O avanço do novo coronavírus pode levar à sobrecarga de leitos e colapso na rede hospitalar de Belo Horizonte. Um estudo realizado por professores de múltiplas áreas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) faz projeção de que 15 mil pessoas podem precisar de internação em um único dia. O número é mais do que o dobro da disponibilidade de vagas na rede, cerca de 7 mil, o que acende o alerta vermelho para possível falência do sistema de saúde na capital, se outras medidas não forem tomadas.
Na tarde de quarta (8), o prefeito Alexandre Kalil (PSD), que determinou o fechamento do comércio e fim de atividades que gerem aglomeração de pessoas, anunciou que endurecerá as medidas de isolamento social.
Se nenhuma ação de enfrentamento ao novo coronavírus tivesse sido tomada, esse número de pessoas hospitalizadas poderia ser muito maior, chegando até a 50 mil com necessidade de internação num único dia, aponta o estudo.
Para fazer a projeção, foi desenvolvido um modelo matemático, uma equação que leva em consideração múltiplas variáveis. Foram empregados alguns fatores: tempo médio depois de a pessoa ser exposta ao vírus e o período de incubação, tempo médio de duração dos sintomas em pessoas não hospitalizadas, tempo médio de hospitalização de pacientes que precisam ser internados. Como ainda esses dados no Brasil são preliminares, pelo fato de a transmissão do vírus estar em curso, foram usadas estatísticas de outros países afetados há mais tempo pela pandemia.
“Alguns dados internacionais tendem a não variar muito, como período de incubação da doença, entre exposição e primeiros sintomas, o aparecimento de sintomas em pessoa não hospitalizada. O tempo de hospitalização, em média, tende a variar mais”, informou o coordenador da pesquisa, Ricardo Hiroshi Caldeira Takahashi.
O professor afirma que o estudo é um alerta para que as pessoas não olhem para a pandemia a partir do senso comum. “A pessoa fica atraída pela falta de hábito de lidar com essas dimensões. Pode pensar que as medidas de isolamento não estão adiantando nada. Mas, se vamos para a rua, duas semanas depois, o número de casos se multiplica por 20 vezes”, afirma. Ele reforça que fica implícito no estudo a necessidade de manutenção da quarentena.
O modelo
O professor lembra que, para moldar o modelo matemático a Belo Horizonte, alguns parâmetros precisaram ser reajustados, como taxa de infecção, que tem a ver a velocidade com que o vírus se propaga em um lugar e como a sociedade se organiza. Para isso, foram usados os dados agregados do Brasil inteiro.
“Montamos modelo com parâmetros internacionais e parâmetros brasileiros para fazer a projeção”, diz. Na primeira simulação era feita a projeção do número de internação caso nenhuma medida de enfrentamento tivesse sido adotada.
O professor explica também que a coleta dos dados para gerar o modelo matemático tem de levar em conta o tempo entre a adoção de uma medida e momento em que surtirá efeito. Nesse caso, esse tempo é de pelo menos dez dias. O relatório acrescenta à primeira análise o que passa a acontecer depois das medidas para restringir a circulação da população na cidade. Os dados foram coletados dez dias antes de as escolas fecharem, empresas determinaram o home office, campanha maciça da mídia.
"A data que a Prefeitura de Belo Horizonte fechou o comércio é 23 de março. Os dados são anteriores a essa ação. A análise tenta levar em consideração incerteza grande. Também sabemos que há uma subtestagem”, pondera. O estudo, por opção dos pesquisadores, não faz projeção de quantas das 15 mil internações em um único dia podem necessitar de respiradores em unidades de terapia intensiva (UTI).
A literatura científica e os dados demonstram que as pessoas ficam cinco dias com sintoma e que a internação tem média de 12,8 dias. Participaram da elaboração do modelo 20 pesquisadores das áreas de estatística, computação, física, demografia e pediatria. Também colaboraram professores das universidades federais de São João del-Rei, Viçosa e PUC Minas.
O que é o coronavírus?
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.
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