Jornal Estado de Minas

COVID-19

A proteção possível: riscos para trabalhadores de serviços essenciais

O fiscal de loja Getúlio Gomes, de 45 anos, acumulou uma nova função: colocar álcool gel nas mãos dos clientes

Um dos um dos pontos mais movimentados do Centro de Belo Horizonte estava praticamente com o mesmo movimento de uma tarde típica de sábado. Lojas fechadas, mas com uma grande aglomeração e circulação de pessoas na Praça Sete.


Mas, na verdade, era uma quinta-feira em plena pandemia do novo coronavírus. A máscara – item considerado essencial pelo Ministério da Saúde – é usada por algumas pessoas. 

Por um lado, o cenário mostra que parte da população não está mantendo as medidas de isolamento social. Por outro, muitas daquelas pessoas não têm outra opção, pois precisam manter o fornecimento de serviços necessários à sobrevivência, à saúde, ao abastecimento e à segurança da população. Mas, para esses, não tem sido fácil, e os cuidados precisam ser ainda mais redobrados.
 
Desde quinta-feira, Belo Horizonte endureceu as restrições à circulação de pessoas. Todos os serviços não essenciais da capital estão proibidos de funcionar. O Decreto 17.328/2020 permite a continuidade do funcionamento de uma série de estabelecimentos, mas prevê sanções penais, administrativas e civis aos que descumprirem as regras. “Quem não está entre os serviços essenciais não deve ir trabalhar”, postou o prefeito Alexandre Kalil (PSD) no Twitter.


 
Washington Magalhães de Araújo, de 51 anos, é taxista. Ele, que transporta dezenas de pessoas por dia, sente-se vulnerável a possível contaminação do novo coronavírus, mas precisa trabalhar e garantir o transporte das pessoas. Ele não parou de rodar, mas conta que o movimentou caiu.

E caiu muito: “Todo mundo sumiu”, disse. Mas, ao carregar algum passageiro, toma cuidados redobrados para manter a segurança de ambos. “É só o passageiro entrar no carro que eu coloco a máscara”, disse.

O álcool em gel está posto logo ao lado do banco do motorista. Atento, ele higieniza as mãos, o próprio volante e, também, as maçanetas das portas para que não haja risco de contaminação entre os passageiros.


 
Enquanto o taxista aguarda um passageiro, Edna Aparecida, de 46, faz a limpeza da calçada do coração da Praça Sete. Ela é uma das responsáveis por um dos trabalhos mais essenciais da cidade: a limpeza. Para ela, não tem descanso não. O lixo continua a se acumular pelo chão, mesmo com a redução do número de pessoas nas ruas.

Durante o serviço, ela usa apenas luvas – que já são de praxe da profissão. Mas é no ônibus, para se transportar diariamente para o trabalho, que a máscara é colocada. “Tenho a minha própria. Coloco, principalmente, dentro do coletivo. Também estou usando bastante álcool em gel”, disse.
 
Um homem, com máscara reforçada e trajes bem ajeitados, apressa o passo ao atravessar o sinal do cruzamento entre as avenidas Amazonas e Afonso Pena. Às 17h30, ele está indo para o trabalho. Maíde Bento, de 49, é porteiro e assume o turno da noite de um dos milhares de prédios residenciais do Centro de Belo Horizonte.


É ele o responsável por controlar o acesso de visitantes, receber encomendas, controlar a entrada de prestadores de serviços, entre outras funções que garantem a segurança dos moradores. “Coloco máscara antes de sair de casa. Também estou usando o álcool em gel durante todo o dia”, contou. Mas, desde o início do isolamento social, ele admite que tem tido muito menos trabalho: “Fico lá sozinho, não vejo ninguém. Está todo mundo em casa”.


 
Por falar em segurança, Getúlio Gomes, de 45, sai do Bairro Santa Mônica, na Região de Venda Nova, para fazer a segurança de uma drogaria do Centro da capital. Ele é fiscal, mas, agora, acumulou uma nova função: espirrar álcool em gel nas mãos das pessoas que entram no estabelecimento comercial. “A minha função é fiscal. Mas, agora, higienizo todas as pessoas que passam por mim. Assim, eu me previno, previno os outros funcionários da loja e também os clientes”, disse ele, que trabalha com muito bom humor.
 
Dentro da loja, Getúlio está superprotegido com o uso até de uma das máscaras de plástico que cobre todo o rosto. Porém, tem medo dos riscos de contaminação no trajeto para o trabalho. “Às vezes, venho com veículo próprio. Mas, às vezes, preciso de ir de ônibus. E isso é um grande problema, um transtorno danado. Isso porque os ônibus estão circulando menos, demorando mais. Devido à espera, aglomera um grande número de pessoas. Os coletivos vêm cheios para o Centro.” E reclama: “De que adianta eu estar superprotegido aqui e vulnerável na rua?”. Ele disse perceber um aumento no movimento da rua e das lojas. “O pessoal deu uma relaxada. Temos que nos cuidar.”


 

Situação de vulnerabilidade


Não são todos os empregados que têm a estrutura necessária e equipamentos de segurança para trabalhar. Em um dos postos de gasolina do Centro da capital mineira, o clima é de completa revolta entre os frentistas. “Patrão chega aqui com orientação de como atender o cliente. Mas, antes disso, ele precisa perguntar se estamos bem, se estamos lavando as mãos, fornecer álcool em gel e máscaras.

Nós atendemos um grande número de pessoas e trabalhadores que transportam dezenas de outras como motoristas de uber e taxista”, reclamou. Para se proteger, os funcionários contam apenas com um galão em que é misturado álcool em gel e sabão. “Não há higienização necessária e nem proteção dos funcionários. Este posto está completamente contaminado.”


 
O Estado de Minas também conversou com dois motoristas de ônibus, que relataram problemas semelhantes. “Eu me sinto muito vulnerável. Recebo dinheiro, tenho contato com muitas pessoas. É um grande descaso com a categoria”, disse um deles, alegando não receber equipamentos de segurança.


O outro conta que leva produto de limpeza da própria casa para higienizar o ônibus. “Se me dessem máscara, eu usaria. Mas não vou comprar”, completou. Além disso, eles denuncia que o problema se agrava, já que há escalonamento de pagamento e estão recebendo menos do que o comum. “Não tenho dinheiro pra tirar ainda isso do próprio bolso”, afirmou.
 

O que é o coronavírus?

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.

Como a COVID-19 é transmitida?

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia


Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

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