As desigualdades e assimetrias de aprendizado nas escolas, principalmente públicas, tendem a se agravar, passado o período da quarentena. Isto porque 20% por cento dos domicílios brasileiros – o equivalente a 17 milhões de unidades residenciais – não estão conectados à internet, o que impossibilita o acesso de alunos ao material de ensino a distância disponibilizado em seus portais por muitas escolas públicas do ensino fundamental e do ensino médio.
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Com uso 30% maior da internet, operadoras garantem manter sinal'É preciso redobrar o esforço', diz Mandetta sobre o isolamento socialDocumento 'Pacto pela vida' clama por escolhas científicas e proteção socialA falta de conexão à internet também impõe graves dificuldades para que os trabalhadores autônomos se cadastrem para o recebimento do auxílio emergencial de R$ 600. Há nessas residências “desconectadas” 12 milhões de pessoas que integram a População Economicamente Ativa (PEA), das quais 64% são autônomos, sem proteção social, exercendo precariamente trabalhos diversos.
Os dados são do Observatório Social da COVID-19, recém-criado pelo Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), que produz e divulga informações sobre a situação social e econômica do país, para acompanhar e avaliar a realidade demográfica, social, de conectividade e do mercado de trabalho sobre a qual são aplicadas as políticas públicas.
Integram o observatório os professores Marden Barbosa de Campos e Jorge Alexandre Neves, ambos do Departamento de Sociologia, alunos e ex-alunos da UFMG, além de dois pesquisadores vinculados à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ao Centro Universitário Joaquim Nabuco (Uninabuco), de Recife.
Integram o observatório os professores Marden Barbosa de Campos e Jorge Alexandre Neves, ambos do Departamento de Sociologia, alunos e ex-alunos da UFMG, além de dois pesquisadores vinculados à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ao Centro Universitário Joaquim Nabuco (Uninabuco), de Recife.
As duas situações – alunos em idade escolar – e adultos com direito ao auxílio emergencial que vivem em domicílios “desconectados” engrossam as estatísticas dos mais desiguais entre aqueles que já habitam a periferia das oportunidades na sociedade brasileira.
Os primeiros, não conseguem ter acesso aos conteúdos complementares postados pelas escolas em seus respectivos sites. Os segundos precisarão se expor a diversas situações de aglomeração e risco de contágio para buscar informações que lhes permita acessar o auxílio emergencial.
Os primeiros, não conseguem ter acesso aos conteúdos complementares postados pelas escolas em seus respectivos sites. Os segundos precisarão se expor a diversas situações de aglomeração e risco de contágio para buscar informações que lhes permita acessar o auxílio emergencial.
Assimetria do aprendizado
“Enquanto muitos alunos em domicílios com acesso à internet, de melhor nível socioeconômico, terão acesso a conteúdos e às atividades que levam ao desenvolvimento cognitivo escolar; os outros não”, avalia o sociólogo Jorge Alexandre Neves.
“Não estamos com isso dizendo que as escolas não devam disponibilizar esse conteúdo, mas, é preciso ter em mente, que durante a pandemia, teremos mais um novo elemento de assimetria para o aprendizado, que se soma a todas as outras variáveis já conhecidas da sociologia”, acrescenta Neves.
Diversos estudos no campo do rendimento escolar apontam para o efeito do nível socioeconômico dos pais – sobretudo a escolaridade da mãe – sobre o desempenho dos filhos nas escolas.
“Esse efeito é muito maior, por exemplo, do que a diferença que se observa entre o desempenho do aluno da escola pública e o aluno da escola privada”, afirma ele, lembrando que a maior parte da desigualdade educacional no Brasil se explica pelo nível socioeconômico das famílias. Principalmente no ensino fundamental.
“Esse efeito é muito maior, por exemplo, do que a diferença que se observa entre o desempenho do aluno da escola pública e o aluno da escola privada”, afirma ele, lembrando que a maior parte da desigualdade educacional no Brasil se explica pelo nível socioeconômico das famílias. Principalmente no ensino fundamental.
AUXÍLIO EMERGENCIAL
Mesmo dentre os desiguais, estar ou não conectado à internet impõe desafios diferentes, até mesmo para ter acesso a um auxílio emergencial, o que nem sempre é simples nos domicílios dos “desconectados”.
Segundo os dados do Observatório Social da COVID-19, 64% dos 12 milhões de trabalhadores de unidades residenciais sem acesso à internet estão na informalidade, trabalhando em situação precária e sem qualquer proteção social.
“Essa é, em princípio, uma população com alta probabilidade de ser beneficiária do programa de auxílio emergencial. Mas sem acesso à internet, há risco de que o programa do auxílio emergencial apresente um grave problema de ineficiência”, afirma Jorge Alexandre Neves, enfatizando que toda política social que não chega ao grupo ao qual se destina é ineficiente.
Na avaliação do sociólogo, o governo precisaria utilizar toda a estrutura da assistência social no Brasil – como os Centros de Referência da Assistência Social (Cras) e Centros Especializados de Referência da Assistência Social (Creas), para, com o apoio logístico das Forças Armadas, fazer a busca ativa dessas pessoas.