Flávia Henriques ajudava Brenda, que ajudava Maria Lucia, que ajudava todo mundo a se proteger em tempos de pandemia. Em meados de março, a produtora cultural e jornalista Brenda Silveira, de 56 anos, e o filho começaram a sofrer sintomas que poderiam ser da COVID-19. Eles foram ao hospital e os médicos recomendaram que voltassem para casa. Sem confirmar se estavam positivos para a doença, adotaram as medidas de autoisolamento domiciliar: cada um no seu quarto. Eles moram em uma casa, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul. Com isso, Brenda sentiu que precisaria de algo para ocupar o seu tempo e transformou o seu escritório em um atelier. Mais do que isso, partiu para uma ação solidária.
Ela resgatou sua relação com a costura e decidiu por ajudar e fazer máscaras de proteção a grupos vulneráveis. Para isso, precisava de três materiais: tecido, elástico e linha. Ela não tinha nenhum dos itens. Foi quando uma rede quase invisível se formou organicamente para que os itens ficassem prontos e uma centena de pessoas pudesse se proteger. As doações, inicialmente, seriam por meio de pedidos via rede social, como o Facebook.
Brenda Silveira pegou emprestada a máquina de costura na casa da mãe, Maria Auxiliadora da Silveira. Assim, resgatou o gosto que tinha por costura e encomendou pela internet tecidos para produzir algum tipo de artesanato: “Eu gostava muito de costurar. Costurava e fazia minhas próprias roupas quando adolescente”, recorda.
No momento em que o Ministério da Saúde anunciou que máscaras caseiras poderiam ajudar na prevenção contra o coronavírus, Brenda mudou os planos e decidiu se dedicar a esse tipo de produção. Depois de prontos, esses itens essenciais seriam doados.
Logo, o primeiro problema: “Encomendei tecidos para chegarem em 10 de abril. Mas não chegaram e postei na internet que eu ia fazer máscaras para doar e aguardava pelos tecidos", contou a produtora cultural. Sem tecido, a Flávia Henriques se prontificou em ajudá-la. Flávia é artesã, trabalha com patchwork – trabalho com retalhos – e disse que poderia doar o material. “Ela me procurou e disse que teria tecidos e elásticos para me doar. Ela mora perto de mim e eu fui buscar. Os tecidos eram lindos, muito coloridos. Eu achei muito legal”, relata.
Foi com esses materiais que ela fez os primeiros modelos para a família e, logo que pegou a prática, produziu as 100 primeiras máscaras. Todas para serem doadas, sendo que ela estipulou duas por pessoa.
Brenda contou sobre a sua produção de máscaras para Fernando Aguiar. Ele era o motofretista que estava fazendo as compras de supermercado para ela nesses tempos em que ela havia se isolado por causa dos sintomas gripais. “Logo, ele me disse: ‘eu vou precisar de máscaras. Preciso usar várias durante o dia, pois trabalho na rua’”, contou Brenda. Porém, após a produção da primeira leva, o elástico se esgotou. "É um cenário de guerra e alguns produtos somem da prateleira. Não estamos achando elástico no mercado", acrescentou Brenda.
Por sorte, Fernando estava – por outros motivos – circulando pela Região do Barreiro e avistou um armarinho aberto. O motofretista se lembrou de Brenda: "Ele me ligou e disse que tinha achado o elástico", comemorou. Assim, comprou dez metros para que a Brenda continuasse fazendo as máscaras. Paralelamente, uma loja, a Maísa Aviamentos, também se solidarizou e abriu o estabelecimento na Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, apenas para vender elástico e linha.
Em seguida, Brenda soube que uma amiga, que é professora de artes, Maria Lucia Caetano Bicalho, também havia ganhado tecidos de uma vizinha e estava fazendo máscaras para doar. E o que lhe faltava? Justamente o elástico. “Ela ganhou tecidos da vizinha, mas também estava sem elásticos. No sábado, eu prometi doar o elástico comprado pelo Fernando. Pedi a ele que levasse da minha casa até o Bairro Cruzeiro, na Região Centro Sul de Belo Horizonte. Perguntei a ele quanto ele cobrava para a entrega. Mas logo ele disse que nada, pois estávamos todos ajudando”, contou.
