Os cuidados para evitar a propagação do novo coronavírus vai além de pessoas vivas; isso porque cadáveres também são fontes de transmissão, já visto que ainda possuem secreções. Justamente por isso, desde que a COVID-19 se espalhou pelo mundo e chamou a atenção de autoridades brasileiras, funerárias e cemitérios vêm adotando medidas para proteger funcionários e familiares dos mortos. Em Belo Horizonte, a prefeitura já suspendeu por tempo indeterminado os velórios nos cinco cemitérios municipais e limitou a presença nos sepultamentos aos familiares próximos.
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Kalil: 'Se sua mãe estiver doente, você liga para o Mandetta ou para o Bolsonaro?''Vamos entrar no furacão', prevê secretário sobre coronavírus em Minas GeraisHospitais de BH preparam leitos de UTI para receber pacientes com coronavírusMáquina milagrosa? Equipamento promete eliminar coronavírus do arFuncionários da SLU encontram corpo de bebê em saco de lixo na Região Norte de BHNo mesmo registro, outros dois funcionários, que vestiam uniformes diferente dos demais e seguravam luvas do tipo jardineiro, estavam sem nenhum equipamento de proteção e conversavam normalmente próximo aos coveiros, contrariando as recomendações da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Secretaria de Saúde de Minas Gerais.
Cadeia de manipulação
Localizados no final da cadeia de manipulação de corpos, os coveiros também estão suscetíveis à contaminação, caso não tomem as medidas de prevenção necessária. Conforme nota técnica da Anvisa, publicada em 31 de março, "os encarregados de colocar o corpo na sepultura, em pira funerária etc. devem usar luvas e higienizar as mãos com água e sabonete líquido, após retirada das luvas".Nesse sentido, a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB), que administra os cemitérios da capital mineira, informou que estão sendo fornecidos equipamento de proteção individual (EPIs) para os coveiros - apesar de o EM ter flagrado o oposto.
Segundo a instituição, o modelo de macacão de proteção individual, similar ao usados pelos médicos, são obrigatórios apenas em sepultamentos de casos confirmados ou suspeitos de COVID-19. "Nos demais casos, como já era praticado antes da pandemia, os coveiros utilizam a máscara e luvas de uso individual, além de uniforme composto por calça comprida e bota", explicou por meio de nota.
A fundação também afirmou que a situação relatada parece não se tratar de um sepultamento, mas sim de serviços próprios da rotina do cemitério que demandam a abertura de um jazigo sem haver sepultamento. A instituição finalizou que, geralmente, sepultamentos contam com a presença de três ou quatro coveiros - na foto, eram cinco.
Na manhã desta terça-feira, depois da publicação da matéria, a FPMZB confirmou que a foto não se tratava de um sepultamento. "A Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica confirma que a cena registrada não se tratava de sepultamento, mas sim de abertura de jazigo e preparo do espaço para posterior sepultamento." - inicialmente, como protocolo do Estado de Minas, a foto não tinha sido encaminhada à administração.
Questionada, a fundação não explicou a razão da despadronização dos uniformes dos coveiros no momento do registro, mas ressaltou que não há falta de EPIs nos cemitérios.
Na manhã desta terça-feira, depois da publicação da matéria, a FPMZB confirmou que a foto não se tratava de um sepultamento. "A Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica confirma que a cena registrada não se tratava de sepultamento, mas sim de abertura de jazigo e preparo do espaço para posterior sepultamento." - inicialmente, como protocolo do Estado de Minas, a foto não tinha sido encaminhada à administração.
Questionada, a fundação não explicou a razão da despadronização dos uniformes dos coveiros no momento do registro, mas ressaltou que não há falta de EPIs nos cemitérios.
Além do Cemitério da Paz, a PBH ainda administra os da Consolação, Saudade, do Bonfim e a Capela Velório Barreiro.
Procurado pela reportagem, o Sindeac, sindicato responsável pelos coveiros municipais, afirmou que não está conseguindo fiscalizar as atividades das empresas terceirizadas que prestam serviços aos cemitérios municipais porque está sem expediente durante a pandemia.
Já o Sinef, sindicato que defende os empregados de cemitérios e funerárias privadas, afirmou que até agora não recebeu nenhuma denúncia de falta de equipamentos.
Contaminação por mortos
De acordo com o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais Mateus Westin, é muito importante tomar cuidado na hora de manipular os corpos suspeitos de COVID-19. "Na hora da manipulação do corpo, se não tomar cuidado e se tiver a secreção, ainda que microscópica, é possível que haja a contaminação", explica.
O infectologista também ressalta que os coveiros estão no final da cadeia deste setor e, portanto, estão muito menos suscetíveis à contaminação do que os funcionários que atuam no momento da autópsia. "Quanto mais próximo do início dessa cadeia, maior o risco. Não só por uma questão temporal, mas também porque o corpo vai recebendo tratamentos e vai tendo contato com outras pessoas. Por mais que se embale e reembale, você manipula o corpo e depois a embalagem. Se todos as medidas forem tomadas, a pessoa no final vai ter menos risco", conta.
Por fim, o médico lembra que não há tempo determinado para que o vírus fique no corpo. "A questão é que, no corpo, pode ficar até dias. Quando está numa superfície inerte, ele não tem aquelas condições que o protege; fica sujeito à luz, vento e temperaturas mais elevadas.”
Nesse sentido, para evitar a possível propagação, a Secretaria Estadual de Saúde recomenda que, neste período, o corpos sejam cremados. No entanto, caso a família não opte por esse serviço, é necessário que se limpe o caixão com álcool líquido a 70% antes de levá-lo ao velório ou funeral.
A pasta estadual também determina vários cuidados em relação à manipulação dos corpos nas funerárias, tanto para evitar a contaminação dos funcionários das casas, quanto para que estes, sujeitos à contaminação, não transmitem o vírus para o restante da cadeia. Dentre as medidas, estão a limitação do número de pessoas que entram em contato com o corpo, além da máxima higienização de toda a área e profissionais.
Funerárias Por determinação Anvisa, os mortos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) são colocados dentro de um saco de óbito impermeável e, em seguida, o agente funerário transporta o corpo para o necrotério do hospital. Além disso, a maca de transporte de cadáveres deve ser utilizada apenas para esse fim e ser de fácil limpeza e desinfecção.
Após remover os EPIs, todos os profissionais devem realizar a higiene das mãos. Por fim, com a pandemia, o sepultamento é automático e não há preparação de corpo.
A Funerária Santa Casa, uma das maiores de Belo Horizonte, informou que seus agentes estão utilizando macacão ou capote, óculos de proteção, máscara N95, luva e touca. O grupo também divulgou que, do dia 23 a esse domingo, a casa recebeu 29 corpos suspeitos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, que pode ou não estar ligada à COVID-19.
*Estagiário sob supervisão da editora Liliane Corrêa