Jornal Estado de Minas

COVID-19

Coronavírus: governo de Minas tenta comprar respirador diretamente da China

 
 
Minas Gerais está articulando a compra de respiradores diretamente de uma empresa da China para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). A negociação é feita com o apoio da companhia chinesa Honbridge Holdings Ltda, de Hong Kong, controladora da Sul Americana de Metais (SAM) e dona de megaprojeto que visa à exploração de minério de ferro no município de Grão Mogol, no Norte de Minas. A empresa e o governo do estado estudam uma forma de negociar o preço dos equipamentos e viabilizar o transporte para o Brasil, evitando a retenção em outros países.



A meta é que, sendo fechada a “compra direta”, os respiradores possam ser disponibilizados em um intervalo entre sete e 15 dias, com preços acessíveis – com redução de custo mais do que a metade dos valores praticados pelos atravessadores. Ainda falta definir a quantidade de equipamentos que será importada.

O objetivo é “driblar” as barreiras que surgiram diante da disputa mundial pelos respiradores fabricados na China com o avanço da pandemia. A compra direta de um fabricante do país asiático tenta não só reduzir custos (muito elevados por atravessadores com a alta demanda) como agilizar o prazo de entrega dos aparelhos, fundamentais para salvar vidas.

Nesta semana, ganhou destaque na imprensa a iniciativa do governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), que comprou 107 respiradores e 200 mil máscaras na China e montou um plano de guerra para trazer o carregamento. Para evitar a Europa e os Estados Unidos, Dino fez com que a encomenda passasse pela Etiópia e encarasse a alfândega brasileira apenas no Maranhão.



A negociação feita pelo governo mineiro conta com a participação da holding Geely, controladora da Honbrigde e sediada na China, que se dispôs a entrar em contato com os fabricantes de equipamentos médicos e insumos do país asiático para facilitar a venda e a entrega dos respiradores para o estado dentro de curto espaço de tempo. A Geely pertence ao bilionário chinês Li Shufu, um dos homens mais ricos do mundo.

Conforme apurou a reportagem, na compra dos itens, o governo do estado pretende usar recursos da ordem de R$ 84 milhões, recebidos da empresa mineradora anglo-australiana BHP Billiton, uma das controladoras da Samarco, dona da barragem de rejeitos do Fundão, que rompeu em Mariana, em 5 de novembro de 2015.

As ações para a aquisição dos respiradores junto aos fabricantes da China foram divulgadas pelo deputado José Reis, o Zé Reis (Podemos), representante da Assembleia Legislativa no Comitê Extraordinário COVID-19, do governo estadual. Ele disse que fez a “ponte” com o grupo chinês dono do megaprojeto de mineração do Norte de Minas, que prevê investimentos de R$ 7, 9 bilhões. A partir daí, o grupo entrou em contato com a Geely na China, obtendo uma lista de empresas fornecedoras dos respiradores.



Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) não citou diretamente os chineses, mas confirmou a negociação para a importação dos equipamentos. “A Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão analisa oportunidades de compras de insumos para o combate à COVID-19, em especial de respiradores, de acordo com demandas da Secretaria de Saúde. No momento, o estado mantém diferentes negociações com fornecedores e importadoras, observando preços e prazos de entregas”, informou a pasta, por meio de nota.

Por sua vez, o grupo chinês responsável pelo megaprojeto minerário do Norte de Minas confirmou a intermediação. Também por meio de nota, a empresa Honbridge diz que, “sensível ao enfrentamento da pandemia de coronavírus em Minas Gerais, se dispôs a ajudar no contato do governo de Minas com a Geely para identificar e negociar com fabricantes de respiradores na China”.

SOBREPREÇO

O deputado Reis disse que, diante da grande demanda, os respiradores chineses subiram a valores exorbitantes, por conta dos atravessadores. Custavam em torno de R$ 50 mil e passaram para R$ 400 mil. “Com a compra direta na China, acreditamos que esse valor vai reduzir muito, ficando entre R$ 150 mil e R$ 180 mil cada aparelho”, projeta o parlamentar. Um outro obstáculo a ser encarado é o transporte dos equipamentos do país asiático até o Brasil. Nesse caso, a ideia é que, se o Executivo de Minas Gerais efetivar a compra direta, os respiradores sejam transportados “de carona” nos aviões que o governo brasileiro vai enviar à China para buscar insumos e equipamentos de proteção individual (EPIs) usados contra a COVID-19.