Circula pela internet mensagem que recomenda a retirada de capachos na frente de portas, carpetes e tapetes em geral para barrar a disseminação do novo coronavírus. A indicação é de que são verdadeiros criadouros do micro-organismo. O alerta vem principalmente da constatação de que o vírus consegue sobreviver em algumas superfícies – dependendo do material, entre algumas horas ou por até vários dias.
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Profissionais do transporte coletivo de BH e Região Metropolitana começam a receber máscarasAutor de 'vídeo fake' na Ceasa é ouvido e diz que não esperava que material chegasse em BolsonaroPesquisa da Funed pode revelar características da COVID-19 presente em Minas e ajudar no combate ao vírusEstudantes de Medicina de Vespasiano participam de colação de grau remota e antecipadaMinas registra 33 mortes por coronavírus, e casos suspeitos chegam a 70 milSubnotificação de casos de coronavírus gera temor de catástrofe no BrasilA importância de manter o tapete limpo encontra motivos em diferentes situações da rotina. Em casa onde vivem crianças ou animais de estimação, por exemplo, com o costume dos pequenos em rolar nos tapetes, se houver alguma carga de contaminação nessa superfície, é um ponto a se observar. É o que explica o virologista Flávio da Fonseca, professor e pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ainda assim, essa é uma circunstância muito específica. “Por exemplo, uma pessoa que não está em quarentena e precisa sair à rua, pisa em alguma coisa, como um escarro ou uma cusparada, e esse material está contaminado, leva isso para casa e pisa no tapete, necessariamente transfere a contaminação para o tapete. E uma criança que rola no tapete pode acabar encostando. Aqui estamos falando do que a gente pode conduzir com o sapato”, esclarece.
Mas, como pontua o virologista, tudo isso aconteceria por uma série de coincidências infelizes – mesmo assim, deve haver precaução sobre esse problema também. “Um vírus no chão, onde o sapato pode ser contaminado, vive muito pouco. Exposto ao ambiente, em cima do asfalto, que tem temperatura elevada, com a incidência da radiação ultravioleta, quase não sobrevive. Mas se alguém cuspiu, outra pessoa pisa e, em um espaço curto de tempo, leva para casa, essa possibilidade de infecção é real”, diz. O tapete, continua, funciona como qualquer superfície porosa, como qualquer tecido. “Com a porosidade, se for um meio com um fluido biológico, pode proteger o vírus, que pode se entranhar na malha do tapete.”
Flávio explica que, propriamente quanto aos tapetes, não conhece estudos que falem sobre o período de sobrevivência do coronavírus. Entretanto, em analogia com trabalhos sobre tecidos, já foi constatado um tempo de sobrevida para o micro-organismo entre 48 horas até seis dias, intervalo em que pode permanecer infeccioso.
Combinação nociva
Quanto à higienização, qualquer saponáceo que tenha aplicação para tapete é eficiente – a atenção deve ser para produtos que possam danificar o tapete, como água sanitária e outros químicos. Para o virologista, é desnecessário retirar todos os tapetes do ambiente. “É uma situação muito particular. Colocar um pano com água sanitária na porta de casa é mais adequado.” Não entrar com o sapato é outra recomendação pertinente.
A infectologista da Cia. da Consulta Susanne Edinger lembra que tapetes não são higiênicos. São fontes de proliferação de ácaros e outros resíduos. “Com os sapatos, também carregamos uma série de impurezas da rua para dentro de casa. A combinação entre tapetes e sapatos é nociva, o que já de longa data é sabido. Em tempos de pandemia, acabamos por nos dar conta de detalhes que até então pareciam invisíveis”, diz.
Ela ressalta que a limpeza dos tapetes deve ser regular, da mesma forma como é feito com artigos de banho. “A recomendação não é extingui-los, mas higienizá-los. O envelope viral é sensível a água e sabão.” Como medidas de precaução, Susanne orienta evitar andar com calçados dentro de casa; retirá-los ainda na porta; realizar a higiene dos sapatos, essencialmente na sola, e deixar secar em ambiente arejado; evitar pisar nos tapetes ao chegar da rua com o calçado sujo; manter a higiene regular dos tapetes da entrada das residências, lavando com água e sabão ou produtos próprios, e deixá-los secar ao sol, sempre que possível.
A infectologista Raquel Muarrek, da Rede D'Or, prefere, por outro lado, não usar e retirar os tapetes em época de pandemia. “Geralmente, é um item que as pessoas não lavam com frequência. E já é comprovado que o coronavírus sobrevive em superfícies, principalmente em materiais rugosos”, pondera.
Gerente da Apn Clean, empresa especializada em limpeza de tapetes em Belo Horizonte, Juliana Bárbara Machado diz que o ideal é que a limpeza seja realizada por profissionais para garantir a eficácia, mesmo porque nesses processos são usados produtos específicos, como os com base de peróxido de hidrogênio, o mesmo agente aplicado em limpeza hospitalar. “Este produto garante a eliminação de fungos, ácaros, bactérias e vírus, incluindo o coronavírus”, reforça.
No processo de limpeza, a empresa opta por realizá-la no ambiente da lavanderia, o que é fundamental para assegurar a qualidade. “Aqui, a limpeza do tapete começa com a aspiração de partículas e é finalizada com a secagem em estufa. O tapete é recolhido na casa do cliente e entregue após o término das etapas”, descreve Juliana.
Tapetes e capachos menores, que normalmente são lavados em casa, podem ser higienizados com água e sabão de uso doméstico. Para quando não é possível lavar em casa, acrescenta a profissional, devem ser aspirados. É importante observar os produtos de limpeza adequados, pois pode haver acúmulo de umidade, outro risco para o aparecimento de fungos e outros micro-organismos.
“Indicamos a limpeza a cada seis meses, ou quando necessário. Para manter a limpeza profissional por mais tempo e evitar a propagação de micro-organismos, sugerimos a colocação de panos umedecidos em uma solução de água e cloro na entrada de casa”, salienta Juliana. Manter os tapetes limpos, continua, reduz potencialmente o risco de propagação do coronavírus, além de minimizar a ocorrência de doenças respiratórias e crises alérgicas. “Podemos incluir ainda a limpeza dos estofados e colchões, pois também são hospedeiros de agentes nocivos à saúde.”
O que é o coronavírus?
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.
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