Troca-troca
E assim, por meio de ajuda mútua e renúncia coletiva, um item que se tornou tão essencial está sendo produzido e com isso, ajudando centenas de pessoas na capital mineira a se proteger do vírus. Há quem entre em contato com uma empresa de confecção para pedir doação de linha. Há quem tenha saído no domingo de Páscoa pelo bairro onde mora para procurar um armarinho aberto. Há quem leve seis máscaras da Brenda, mas deixa tecido para a produção de outras.
Já houve até máscaras trocadas por corte de cabelo. “Uma amiga, que também é jornalista, me disse que uma amiga dela é cabeleireira e não tem máscara. Ela pediu duas máscaras e disse que vai te dar um corte de cabelo”, contou Brenda. Ah! e também houve máscara trocada por lasanha. “Conheço a Lúcia há 28 anos. Mas havia muito tempo que nós não nos falávamos. Ficou feliz por mandar o elástico. Em troca, pedia que fizesse uma das suas lasanhas maravilhosas”, brincou.
Brenda enxerga afeto que na formação dessa rede, que vem se ampliando dia a dia. "Está todo mundo se envolvendo. Todo mundo se ajudando”, disse.
O resultado
A psicóloga Ana Carolina Ribeiro, de 40 anos, foi uma das pessoas que receberam as máscaras feitas por Brenda e uma dezena de pessoas. Ela recebeu seis, sendo duas para ela, duas para o companheiro e duas para o filho. “Quando entramos em confinamento, Brenda foi umas das primeiras pessoas que publicou em suas redes que estava fazendo máscaras para doação aos amigos e também para quem precisasse. Uma atitude de quem sabe que a solidariedade é o mais importante e sem ela não podemos sair juntos disso tudo”, disse.
Todos de casa gostaram do resultado. “Essa rede solidária com tantos desejos de carinho e proteção ao próximo imprime na peça uma carga energética do bem, da paz e do amor! Espero que possamos aprender a lição que essas pessoas, como a Brenda, nos ensinam”, disse.
A rede que culminou nas máscaras de Brenda a inspirou a tentar fazer algo igualmente solidário. “Estamos pensando em fazer atendimento terapêutico, via apps. Estamos pesquisando como se daria esse formato”, adianta.
Ela resgatou sua relação com a costura e decidiu por ajudar e fazer máscaras de proteção a grupos vulneráveis. Para isso, precisava de três materiais: tecido, elástico e linha. Ela não tinha nenhum dos itens. Foi quando uma rede quase invisível se formou organicamente para que os itens ficassem prontos e uma centena de pessoas pudesse se proteger. As doações, inicialmente, seriam por meio de pedidos via rede social, como o Facebook.
Brenda Silveira pegou emprestada a máquina de costura na casa da mãe, Maria Auxiliadora da Silveira. Assim, resgatou o gosto que tinha por costura e encomendou pela internet tecidos para produzir algum tipo de artesanato: “Eu gostava muito de costurar. Costurava e fazia minhas próprias roupas quando adolescente”, recorda.
No momento em que o Ministério da Saúde anunciou que máscaras caseiras poderiam ajudar na prevenção contra o coronavírus, Brenda mudou os planos e decidiu se dedicar a esse tipo de produção. Depois de prontos, esses itens essenciais seriam doados.
Logo, o primeiro problema: “Encomendei tecidos para chegarem em 10 de abril. Mas não chegaram e postei na internet que eu ia fazer máscaras para doar e aguardava pelos tecidos", contou a produtora cultural. Sem tecido, a Flávia Henriques se prontificou em ajudá-la. Flávia é artesã, trabalha com patchwork – trabalho com retalhos – e disse que poderia doar o material. “Ela me procurou e disse que teria tecidos e elásticos para me doar. Ela mora perto de mim e eu fui buscar. Os tecidos eram lindos, muito coloridos. Eu achei muito legal”, relata.
