Em meio à pandemia de coronavírus, o Brasil enfrenta mais uma barreira: a falta de testes e a subnotificação de casos de pessoas diagnosticadas com a COVID-19. A imprecisão prejudica a administração pública, que acaba tendo que lidar com estimativas em de números reais. Atualmente, o país aplica 4 mil testes gratuitos diariamente, número muito abaixo dos registrados em outros países. Os Estados Unidos fazem mais de 140 mil testes por dia e a Itália mais de 46 mil, segundo dados da plataforma Our World in Data. Minas Gerais fez 8.551 exames, uma média de 700 por dia. Pensando nisso, laboratórios privados vêm oferecendo testes e, em Belo Horizonte, a coleta já é feita, inclusive, no esquema drive-thru. É o caso da clínica Axial e do Hermes Pardini.
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No entanto, toda essa facilidade tem um preço: a Axial cobra R$ 350 para realizar o exame e o valor pode ser dividido em até 10 vezes no cartão de crédito. O laboratório tem convênios com planos de saúde e também oferece atendimento domiciliar.
O grupo médico Hermes Pardini, por dua vez, oferece o exame por meio de drive thru montado na unidade da Praça da Bandeira, na Região Centro-Sul da capital, e teleconsulta. As consultas custam R$ 68, enquanto o exame sai por R$ 298 e deve ser agendado pela internet. O laboratório negocia com empresas de planos de saúde para que incluam as duas modalidades em suas coberturas. O atendimento está disponível de segunda a sexta, de 13h às 17h, apenas para pacientes particulares.
Na Axial, durante o curto exame, o profissional de saúde retira secreções da duas narinas e da garganta do paciente com um cotonete swab, utilizado especialmente para as coletas. Após isso, esses cotonetes são guardados em um tubo de Falcon, lacrados e enviados para o laboratório. A prática pode às vezes gerar um incômodo no paciente. “Nem falo que dói, porque incomoda um pouco. Cada pessoa reage de uma forma”, conta a enfermeira Patrícia Souza, que desde março realiza esse tipo de teste.
Enquanto lida com os pacientes, ela presta atenção nos cuidados com a higiene. Como conta com orgulho, a cada consulta, ela troca a luva descartável e também o tecido que cobre sua roupa. Além disso, durante todo o dia, veste um macacão que a cobre do pescoço aos pés e usa uma máscara do tipo N95. Todos esses cuidados, além de proteger os clientes, também dão segurança para que a enfermeira volte para casa, onde vive com o marido, um filho de 2 anos que sofre bronquite e os pais de 69 e 62 anos, já no grupo de risco.
Público
Entre os pacientes estão aqueles que não atendem aos requisitos para fazer o teste gratuitamente pelo Serviço Único de Saúde (SUS). Em Minas, os diagnósticos oferecidos de graça são exclusivos para profissionais de serviços de saúde sintomáticos, pacientes hospitalizados com síndrome respiratória aguda grave, óbitos suspeitos, ou pessoas que frequentem locais fechados e que passam por surtos de síndrome gripal.“Vim aqui para ver se já tive ou estou com o coronavírus. É só para tirar a cisma mesmo”, explica Amauri Pitanga Maia, de 73, que chegou para fazer o exame sem máscara. O resultado informará se há ou não a presença do vírus no corpo dele.
Minutos depois, outro motorista chega ao estacionamento do shopping para realizar o teste. Com máscara, o homem não quis se identificar. Ele conta que ficou sabendo do teste por meio de seu plano de saúde, após fazer uma consulta médica online. “Estava meio gripados há uns cinco dias e fiz essa consulta. A médica então me recomendou o exame. Falaram para eu ir ao posto de saúde, mas está uma bagunça lá e também eu não tinha direito ao teste por não estar tão doente”, explica.
Mais alguns minutos e a enfermeira Patrícia já está pronta para a coleta. Desta vez, o paciente teve um pouco mais de incômodo com a prática. “O cotonete vai lá no cérebro”, exagera o homem, que após o exame fechou a janela do carro e voltou a conduzir o veículo normalmente.
*Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho