Minas Gerais está articulando a compra de respiradores diretamente de uma empresa da China para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). A negociação é feita com o apoio da companhia chinesa Honbridge Holdings Ltda, de Hong Kong, controladora da Sul Americana de Metais (SAM) e dona de megaprojeto que visa à exploração de minério de ferro no município de Grão Mogol, no Norte de Minas.
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Ainda falta definir a qual a quantidade de equipamentos será importada.
O objetivo é “driblar” as barreiras que surgiram diante da disputa mundial pelos respiradores fabricados na China com o avanço da pandemia. A compra direta de um fabricante do país asiático tenta não só reduzir custos (muito elevados por atravessadores com a alta demanda) como agilizar o prazo de entrega dos aparelhos, fundamentais para salvar vidas.
Nesta semana, ganhou destaque na imprensa a iniciativa do governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), que comprou 107 respiradores e 200 mil máscaras na China e montou um plano de guerra para trazer o carregamento. Para evitar a Europa e Estados Unidos, Dino fez com que a encomenda passasse pela Etiópia e encarasse a alfândega brasileira apenas no Maranhão.
Conforme apurou a reportagem, na compra dos itens o governo do estado pretende usar recursos da ordem de R$ 84 milhões, recebidos da empresa mineradora anglo-australiana BHP Billiton, uma das controladoras da Samarco, dona da barragem de rejeitos do Fundão, que rompeu em Mariana, em 5 de novembro de 2015.
As ações para a aquisição dos respiradores junto aos fabricantes da China foram divulgadas pelo deputado José Reis, o Zé Reis (Podemos), representante da Assembleia Legislativa no Comitê Extraordinário COVID-19, do governo estadual. Ele disse que fez a “ponte” com o grupo chinês dono do megaprojeto de mineração do Norte de Minas, que prevê investimentos de R$ 7, 9 bilhões. A partir daí, o grupo entrou em contato com a Geely na China, obtendo uma lista de empresas fornecedoras dos respiradores.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) não citou diretamente os chineses, mas confirmou a negociação para a importação dos equipamentos. “A Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão analisa oportunidades de compras de insumos para o combate da COVID-19, em especial de respiradores, de acordo com demandas da Secretaria de Saúde. No momento, o estado mantém diferentes negociações com fornecedores e importadoras, observando preços e prazos de entregas”, informou a pasta, por meio de nota.
Por sua vez, o grupo chinês responsável pelo megaprojeto minerário do Norte de Minas confirmou a intermediação. Também por meio de nota, a empresa Honbridge diz que, “sensível ao enfrentamento da pandemia de coronavírus em Minas Gerais, se dispôs a ajudar no contato do Governo de Minas com a Geely para identificar e negociar com fabricantes de respiradores na China”.
A articulação conta com o envolvimento direto do CEO da SAM, o também chinês Jin Yongshi. “A Geely, em conjunto com seus proprietários, a família de Li Shufu, é a controladora da Honbridge. O governo de Minas deve passar informações sobre os equipamentos que deseja comprar, como quantidade, modelo e documentação exigida na importação para que as tratativas entre a Geely e o governo mineiro prossigam”, indicou a empresa.
Sobrepreço
O deputado Reis disse que, diante da grande demanda, os respiradores chineses subiram a valores exorbitantes, por conta dos atravessadores. Custavam em torno de R$ 50 mil e passaram para R$ 400 mil. “Com a compra direta na China, acreditamos que esse valor vai se reduzir muito, ficando entre R$ 150 mil e R$ 180 mil cada aparelho”, projeta o parlamentar.
Um outro obstáculo a ser encarado é o transporte dos equipamentos do país asiático até o Brasil. Nesse caso, a ideia é que, se o Executivo de Minas Gerais efetivar a compra direta, os respiradores sejam transportados “de carona” nos aviões que o governo brasileiro vai enviar à China para buscar insumos e equipamentos de proteção individual (EPIs) usados contra a COVID-19.
O parlamentar observou que o governo estadual recuperou mais de 200 respiradores que estavam em desuso em hospitais mineiros, Porém, fez uma estimativa inicial de que precisa de 1.600 aparelhos. “Mas acreditamos que a necessidade será bem maior do isso para atender regiões como o Norte de Minas, onde a quantidade de leitos de UTI nos municípios é pequena”, afirmou.
Reis afirmou que Minas Gerais “terá que se virar” na criação de estrutura de atendimento para o “pico” do coronavírus, porque o Ministério da Saúde informou que, até agora, a União conseguiu adquirir em torno de 6 mil respiradores, quantidade ainda insuficiente para atender a demanda de todo o país e que os equipamentos serão entregues prioritariamente para os estados com os quadros mais graves do avanço da pandemia. E Minas ainda não se encaixa dentro dos critérios para o receber as primeiras remessas federais dos respiradores.
Respiradores chineses devem chegar à Bahia
Estados do Nordeste compraram cerca de 600 respiradores fabricados por uma empresa chinesa. A carga, no entanto, acabou ficando retida no Aeroporto de Miami, no Estados Unidos, e não chegou ao Brasil. Nesta sexta-feira (17), o governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse que os equipamentos, além de outros insumos destinados ao enfrentamento da pandemia, devem começar a chegar na próxima semana.“Estamos buscando formas de conseguir um avião para transportar os equipamentos. Temos conversado com companhias aéreas e donos de aeronaves particulares para buscar os insumos na China o mais rápido possível”, comentou.
Colaborou Guilherme Peixoto