Foi com esses materiais que ela fez os primeiros modelos para a família e, logo que pegou a prática, produziu as 100 primeiras máscaras. Todas para serem doadas, sendo que ela estipulou duas por pessoa.
Brenda contou sobre a sua produção de máscaras para Fernando Aguiar. Ele era o motofretista que estava fazendo as compras de supermercado para ela nesses tempos em que ela havia se isolado por causa dos sintomas gripais. “Logo, ele me disse: ‘eu vou precisar de máscaras. Preciso usar várias durante o dia, pois trabalho na rua’”, contou Brenda. Porém, após a produção da primeira leva, o elástico se esgotou. "É um cenário de guerra e alguns produtos somem da prateleira. Não estamos achando elástico no mercado", acrescentou Brenda.
Por sorte, Fernando estava – por outros motivos – circulando pela Região do Barreiro e avistou um armarinho aberto. O motofretista se lembrou de Brenda: "Ele me ligou e disse que tinha achado o elástico", comemorou. Assim, comprou dez metros para que a Brenda continuasse fazendo as máscaras. Paralelamente, uma loja, a Maísa Aviamentos, também se solidarizou e abriu o estabelecimento na Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, apenas para vender elástico e linha.
Em seguida, Brenda soube que uma amiga, que é professora de artes, Maria Lucia Caetano Bicalho, também havia ganhado tecidos de uma vizinha e estava fazendo máscaras para doar. E o que lhe faltava? Justamente o elástico. “Ela ganhou tecidos da vizinha, mas também estava sem elásticos. No sábado, eu prometi doar o elástico comprado pelo Fernando. Pedi a ele que levasse da minha casa até o Bairro Cruzeiro, na Região Centro Sul de Belo Horizonte. Perguntei a ele quanto ele cobrava para a entrega. Mas logo ele disse que nada, pois estávamos todos ajudando”, contou.
Troca-troca
E assim, por meio de ajuda mútua e renúncia coletiva, um item que se tornou tão essencial está sendo produzido e com isso, ajudando centenas de pessoas na capital mineira a se proteger do vírus. Há quem entre em contato com uma empresa de confecção para pedir doação de linha. Há quem tenha saído no domingo de Páscoa pelo bairro onde mora para procurar um armarinho aberto. Há quem leve seis máscaras da Brenda, mas deixa tecido para a produção de outras.
Já houve até máscaras trocadas por corte de cabelo. “Uma amiga, que também é jornalista, me disse que uma amiga dela é cabeleireira e não tem máscara. Ela pediu duas máscaras e disse que vai te dar um corte de cabelo”, contou Brenda. Ah! e também houve máscara trocada por lasanha. “Conheço a Lúcia há 28 anos. Mas havia muito tempo que nós não nos falávamos. Ficou feliz por mandar o elástico. Em troca, pedia que fizesse uma das suas lasanhas maravilhosas”, brincou.
Brenda enxerga afeto que na formação dessa rede, que vem se ampliando dia a dia. "Está todo mundo se envolvendo. Todo mundo se ajudando”, disse.
O resultado
A psicóloga Ana Carolina Ribeiro, de 40 anos, foi uma das pessoas que receberam as máscaras feitas por Brenda e uma dezena de pessoas. Ela recebeu seis, sendo duas para ela, duas para o companheiro e duas para o filho. “Quando entramos em confinamento, Brenda foi umas das primeiras pessoas que publicou em suas redes que estava fazendo máscaras para doação aos amigos e também para quem precisasse. Uma atitude de quem sabe que a solidariedade é o mais importante e sem ela não podemos sair juntos disso tudo”, disse.
Todos de casa gostaram do resultado. “Essa rede solidária com tantos desejos de carinho e proteção ao próximo imprime na peça uma carga energética do bem, da paz e do amor! Espero que possamos aprender a lição que essas pessoas, como a Brenda, nos ensinam”, disse.
A rede que culminou nas máscaras de Brenda a inspirou a tentar fazer algo igualmente solidário. “Estamos pensando em fazer atendimento terapêutico, via apps. Estamos pesquisando como se daria esse formato”, adianta.