Pesquisadores da UFMG, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard e da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde alertam que os serviços hospitalares brasileiros devem começar a sofrer escassez de leitos hospitalares, de leitos de UTI e de ventiladores já no início deste mês de abril por causa da pandemia de coronavírus.
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Leitos em Belo Horizonte
De acordo com o estudo, Belo Horizonte e região metropolitana devem amargar o esgotamento de leitos hospitalares de 27 deste mês a 1º de maio, a depender da articulação entre as medidas paliativas implementadas.
A exaustão de ventiladores mecânicos está projetada para ocorrer de 18 a 28 deste mês. Já o esgotamento dos leitos de UTI de BH e macrorregião de saúde deve ocorrer do início deste mês até o próximo dia 13.
Outros estados
O estudo aponta que é provável que o momento da escassez varie geograficamente, dependendo do início dos casos e do ritmo de transmissão, da disponibilidade de recursos e das ações implementadas.
Enquanto Fortaleza, por exemplo, alcançou 100 casos em apenas oito dias após o primeiro infectado, em São Paulo foram necessários 18 dias para que se alcançasse o centésimo caso, ilustram os autores do estudo.
Algumas regiões, portanto, devem experimentar o esgotamento já na primeira quinzena, e outras, na segunda, no limite no início de maio, com variações também no ritmo de exaustão de leitos comuns, leitos em UTI e ventiladores mecânicos.
Linha de estudo
Para traçar diferentes cenários para a progressão do esgotamento de recursos, os cientistas articularam três grupos de variáveis (dois com duas variáveis cada e outro com três) que têm a capacidade de alterar paliativamente o cenário futuro.
Essas variáveis dizem respeito à “ocupação hospitalar” (a possibilidade de se reduzir em 50% a ocupação média do ano passado, causada por outras doenças, para então se alocar mais leitos, leitos de UTI e ventiladores para casos de COVID-19), à relação “serviços públicos x privados” (considerando, por exemplo, a possibilidade do deslocamento de hospitais privados para o controle temporário do estado) e à “demanda por leitos de UTI” (se essa demanda estará na faixa de 5% ou de 12% dos casos).
Articuladas, essas variáveis possibilitaram que os pesquisadores projetassem 12 cenários para cada cidade/macrorregião.
“Como estamos em uma etapa inicial de contágio da população brasileira, ainda é precoce estimarmos uma taxa de internação em UTI para o Brasil. Assim, foram adotados os cenários já relatados na literatura para a China e Itália, com um percentual de casos internados em UTI de 5% e 12%, respectivamente”, explica Lucas Resende de Carvalho, pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG, um dos autores do trabalho.
Contudo, o que o estudo mostra é que, mesmo combinadas, todas essas medidas paliativas são capazes de, no máximo, atrasar em cerca de uma semana o esgotamento generalizado de leitos, leitos de UTI e respiradores em todas essas macrorregiões, o que seguirá ocorrendo no decorrer de abril.
(Com informações da Universidade Federal de Minas Gerais)