Jornal Estado de Minas

COVID-19

O drama de uma mãe de preso em Minas em tempos de coronavírus


O que é ter um filho cumprindo pena num presídio nesta época de risco de contágio de coronavírus, principalmente quando esse detento sofre problemas respiratórios? Esse é o drama de muitas mães, uma delas, a podóloga Ada Lopes de Souza, de 51 anos. O filho, Vinícius Lopes de Oliveira, de 26 anos, condenado por tráfico de drogas, enfrenta quadro de sinusite e cumpre pena no regime semiaberto da Dutra Ladeira. O medo aumentou ainda mais ontem, diante do rumor de que um presidiário da Região Metropolitana de BH havia morrido em razão do coronavírus, o que foi negado posteriormente pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública.


Ada conta que não vê o filho há um mês. Por causa da pandemia, visitas foram suspensas. “Quando estive lá, notei que ele estava abatido e me preocupei, porque sofre de sinusite e rinite. Não estava bem. Pior, não dão qualquer informação sobre a situação, médica principalmente. Tentei conversar e explicar o caso e que tinha medo de que fosse coronavírus. Mas de nada adiantou”.

Somente no final de semana, com ajuda de um amigo, é que obteve informações sobre a situação do filho. “Fiquei sabendo que ele está bem, mas acho que deveriam tirar ele de lá. O risco é muito grande. Até bem pouco tempo, nem banho de sol o deixavam tomar, apesar de ser do semiaberto”.

O medo aumentou muito ontem. “Eu não sei como será agora. O preso que morreu é de uma penitenciária que fica muito perto da Dutra Ladeira. Essa infecção, esse vírus, pode muito bem estar na cadeia dele também”, dizia, antes que o estado negasse ligação da morte com a COVID-19.



 

 

 

 

Ada ia semanalmente à Dutra e levar um um kit de higiene para o filho. “Agora, desde que começou essa quarentena, não podemos mais ir lá nem para entregar o kit. Temos de enviar pelos Correios. A gente nem sabe se está chegando.”

TRÁFICO

Ada conta que o problema do filho era com uso de crack. “Ele era viciado. Tinha virado mendigo. Vivia de pedir esmola. Estava dormindo em favelas. Em 2018, foi preso quando estava dormindo, caído no chão e o acusaram de ser traficante. Não era e nunca foi”, afirma ela.

“Mas o problema é que forjaram provas. O nosso advogado está tentando mudar essa história. Ele era usuário, não traficante. Conseguiu, por enquanto, que passasse para o semiaberto. Mas é preciso que a verdade apareça e que seja contada”, alegou, sem apresentar evidências.



 

Condenado, Vinicius viu o casamento se desfazer e os filhos, Bernardo, de 6 anos, Valentina, de 3, e Sofia, de um ano e meio, passarem a ser criados pela mãe. “A ex-mulher dele sumiu no mundo e abandonou os meninos, que estão comigo hoje. Eu tomo conta deles. E, ao mesmo tempo, tento ajudá-lo, mas isso, com o nosso sistema penitenciário, é quase impossível”, reclama Ada.


SEM SINTOMAS

O estado nega ter desassistido o preso. E encaminhou nota afirmando que ele teve atendimento médico na semana passada, sem apresentar sintomas da doença: “Sobre o preso em questão, ele encontra-se em regime semiaberto. Vinicius Lopes de Oliveira foi atendido pelo Núcleo de Saúde da unidade prisional na última sexta-feira (27/3), passa bem e não apresenta sintomas de COVID-19. Vale lembrar que sinusite e rinite não estão entre os problemas de saúde que colocam pacientes no grupo de risco definido pelo Ministério da Saúde”.