“As normas da Organização Mundial de Saúde (OMS) destacam que uma experiência de parto segura e positiva inclui tratamento digno e com respeito, acompanhante de escolha presente durante o parto, comunicação direta e clara pela equipe de maternidade, estratégias apropriadas de alívio da dor, mobilidade no trabalho de parto, se possível, e posição de nascimento de sua escolha. Em caso de suspeita ou confirmação de COVID-19, os profissionais de saúde devem adotar todas as medidas de precaução para reduzir os riscos de infecção”
Recomendações do IPGO
O Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (IPGO) divulga informações para casais que tentam engravidar e também para pacientes que já estejam grávidas. Entre as orientações:
- Se você não tem a COVID-19, não há motivo para alterar seus planos de tentar engravidar
- Se você não tem o novo coronavírus, não há motivo para alterar seus planos de realizar um tratamento de reprodução assistida
- Se tiver diagnóstico da COVID-19, é recomendável evitar engravidar e aguardar até que a doença desapareça antes de iniciar o tratamento
Boletim da American Society for Reproductive Medicine (ASRM) faz as seguintes recomendações:
- Pacientes com diagnóstico ou alta probabilidade de ter COVID-19 devem se esforçar para evitar uma gravidez
- Se essas pacientes, com diagnóstico de COVID-19, estiverem em tratamento ativo de infertilidade, sugerimos que considerem o congelamento de todos os óvulos ou embriões e evitem a transferência de embriões até que estejam livres da doença.
O que é o coronavírus?
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.
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