Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Três enfermeiras da UPA Leste podem estar infectadas por coronavírus. Uma está no CTI


À medida em que avançam os números de casos confirmados e óbitos pelo novo coronavírus (COVID-19) em Belo Horizonte e no Brasil, profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate à doença trabalham cada vez mais apreensivos com os riscos de contaminação. Somente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leste, na capital mineira, três enfermeiras podem ter sido infectadas nos últimos dias. Duas foram afastadas do trabalho e uma precisou ser internada em um Centro de Tratamento Intensivo (CTI).



Procurada, a Prefeitura de Belo Horizonte alegou que informações individuais sobre o quadro clínico de profissionais de saúde é sigilosa. E assegurou que não há falta de equipamentos de segurança, mas "uso racional".

Enfermeiros, técnicos e médicos relatam preocupação com uma possível escassez e restrições no uso de equipamentos de proteção individual (EPI’s), essenciais para a segurança tanto de profissionais da saúde quanto dos pacientes. Por outro lado, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) divulgou levantamento informando que 366 trabalhadores da linha de frente no combate à pandemia estão afastados, assegurando que os reflexos na capital mineira são bem menores que outros grandes centros urbanos, como São Paulo.

Um dos profissionais de saúde da UPA Leste, que preferiu não ser identificado, apontou que um dos pontos de maior preocupação é com relação ao uso restrito de EPI’s. “Está sendo regrado o uso. Recebemos um capote descartável, um gorro e, no caso das máscaras, podemos usar até três no turno de 12 horas, mas, às vezes, recebemos apenas uma. No caso da (máscara) N-95, médicos têm acesso liberado, enquanto enfermeiras e técnicos somente caso o paciente apresente sintomas clássicos”, relata.



Os dados utilizados pela PBH, divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), são referentes ao período de 21 de março ao dia 13 deste mês. Dos 366 profissionais afastados, 16 da linha frontal de atendimento à infecção testaram positivo, enquanto outros 350 aguardam os resultados de seus exames. O número, segundo a administração municipal, é 88% menor que na capital paulista, onde esse total chega a 3.055 casos.

Em Belo Horizonte, outros 663 profissionais de saúde chegaram a apresentar síndrome gripal com os mesmos sintomas da COVID-19, como febre, tosse, cansaço e dificuldade respiratória, mas foram descartados, somando um total de 1.044 trabalhadores que tiveram de se afastar em algum momento. A falta de divulgação dos números causou embate entre a PBH e o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (SINDIBEL).

Presidente do sindicato, Israel Arimar de Moura indicou que já havia feito requerimentos verbais para saber os dados e que estava pronto a acionar a Justiça, como feito em pelo menos dois outros casos. O Sindibel ajuizou ações na 3ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública Municipal pedindo que a PBH se manifeste sobre a situação do fornecimento das máscaras cirúrgicas, estoque, aquisições e tempo de uso e que sejam afastados da linha de frente os trabalhadores que estão em grupos de risco.



“Apoiamos as políticas de isolamento social adotadas no município, mas a garantia dos EPI’s para os servidores é fundamental para a questão de segurança dos serviços essenciais, não só da saúde, mas segurança pública, como também para a continuidade desses serviços”, comentou Israel.

“Estamos fazendo levantamentos de profissionais infectados, mas pedimos a divulgação dia a dia, ou pelo menos a cada semana. Também recebemos relatos de que equipamentos que não chegam a profissionais de apoio na linha de frente e que eles não recebem materiais adequados. Precisamos dessas informações”, complementou o dirigente sindical.
 

PREFEITURA NEGA PROBLEMAS 

De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, o uso de EPI dos servidores segue as recomendações de especialistas e a rede SUS na cidade estaria abastecida nesse sentido contra a COVID-19. Ainda segundo a nota da PBH, "está sendo feito o uso racional destes insumos".



A PBH diz que, no período de 21 de março a 13 de abril foram testados 1.044 profissionais de saúde, de serviços públicos e privados. Deste total, 1,5% testaram positivos (16 casos), 63,5% negativos (663) e o restante, 350, estão em análise. Para os que havia suspeita foi estabelecido isolamento domiciliar até resultado do exame. 

A prefeitura diz, ainda, ter afastado por segurança os profissionais com idade superior a 60 anos, gestantes e os comprovadamente imunossuprimidos.



Conselho Federal de Enfermagem aponta vulnerabilidade

 
Em nota, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) apontou a vulnerabilidade de enfermeiros. De acordo com o conselho, até essa terça-feira (14), 17 desses profissionais morreram com suspeita ou confirmação de infecção pela COVID-19 no Brasil.