Restaurantes locais precisam se reinventar para sobreviver em meio à pandemia do coronavírus. Uma grande campanha corre pela internet para que pessoas busquem pequenos estabelecimentos em vez de consumir de grandes empresas. Foi então que cresceu exponencialmente o número de serviços delivery de refeições em BH e no restante do país. Até mesmo aplicativos do setor ofereceram desconto para incentivar a compra. Porém, após as primeiras semanas, muitos optaram por encerrar as atividades por completo – seja devido à inexperiência com esse tipo de serviço, seja pelas taxas cobradas por plataformas de entrega, seja pela falta de fornecedores ou, ainda, pela segurança dos funcionários. É um momento de busca de novas estratégias para manter o mínimo do faturamento. Optar por produtos congelados e pelo uso de vouchers está entre as alternativas encontradas por algumas das casas da capital.
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Porém, a adaptação não foi nada fácil. “Não tínhamos embalagem, nem entregador. Também não queríamos entrar em aplicativos de entrega, por achar as taxas absurdas e por vários outros problemas”, contou ela, questionando também os valores pagos aos entregadores de app, que considera muito baixos. Ela, então, optou pela entrega independente, com pedidos por telefone, WhatsApp e motoboy próprio.
A expectativa é de que o almoço ou o lanche chegue em até 30 minutos. Logo que a decisão foi tomada, surgiu mais uma dificuldade. “Fazer delivery em um momento em que a maioria das pessoas está acostumada com o serviço que têm entrega terceirizada e vários entregadores é desafiador. Isso gera uma expectativa em relação à entrega que, infelizmente, não é possível atender. Alguns clientes ficam frustrados”, conta.
A estratégia passou a ser a das comidas congeladas, para produzir com calma e maior qualidade, e oferecer a possibilidade de o cliente comprar o almoço para toda a semana. Deu certo: “Conseguimos faturar mais em menos tempo, sendo que os consumidores encomendam em média cinco refeições por pessoa”. Funcionou assim por três semanas, mas foi preciso dar uma pausa, e, agora, o serviço será retomado.
A Casa Amora, que tem duas unidades – uma na Região Centro-Sul e outra na Região Leste de BH –, também precisou paralisar as atividades. Patrícia Saggiro, de 32, sócia do estabelecimento, primeiro fechou as portas para o funcionamento presencial e, posteriormente, do delivery, por motivos diversos. O primeiro deles e o principal é a preocupação com a saúde dos colaboradores. “Mesmo se funcionássemos com equipe reduzida para entrega, sabemos que haveria notícia de que um amigo do trabalhador estava com suspeita de coronavírus ou de que alguém estaria com medo de pegar o transporte público. Assim, decidimos parar”, disse.
Voucher
Em 26 de março, a Casa Amora anunciou uma novidade no Instagram: passaria a oferecer tíquetes. Serão três valores diferentes: R$ 30, R$ 50 e R$ 100. Patrícia explica que percebeu estratégias usadas por restaurantes e cafés de outras cidades. “Fez muito sentido fazer essa tentativa. Estamos começando agora. Vamos aguardar. Mas, estamos antenadas para pensar outra estratégia”, disse.
A Ambev, fabricante da marca Stella Artois, criou o movimento “Apoie um restaurante”, que doa dinheiro para os estabelecimentos. Acessando o site www.apoieumrestaurante.com.br o consumidor escolhe um estabelecimento, e, na compra de um voucher de R$ 100, paga só R$ 50 para consumir presencialmente no futuro. O desconto de 50% é custeado pela marca e parceiros.
O boteco Nada Contra, que fica no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de BH, abriu as portas em novembro com a especialidade em comida de estufa e vitrine. Funcionou até 11 de março. No dia 14, tentou emplacar o “pegar aqui e levar pra casa”. Não deu certo, contou Rafael Minoru Uchiama Andrade, de 27, sócio do bar. “Estamos acompanhando outros estabelecimentos que estão com o voucher. Ao mesmo tempo em que tudo parece muito difícil é também muito inspirador várias iniciativas que vão surgindo”, disse.
O dono e chef do Padu Cozinha Festiva, Zito Cavalcante, estuda aderir ao voucher e à comida congelada para retomar as atividades, encerradas pela crise e para manter os funcionários seguros. Ele está preocupado e acredita que, neste momento, é necessário amparo por parte do poder público. "Espero algo que responda aos impostos que a gente paga, em relação à prefeitura e a todas as esferas.”