Pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis, sediado na UFMG, devem analisar na próxima semana amostras de esgoto para realizar mapeamento epidemiológico do novo coronavírus. Inicialmente, o estudo será feito na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com o objetivo de identificar regiões onde há maior ocorrência do vírus.
O estudo, conduzido pelos professores Carlos Chernicharo, César Rossas Mota e Juliana Calábria, mapeará 20 pontos ao longo dos Ribeirões do Onça e do Arrudas. Segundo Carlos, com a análise será possível sinalizar às autoridades de saúde locais em que o vírus está circulando com maior intensidade. Isso deve permitir uma ação precisa em pontos estratégicos. “A grande maioria das pessoas tem o vírus e não demonstra a doença. Com a amostra de esgoto, possivelmente poderemos indicar de maneira indireta a quantidade de pessoas com o vírus, mesmo que essas pessoas estejam assintomáticas”.
Outra implicação importante levantada pela pesquisa está relacionada à transmissão do novo coronavírus. Atualmente o que se sabe sobre o vírus é que a sua disseminação costuma ocorrer por contato pessoal com secreções contaminadas. Mas estudos recém-publicados mostram a possibilidade da propagação do vírus pelas fezes. O que, de acordo com o INCT, pode despejar uma enorme carga viral em rios, já que apenas 46% do esgoto no país são tratados, segundo a edição de 2018 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). “Existe um risco. Mas, atualmente, nenhum estudo no mundo confirmou a transmissão feco-oral. O fato de o vírus ter sido detectado nas fezes pode não significar que ele esteja ativo”, tranquiliza Carlos.
Custeado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), o estudo alerta ainda para a importância dos cuidados que devem ser tomados por trabalhadores e pesquisadores do setor. “Os profissionais que atuam na área de esgotamento sanitário, como os que operam as redes coletoras e estações de tratamento, e os pesquisadores que manuseiam amostras de esgoto não podem abrir mão de medidas como a utilização de equipamentos de proteção individual, para evitar a ingestão inadvertida de esgoto, ainda que por meio da ingestão de aerossóis (partículas finíssimas, sólidas ou líquidas, suspensas no ar), para evitar a contaminação.”