A ideia é unir psicólogos a pessoas que querem fazer terapia on-line, ao mesmo tempo, aproveitar para doar: cada sessão paga uma consulta a quem não tem condições para isso. Todos os psicólogos que fazem parte do projeto estão cadastrados no e-Psi, do Conselho Federal de Psicologia, que certifica o psicólogo para atendimento on-line.
"Eu vi sentido na minha vida ajudar pessoas a verem sentido na delas. Com esse propósito que resolvi criar o Escuta Aqui. Uma coisa que sempre me incomodou desde que comecei a psicologia foi o fato de a psicoterapia tradicional ser considerada algo de 'luxo' no Brasil. E acredito muito que oportunidade e acesso são coisas bem diferentes. Por outro lado, muitos conhecidos que poderiam pagar por uma sessão estavam enfrentando desafios emocionais que muitas vezes não era presente ou foi amplificado com o isolamento", relatou ele.
Por meio de uma conversa com uma amiga da mesma área, Matheus se deu conta de que, com as medidas de isolamento social, o atendimento aos pacientes estava ficando difícil. Isso porque a quantidade tinha diminuído bastante. "Resolvi perguntar para outros e a resposta foi comum quanto a isso", contou. Diante disso, Matheus decidiu criar o Escuta Aqui.
Terapia on-line funciona?
O especialista garante: a psicoterapia on-line é uma prática reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia e, sim, funciona. Mas ressalta que faz parte da cura o desejo de ser curado. "Isso serve tanto para o on-line quanto presencial", acrescentou.
Matheus explica que as sessões on-line são feitas por chamadas de vídeo, por ferramentas que atendem a protocolos internacionais de segurança. Eventualmente, também, os acolhimentos poderão ser feitos por ligação tradicional ou mensagens de texto – caso o acesso esteja remoto não disponível no momento.
"O ideal é sempre o paciente buscar um ambiente que tenha sigilo, ter uma boa conexão à internet, seja pelo computador ou celular, e estar de forma genuína naquele momento, com menos distração possível", detalha.
Saúde mental e o isolamento social
De acordo com o especialista, foi preciso o eco do isolamento para percebermos o quanto estávamos isolados. Ao mesmo tempo, frisa, o que levou a nos isolar é o que faz nos aproximar. "Quanto tempo já perdemos em mesas de jantares vidrados no celular e nem lá e nem cá, quantos abraços que demos no automático? Hoje é o que mais estamos esperando voltar. O isolamento social escancara o olhar pra si", aponta. "Mas, com isso, as vulnerabilidades das pessoas aparecem, e para os que já estavam acostumados a vê-las, elas surgem. Já para quem não estava, elas assustam".
Assim, ele defende que o tempo de isolamento social é um tempo de ressignificar muita coisa. E é justamente nisso que a terapia se propõe a ajudar. "Pessoas que começaram a lidar com sintomas de ansiedade, problemas no relacionamento ou simplesmente a angústia da ausência do outro. Essencialmente, somos reconhecidos pelo outro, e a importância de sentir o outro nesse momento é grande, seja pela escuta, pelo olhar, pela leitura, isso nunca teve tanta importância", afirma.
E, segundo o psicanalista e psicólogo, o melhor momento para procurar ajuda é agora. "Por muito tempo, o senso comum colocou a psicoterapia como algo apenas para quem estava com algum sofrimento mental. Em décadas passadas, pessoas tinham vergonha de dizer que faziam terapia. Quantas vezes escutei: 'eu não preciso de psicólogo, isso é coisa de doido'". Ainda que o cenário tenha mudado um pouco, ele vê tudo com "caminho longo".
Na avaliação do especialista, mesmo que, aparentemente, "você não precise", este é melhor momento. "Por outro lado, se você já vem sentindo sintomas de ansiedade, stress, angústia e por aí vai, esse é o momento também. Nunca ouvi dizer de alguém que se arrependeu de fazer terapia", acrescenta.
Como buscar o atendimento on-line
Psicanálise, terapia analítica, psicodrama, psicologia comportamental e gestalt. Todos os psicólogos que fazem parte do projeto têm o cadastro no e-Psi, do Conselho Federal de Psicologia, que certifica o psicólogo para atendimento on-line.
"Para os interessados que queiram uma ajuda, disponibilizamos um profissional da psicologia para essa orientação prévia de qual é a melhor sequência de tratamento para aquela pessoa", aponta Matheus Santos.
O valor é acordado individualmente, mas, em média, os acordos são de R$ 287 por mês para sessões semanais e R$ 187 por mês para sessões quinzenais. A plataforma cobra uma taxa pela intermediação.
Sessões para pessoas de baixa renda
A cada sessão paga, o projeto doa outra para o atendimento social. Todos os atendimentos sociais são destinados a projetos cadastrados previamente. Para isso, há uma área no site.
"O atendimento gratuito é suspenso em caso de recorrência de ausências não justificadas. As pessoas de baixa renda podem se cadastrar, mas o ideal é que seja pertencente a algum projeto social já cadastrado", acrescentou.
Como fazer parte da rede de psicólogos
Para os psicólogos fazerem parte do projeto, eles deverão se cadastrar no e-Psi, do Conselho Federal de Psicologia, que certifica o psicólogo para atendimento on-line. Após isso, ele pode se cadastrar no www.escutaaqui.com. O credenciamento ocorrerá de acordo com a demanda de atendimento. "Temos psicólogos de várias abordagens e todas são bem-vindas", diz. A plataforma cobra uma taxa pela intermediação.