Falta de alimentos, risco de contaminação e um cenário de incertezas. Desde que a expansão do coronavírus tomou conta do país, as dificuldades da aldeia Naô Xohã, localizada no município de São Joaquim de Bicas, na Grande BH, tomaram proporção ainda maior. Preocupadas com o risco de propagação, as lideranças pedem amparo da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para ajudar nas questões financeiras e conservar a saúde durante o período da pandemia.
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A comunidade teve esta semana um caso suspeito de COVID-19. Uma adolescente de 15 anos apresentou os sintomas da doença e, segundo as lideranças da aldeia, foi imediatamente isolada para evitar a contaminação de outras pessoas. Na comunidade de pouco mais de 200 pessoas, pelo menos 18 famílias foram postas em quarentena como medida de prevenção. Desde então, eles paralisaram as atividades de artesanato, principal ganha-pão das centenas de pessoas que vivem na tribo.
“Estamos passando por momento crítico, porque temos nosso primeiro caso suspeito. Somos uma aldeia distante e longe do comércio. Há uma negligência da Funai de não ter dado cestas básicas para permanecermos na quarentena. Muitas pessoas têm saído para comprar alimento. É preocupante passar por esse momento, já que nossas famílias vivem sob risco”, ressalta o cacique Aracuã.
Uma das lideranças da Naô Xohã, o índio Te Hê entende que a falta de informação também é um problema: “Ninguém da Funai não se mobilizou e não entrou em contato conosco para nos passar orientações de como devemos prever a doença. É dever da Sesai cuidar da saúde de todos os índios".
Ele disse que a própria comunidade vem tomando providências para tentar minimizar o problema: "Até fechamos as portas da comunidade para ficarmos isolados. Estamos com muito medo. Mas é preciso que nos forneçam cestas, álcool em gel, luvas e máscaras para nos protegermos”.
Promessa não cumprida
Há 15 dias, o EM publicou reportagem afirmando que a Funai “articula junto a diferentes setores do governo a aquisição e distribuição de cestas básicas a indígenas em situação de vulnerabilidade”. Segundo a fundação, o objetivo é garantir a segurança alimentar dessas populações em meio à pandemia da COVID-19. Participam das tratativas o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), entre outros.
Procurada pelo EM, a Funai diz que a comunidade já vem sendo acompanhada pela Vale: "De acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), por meio do DSEI/MG-ES (Distrito Sanitário Especial Indígena), está sendo realizado o acompanhamento da aldeia Naô Xohã e a situação na comunidade está sob controle. Atua naquela aldeia uma equipe de saúde contratada pela Vale, em função de medidas de reparação do Desastre de Brumadinho, pelo qual a aldeia foi atingida. O trabalho dessa equipe é feito em coordenação com a Sesai".
Já a prefeitura de São Joaquim de Bicas, por meio de sua assessoria, garantiu que os habitantes aldeia Naô Xohã teriam o mesmo amparo com saúde, educação e questões sociais que os demais cidadãos. "Informamos que a Prefeitura de São Joaquim de Bicas em parceira com a empresa Vale e o Estado, realiza o suporte à Unidade de Saúde da Família, que fica dentro da aldeia Naô Xohã, e tem feito o trabalho necessário de conscientização, prevenção e combate ao Coronavírus junto dos indígenas pataxós-hã-hã-hães. Na oportunidade, esclarecemos que a Prefeitura sempre apoiou a aldeia dentro das possibilidades do município, mas a responsabilidade das ações junto aos indígenas são dos órgãos governamentais Sesai e da Funai".