Semana Santa: cidades históricas se fecham para turistas
Municípios do Circuito do Ouro suspendem procissões, fecham monumentos e cancelam eventos para reduzir risco. Para minimizar prejuízos, campanha pede que turistas não cancelem, mas remarquem suas visitas
Por Mateus Parreiras
08/04/2020 15:24 - Atualizado em 08/04/2020 16:13
"Não venham. Tudo aqui está fechado. Após a passagem dessa pandemia estaremos de braços abertos". A declaração do secretário de turismo de Ouro Preto e presidente do Circuito do Ouro, Felipe Vecchia Guerra, é ecoada por vários destinos que não devem receber visitantes nesta Semana Santa devido ao isolamento social promovido para evitar a disseminação da COVID-19. O impacto, de acordo com representantes desses destinos, será realmente enorme, pois se trata do maior feriado em volume de visitantes nas cidades históricas e destinos turísticos mineiros depois do carnaval.
Apesar de as rodovias estarem vazias, sobretudo às vésperas do feriado, há quem ainda assim tenha reunido a família e tentado a sorte no tradicional feriado, mesmo com o risco de contrair o novo coronavírus. Para afastar os turistas, alguns municípios chegaram a fechar seus acessos.
Quem insistiu em pegar a estrada e ingressar nas cidades se deparou com estabelecimentos fechados, restaurantes entregando apenas pratos para viagem pelas janelas e portas, igrejas com entrada restrita e pousadas sem leitos disponíveis. Só em Ouro Preto, onde as procissões sobre os tapetes de serragem atraem multidões, o impacto se traduzirá em uma perda de 15 a 20 mil turistas, sendo desses 1.500 a 2 mil estrangeiros. “Ouro preto está seguindo as indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS). Estamos em pleno isolamento social. Todos os monumentos estão fechados. O Museu da Inconfidência, a Casa dos Contos. As igrejas só abrem com restrições de visitação e missa. As celebrações e atos litúrgicos serão transmitidos pela arquidiocese para evitar aglomerações e eventos que tenham um público presente”, afirma o secretário.
Circuito do Ouro
De acordo com ele, no Circuito do Ouro, que é formado por 14 municípios (Barão de Cocais, Caeté, Catas Altas, Congonhas, Itabira, Itabirito, Mariana, Nova Era, Nova Lima, Ouro Branco, Ouro Preto, Rio Acima, Sabará e Santa Bárbara), as mesmas restrições se repetem. “As mesmas medidas de proteção e adiamento de eventos acima de dez pessoas seguem um protocolo parecido, com as mesmas medidas”, afirma. “Nossa campanha é para que remarquem suas viagens e alguns eventos, como procissões e atos litúrgicos, poderão ser realizados em setembro se as restrições e o isolamento estiverem mais controlados”, afirma Guerra.
As mesmas recomendações de isolamento e pedidos para que os turistas não peguem as estradas para os destinos tradicionais da Semana Santa também são feitos por integrantes da Associação das Cidades Históricas de Mians Gerais. Mas há quem seja mais radical, segundo informações da associação, como São Tomé das Letras, município de 6.655 habitantes a 308 quilômetros de Belo Horizonte, no Sul de Minas, onde a prefeitura simplesmente bloqueou o acesso à cidade e só entram moradores ou fornecedores de alimentos e remédios.
Serra do Cipó
Destino conhecido por ofertar paz, integração com o meio ambiente e aventuras, a Serra do Cipó também fechou praticamente todos os estabelecimentos comerciais, pousadas e restaurantes. Uma fiscalização meticulosa da prefeitura de Santana do Riacho garante que o decreto que instituiu o isolamento social seja mantido até a segunda-feira, quando será novamente avaliado. “Até lá, pedimos aos visitantes que não venham. Já fizemos blitze educativas, e é importante que as pessoas saibam que não adianta virem para cá ou para a Lapinha da Serra, pois esses lugares estão completamente fechados nesse nosso momento de fragilidade”, afirma a secretária de turismo e meio ambiente de Santana do Riacho, Priscila Rios Martins.
De acordo com dados da secretaria as perdas também serão enormes, uma vez que só o Parque Nacional da Serra do Cipó recebeu 6 mil pessoas na última Semana Santa. “Na Serra do Cipó e Lapinha da Serra há mais de 2.500 leitos e ficam todos ocupados na época desse feriado, sem contar com as pessoas que passam o dia nos restaurantes e atrações e depois vão embora”, afirma a secretária. De acordo com Martins, durante o isolamento têm sido compartilhados oportunidades de cursos online do Sebrae, Ministério do Turismo e Secretaria de Estado de Turismo. “Nossa expectativa é promover ações de marketing pós-crise para potencializar o fluxo de turistas depois que tudo acabar. Nosso lema tem sido: Queremos que você conheça nossas belezas, mas quando isso tudo acabar. Não cancele, remarque”, afirma.