Às vésperas da semana santa – hoje é domingo de ramos – os católicos se preparam para uma volta aos primórdios da Igreja, quando todas as celebrações cristãs eram realizadas dentro de casa, pois ainda não havia os templos. Ontem, a Arquidiocese de Belo Horizonte divulgou carta reforçando a recomendação do isolamento social, em tempos de pandemia do novo coronavírus, e orientando as comunidades a rezar com a família no aconchego do lar. Em Minas, os templos estão fechados e não haverá missas solenes, procissões, vias-sacras, encenação da Paixão de Cristo e outros atos externos com participação dos fiéis. As celebrações serão trasmitidas pela televisão e as redes sociais.
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Fé renovada
Em quarentena como a maioria dos brasileiros, o casal Maxwell Aníbal e Ilda Ermelinda Corcini Silva, ambos administradores e residentes no Bairro Castelo, na Região da Pampulha, na capital, tem acompanhado as missas pela tevê. Eles até montaram, na sala de casa, um pequeno altar para rezar com os filhos Pedro Henrique, de 20 anos, e Maria Eduarda, de 10.
“Nos meus 49 anos de vida, nunca pensei em passar uma semana santa assim. Mas não deixa de ser uma alegria, pois estamos o tempo todo em família, rezando juntos”, afirma Ilda. Pertencentes à Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, Maxwell, Ilda e filhos leem trechos da bíblia e seguram o terço diante da imagem de Jesus crucificado. Durante a missa, assistida pela televisão ou rede social, há a comunhão espiritual, que não é com a hóstia consagrada. Mas o momento da eucaristia nos liga ao Pai”, acredita Ilda.
Morador próximo do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua Nossa Senhora da Boa Viagem, na Região Centro-Sul, o casal Adail Martins e Iris Magela de Souza Martins, com o filho Thiago Henrique de Souza Martins, advogado de 29, também busca força nas orações para levar adiante a quarentena, ficando longe da igreja. Para a semana santa, a família está montando um altar doméstico, e, por enquanto, reza com a Bíblia. “Está sendo uma experiência diferente, pois estamos nos reinventando na nossa fé. O período é oportuno para meditar e fortalecer nosso amor em Deus”, conta Adail, defensor público estadual, que trabalha no sistema home office.
Sem aglomeração
Na carta distribuída aos católicos, dom Walmor e os bispos auxiliares destacam que, neste tempo de enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, quando é preciso manter o isolamento social – medida necessária para proteger as pessoas e desacelerar a expansão da doença –, as igrejas permanecerão fechadas, com o objetivo de evitar aglomerações. Assim, na sexta-feira da paixão, quando dom Walmor vai celebrar missa às 15h, na Serra da Piedade, os fiéis podem fazer, em casa, a adoração da cruz e orações. Já no domingo de Páscoa, a missa será às 8h, também com transmissão simultânea, e a orientação é pra que haja uma celebração em família.