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Estado de Minas COVID-19

Mineira em quarentena na Holanda: dias ensolarados contrastam com medo e insegurança

Dentista relata como o governo holandês foi obrigado a endurecer as medidas de isolamento depois de um fim de semana de praias e parques lotados


postado em 11/04/2020 06:00 / atualizado em 11/04/2020 08:57

Avenida principal de Enschede, perto da fronteira entre Holanda e Alemanha, completamente vazia. Prazos do isolamento social foram estendidos na Holanda(foto: Luciana Bonino/Arquivo pessoal)
Avenida principal de Enschede, perto da fronteira entre Holanda e Alemanha, completamente vazia. Prazos do isolamento social foram estendidos na Holanda (foto: Luciana Bonino/Arquivo pessoal)


Sou brasileira, tenho 46 anos, casada com um brasileiro, também de 46. Nós nos mudamos para a Holanda em 2006. Luiz veio fazer doutorado em ciência da computação na Universidade de Twente, em Enschede, uma cidade pequena na fronteira leste do país com a Alemanha. Sou dentista e, desde 2009, consegui, após um longo processo, autorização para trabalhar na minha profissão. Luiz trabalhou em algumas empresas após o doutorado e hoje é professor no Centro Universitário de Leiden e na Universidade de Twente e trabalha no Go Fair, uma iniciativa mundial para melhor tratamento e integração de dados. Temos uma filha de 12 anos, nascida e criada aqui. Desde o ano passado, ela começou a frequentar a escola média – o equivalente ao 7º ano do ensino básico. 

Com a COVID-19 chegando à Holanda, o governo holandês decidiu no meio de março colocar algumas medidas em vigor para tentar conter a pandemia. Desde 16 de março, todas as escolas, universidades, bares, restaurantes, cafés, academias de ginástica e clubes esportivos, salões de beleza e todos os locais onde mais de 100 pessoas poderiam se reunir estão fechados. Todos os eventos também foram cancelados. No início, as restrições seriam por três semanas (o que acabaria em 6 de abril), mas agora, provisoriamente, essa data foi estendida até 1º de junho.

Quem pode trabalhar a distância foi orientado a fazer isso. Todos devem evitar ao máximo sair de casa. Porém, no primeiro fim de semana tivemos um tempo lindo, ensolarado, depois de semanas inteiras de chuva, como é muito comum por aqui. As pessoas saíram em massa para parques e praias; afinal, era só uma gripe! Depois disso, o governo apertou as medidas, com multa em caso de descumprimento. Agrupamentos estão proibidos nas lojas e supermercados. Só pode entrar um número máximo de clientes, de acordo com a área do estabelecimento, e todos devem manter uma distância mínima de 1,5m entre si. A maioria das lojas continua aberta, mas sem clientes. Os serviços essenciais continuam funcionando normalmente. 
 

"No primeiro fim de semana, tivemos um tempo lindo, ensolarado, depois de semanas inteiras de chuva. As pessoas saíram em massa para parques e praias; afinal, era só uma gripe! Depois disso, o governo apertou as medidas, com multa em caso de descumprimento"

 
As ruas estão claramente muito mais vazias. Os restaurantes que podem estão arranjando maneiras de entregar os pedidos em casa. Mas o entregador deixa a comida na porta e fica de longe, olhando se você veio buscar sua encomenda. O mesmo ocorre com carteiros que vêm entregar pacotes de encomenda. Os hospitais já estão lotados. O governo está fazendo o possível para organizar tudo da melhor maneira, mas é muito complicado. Recentemente, chamaram os antigos funcionários dos hospitais, os aposentados ou os que mudaram de função para ser voluntários e voltar ao trabalho no “front”. Todos estão inseguros, amedrontados e o clima está muito ruim, mesmo com os dias lindos e ensolarados de primavera das últimas semanas. 

