"Só eu e meu filho podíamos nos encontrar, em casa. Conversávamos muito. Num desses 'encontros felizes', expliquei a ele o símbolo do ovo como renascimento"
Samuel Pereira Neto, médico, que teve a doença na mesma época do filho Miguel. Na foto, também com a mulher, Roberta, e a filha Alice
Celebração da vida e da esperança para prosseguir em tom de renascimento. Hoje, quando os cristãos festejam a ressurreição de Jesus, três entre muitos mineiros têm motivos de sobra para se sentar à mesa com a família ou sozinhos e comemorar o domingo de páscoa. Adriana Carrara, Samuel da Cunha Pereira Neto e Diego da Silveira contraíram a COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, mas estão recuperados e hoje, mais que nunca, celebram a retornada de suas atividades normais. “Saio transformada deste período, agradecida, e com mais amor ao próximo. É uma Páscoa de renovação como ser humano”, resume Adriana, administradora de empresas nascida na capital, residente há 10 anos em Divinópolis, na Região Centro-Oeste do estado, casada com um médico e mãe de dois adolescentes.
Primeiro caso confirmado em Minas de contaminação pelo novo coronavírus – ontem fez um mês que foi declarada a situação de pandemia da COVID-19 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) –, Adriana conta que já recebeu alta do infectologista e da Vigilância Sanitária, ficando agora mais tranquila em casa. “No isolamento, me preocupava se o marido e os filhos estavam se alimentando direito, pois não sabem cozinhar”, recorda-se. Nas férias, a família viajou para Itália, mas apenas ela ficou doente.
Durante o isolamento obrigatório para evitar a disseminação do micro-organismo, a administradora sentiu o despertar do lado espiritual, com o fortalecimento da fé em Deus e muitas orações dedicadas a Nossa Senhora Aparecida, “nossa padroeira”. Mas foi em Padre Libério que ela concentrou as forças. Tão logo termine este período de isolamento social, ela conta que pretende ir ao município de Leandro Ferreira, na mesma região, para agradecer diante do túmulo do padre, considerado milagroso.
“Devo muito da minha cura à intercessão do Padre Libério, e farei o que for possível pela causa”, diz Adriana, com muita emoção, em referência ao processo que tramita no Vaticano, de beatificação do religioso mineiro Padre Libério Rodrigues Moreira (1884-1980). “Tornei-me devota dele. Tudo isso me ensinou que a gente não está sozinha. É muito importante esse momento, para sabermos que o pior é sentir falta das pessoas.”
"Hoje, não poder abraçar meus avós também é uma forma de amor, uma maneira diferente de preservar a vida deles. O importante também é manter a fé"
Diego da Silveira, residente de neurocirurgia, que nesta páscoa estará com o coração na terra de sua família, Patrocínio
Pai e filho
À palavra renascimento também recorre o médico Samuel da Cunha Pereira Neto, da equipe clínica do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, para falar sobre este domingo de Páscoa e de todos seus símbolos. Recém-saído do isolamento, ele e o filho Miguel, de 12 anos, tiveram a doença no mesmo período, o que não ocorreu com a mulher, Roberta, e a filha Alice, de 8. “Dessa forma, só nós dois podíamos nos encontrar, em casa. Ele vinha para meu quarto e conversávamos muito. Num desses ‘encontros felizes’, expliquei a ele o símbolo do ovo como renascimento.”
Já de volta ao trabalho no hospital, Samuel conta que o primeiro sintoma foi de gripe, e, ao fazer o exame, testou positivo para o novo coronavírus. “Mas me sinto abençoado, pois, graças a Deus, não houve complicação. Mesmo sendo médico, a gente fica apreensivo. Agora já passou, vem a esperança. Essa é uma doença muito infecciosa, traiçoeira.”
Belo horizontino com raízes no Serro, no Vale do Jequitinhonha, Samuel não tem dúvida de que, após isolamento, a pessoa ganha mais energia. E, no retorno ao batente, tem o reencontro com os colegas, “perguntando como a gente está. Isso é bom”. Como se trata de uma doença muito contagiosa, ele conta, “precisamos ficar protegidos durante o trabalho, como se fôssemos astronautas”, brinca.
"Saio transformada deste período, agradecida, e com mais amor ao próximo. É uma Páscoa de renovação como ser humano"
Adriana Carrara, primeira mineira diagnosticada com a COVID-19
Vitória
Nesta Páscoa, Diego da Silveira, de 30, estará em Belo Horizonte, mas com o coração na terra natal, Patrocínio, na Região do Alto Paranaíba: na cidade moram os pais, os avós e a noiva. Residente de neurocirurgia na Santa Casa, ele teve a COVID-19, mas já retornou ao serviço. “Há muito medo, muito receio da população acerca da doença, principalmente porque as taxas de mortalidade são altas. Muita gente vai ter, e pode ser assintomático. No meu caso, foi uma forma leve da doença, não precisei ficar hospitalizado. Começou com coriza, tosse, desconforto, até que a febre veio e chegou a 38 graus. Depois tive uma dor torácica. Mas passou: estou recuperado”, afirma Diego, morador de uma república com dois médicos. Para evitar o contágio, tomou todos os cuidados, separando os utensílios domésticos durante o isolamento. “É fundamental se hidratar muito”, orienta.
Na avaliação de Diego, esta páscoa reforça o sentido de celebração da vida: a vitória da vida contra a morte. Ele gostaria muito de estar, hoje, com a noiva, os pais e avós, mas sabe que o reencontro só será possível ao término da quarentena. Enquanto não ocorre, melhor acreditar na esperança, “que tudo isso vai passar”. “Hoje, não poder abraçar meus avós também é uma forma de amor, uma maneira diferente de preservar a vida deles. O importante também é manter a fé.”
Força do isolamento
Para o infectologista Carlos Starling, integrante da sociedade mineira e brasileira de Infectologia, se torna essencial, neste momento, falar em “vidas salvas”, pois havia uma projeção de milhares de óbitos para o país com a pandemia, o que não está ocorrendo. “Isso se deve, principalmente, ao isolamento social. Quantas mortes estão sendo evitadas?”, destaca o especialista.
Segundo Starling, ainda não dá para relaxar, “mas podemos comemorar as vidas salvas a cada dia”. E ele frisa: “O isolamento social tem importância por dois motivos – não causar um colapso no sistema de saúde, em especial nos hospitais, e evitar que as cepas mais virulentas circulem. É preciso impedir a dispersão, para que percam a intensidade”.
Triunfo na Espanha
Mais uma vitória da vida em tempos da pandemia da COVID-19. Curado, o engenheiro mineiro Humberto Rezende, de 50 anos, deixou o hospital sob aplausos em Madri, Espanha, na quarta-feira (foto). Visivelmente emocionado, ele passou pelo corredor de profissionais de quem recebeu cuidados por três semanas. Natural de Pouso Alegre, no Sul de Minas, o engenheiro mora no país ibérico há dois anos com a mulher e o filho.
O que é o coronavírus?
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.
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