A Itália já ultrapassou a casa de 150 mil casos de infecção pelo novo coronavírus. Desde a confirmação dos primeiros italianos infectados, em 31 de janeiro, já foram registradas mais de 19 mil mortes ocasionadas pela COVID-19 no país. A guerra ao inimigo invisível mudou drasticamente a rotina. Após fracassadas tentativas de manter a economia em ritmo normal, o governo precisou recuar e impôs, sob fortes regras, o isolamento. Nascido em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e morador de Treviso, cidade com pouco mais de 83 mil habitantes, distante cerca de 542 quilômetros de Roma, o ítalo-brasileiro Fabio Cazzaniga, de 53 anos, relatou ao Estado de Minas os dias de apreensão vividos por ele e sua família.
Na Itália desde 1981, o filho de um casal de imigrantes que deixou a Europa para construir a vida no Brasil experimenta uma situação inédita: está em casa, isolado. Ao lado dele, a esposa e dois filhos, de 20 e 30 anos. A mudança começou a ser sentida, de fato, entre o fim de fevereiro e o início de março.
“Aqui não levaram muito a sério em dezembro, quando a China tinha muitos casos. Disseram-nos que poderíamos ficar tranquilos, mas quando chegou fevereiro, não tivemos nem tempo para defesa. Foi tão veloz que, em uma semana, fecharam as escolas e, depois, o comércio”, conta ele.
Sem poder sair às ruas, até mesmo os exercícios físicos precisam ser feitos de outro modo. Para se manter ativo, Fabio colocou uma bicicleta ergométrica na sala de casa. Embora saiba que sem o isolamento seria ainda mais difícil controlar a doença, ele admite as agruras proporcionadas pela medida.
“Supermercados, farmácias, fábricas de primeira necessidade e transporte continuam a funcionar, mas todos usam proteções. Nós, em casa, só podemos sair em caso de emergência ou para comprar itens muito essenciais. Para levar o cachorro para passear, só podemos andar 200 metros além da casa. Para qualquer saída, é preciso portar uma autorização”, comenta.
"As cidades estão desertas. Há sempre os que querem desafiar o mundo e saem. Mas, com as multas dadas, o povo tem ficado em casa"
Fabio mora nas proximidades de sua outra filha, que vive com a neta dele, recém-nascida. Mesmo assim, não pode vê-las. “É muito difícil. O tempo não passa nunca”, completa, dizendo, ainda, que também não consegue encontrar pessoalmente nenhum de seus três irmãos.
Encarregado de compras de uma fábrica que reaproveita catalisadores automotivos, o ítalo-brasileiro foi ao encontro de um cliente no início de março. Dois dias depois, soube que o homem havia sido internado, supostamente por estar infectado. Ao relembrar o ocorrido, ele diz não conseguir nem sequer detalhar o medo que percorreu seu corpo.
“Passei a pior meia hora da minha vida”, recorda. Fabio só se tranquilizou ao saber que a esposa do homem havia testado negativo para a COVID-19. Ele não foi submetido ao exame. “Estavam procurando somente os que tiveram contatos muito próximos e por mais de meia hora com o homem”, acrescenta.
Cidades ‘às moscas’
Treviso, a cidade de Fabio, é a capital da província homônima, que abriga, também, a histórica Veneza, famosa pelas gôndolas que cortam os canais de água. Sem turistas e com a circulação dos moradores locais absolutamente reduzida, a região está “às moscas”.
Para coibir os que insistem em sair de casa ante a pandemia, a Itália – a exemplo de outros países europeus, como a Espanha, a Alemanha e a Noruega – tem multado os que descumprem as regras do isolamento e, sem justificativa plausível, deixam as residências. “As cidades estão desertas. Há sempre os que querem desafiar o mundo e saem. Mas, com as multas dadas, o povo tem ficado em casa”, encerra."Aqui não levaram muito a sério em dezembro, quando a China tinha muitos casos. Disseram-nos que poderíamos ficar tranquilos, mas quando chegou fevereiro, não tivemos nem tempo para defesa"
Desculpas públicas
A campanha #MilãoNãoPara foi o maior expoente das tentativas italianas de tentar manter a normalidade mesmo diante dos perigos da infecção. O vídeo, divulgado no fim de fevereiro, foi replicado por importantes políticos italianos, como o líder da extrema-direita local, Matteo Salvini. A cidade é a capital da Lombardia, região italiana mais afetada pela pandemia.
Um mês depois de o conteúdo viralizar, o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, reconheceu o erro de dar fôlego à campanha. “Muitos se referem àquele vídeo que circulava com o título 'Milão Não Para'. Era 27 de fevereiro, o vídeo estava explodindo nas redes, e todos o divulgaram, inclusive eu. Certo ou errado? Provavelmente, errado”, admitiu.
O que é o coronavírus?
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.
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