Família

Eu, sendo dentista, estou em casa. Os dois consultórios onde trabalho estão parcialmente fechados. Aqui somos obrigados a continuar atendendo os casos de emergência dos nossos próprios pacientes. Então, essa parte continua. Em cada consultório, somos seis dentistas e aproximadamente 25 assistentes. Fizemos uma escala na qual cada dia da semana um está de plantão com uma assistente e uma recepcionista. Mas isso é muito pouco para sustentar a estrutura do consultório a longo prazo. As entidades de classe estão tentando negociar com o governo um pacote de ajuda, pois muitos consultórios estão à beira da falência. Eu mesma, como autônoma, não estou recebendo nenhum pagamento. Mas as conversas são infindáveis e não chegam a nenhuma solução definitiva. 

Já tem muita gente falando em voltar a trabalhar, mesmo correndo todos os riscos. Como dentistas, estamos o tempo todo expostos ao aerossol e nosso material de proteção regular não é suficiente para nos proteger adequadamente. Existe também o risco de falta de material. Então vamos fazendo o que podemos e rezamos para não pegar a doença ou levar a contaminação para casa. 
 
Luciana em casa com a filha, Anna Martha, e o marido, Luiz Olavo(foto: Luciana Bonino/Arquivo pessoal)
Luciana em casa com a filha, Anna Martha, e o marido, Luiz Olavo (foto: Luciana Bonino/Arquivo pessoal)
 
 
É também muito difícil arranjar atividades para preencher as oito horas extras que tenho livres todos esses dias da semana. 

Fora isso, tem o sentimento de estar presa, sem poder sair, sem poder ver os amigos. Nós temos aqui uma vida social muito intensa, muitos amigos, muitas reuniões, festas… Estamos sentindo muita falta. Estamos tentando manter o moral alto através de reuniões por videoconferência, cada um na sua casa, com uma bebidinha do lado e um bate-papo. Mas, infelizmente, o assunto sempre volta pro coronavírus. É só isso que está na cabeça de todo mundo.
 

"Estamos tentando manter o moral alto através de reuniões por videoconferência, cada um na sua casa, com uma bebidinha do lado. Mas, infelizmente, o assunto sempre volta pro coronavírus"

 
Estamos tentando também manter um ritmo de exercícios físicos semanais, em casa mesmo, para não sair do confinamento tão fora de forma! Dizem que a endorfina também ajuda no humor e no bem-estar, então a gente continua tentando. A academia criou um grupo no Facebook e faz todo dia um workout live. Se você perdeu, pode seguir por vídeo no dia seguinte. 

Uma outra parte muito difícil neste momento é a preocupação com a família que está no Brasil. Falo quase diariamente com meus pais e irmãos, que moram em Vitória, mas se alguma coisa acontecer com eles não poderei estar lá para apoiá-los. Estamos com passagens compradas para ir ao Brasil no final de julho, mas o mais provável é que precisaremos cancelar tudo. 

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
Para minha filha, a rotina está totalmente atrapalhada. Tentamos manter um ritmo diário, mas isso também está muito difícil. Ela tem algumas aulas por videoconferência e recebe as tarefas diárias pelo aplicativo da escola, mas a motivação não é a mesma. Estamos com medo de que ela não aprenda o mesmo tanto que aprenderia se estivesse na escola. Além disso, também sente muita falta das amigas e da vida social da escola, o que tem sido a parte mais difícil para ela.

Para o meu marido, que já trabalhava frequentemente de casa, a rotina não mudou muito. As viagens foram completamente suspensas. Como ele está envolvido na coordenação de disponibilização, integração e análise de dados sobre a COVID-19, o ritmo de trabalho inclusive aumentou. Essa ocupação é positiva e faz com que ele não sinta tanto o impacto do confinamento. 

E assim vamos levando, um dia de cada vez. Rezando e torcendo para que tudo acabe logo e bem. Mas o fim do túnel ainda parece estar bem longe.

O que é o coronavírus?

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.

Como a COVID-19 é transmitida?

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia


Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:

Especial: Tudo sobre o coronavírus 

Coronavírus: o que fazer com roupas, acessórios e sapatos ao voltar para casa

Coronavírus é pandemia. Entenda a origem desta palavra




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