Os irmãos mineiros Isac e Isaura dos Santos Lopes, respectivamente de 27 e 20 anos, vão conseguir deixar Córdoba, na Argentina, e retornar ao Brasil. Com a ajuda do consulado brasileiro na cidade, eles vão viajar de ônibus até Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. De lá, seguirão, também de ônibus, para Porto Alegre, onde tomarão um avião para São Paulo e, em seguida, outro para Belo Horizonte. Aí, de carro, completarão o percurso de carro até o Quilombola do Suaçuí, entre as cidades de Coluna e Paulistas.
Para Isac e sua irmã, a notícia que chegou na manhã deste sábado significa o fim de um pesadelo, que teve início na última dezena de março, quando o curso presencial de espanhol que foram fazer, na Cepe Idiomas, teve as aulas presenciais interrompidas por causa da pandemia do novo coronavírus e, uma semana depois, foi encerrado.
Quando isso aconteceu, os irmãos iniciaram uma luta, diária, que implicava em ir ao consulado do Brasil pedir ajuda, para conseguir voltar para casa. "No início, diziam que a gente teria de pagar R$ 500, cada um, pela passagem até Uruguaiana e que, de lá, estaríamos por conta própria. Mas, depois, tivemos a ajuda da diretora da escola, que é uma brasileira, Fátima Maria Vieira, que intercedeu pela gente. Agora está tudo resolvido", diz Isac.
Ele conta também que o consulado deu uma ajuda financeira enquanto permanecerem na Argentina, e também uma ajuda para a viagem. “Para que possamos nos alimentar.”
No grupo, além de Isac e Isaura viajarão duas capixabas e dois sul-mato-grossenses, que estavam na mesma escola. Alguns brasileiros que faziam o curso de idiomas preferiram voltar para Buenos Aires, e lá, conseguiram ajuda para retornar ao Brasil.
Com a confirmação da viagem, Isac faz planos: “Vamos sair daqui no domingo à noite e chegaremos a Uruguaiana na segunda-feira pela manhã. Tomaremos outro ônibus para Porto Alegre, indo direto para o aeroporto. Chegaremos à noite e teremos de dormir lá, pois o avião para São Paulo só sai na manhã de quarta. Esperamos conseguir pegar outro voo para Belo Horizonte. Depois, vão nos pegar em Confins".
Assim que chegarem ao Brasil, segundo Isac, eles estarão por conta própria. "Recebemos ajuda financeira de muitas pessoas na Argentina, onde fomos muito bem tratados. Essa ajuda será muito importante para conseguimos voltar para casa".
Ele afirma ainda, que a participação da comunidade quilombola foi muito importante para definir a volta: "O pessoal da comunidade se manteve em contato com o Itamaraty e explicou nossa situação e insistiu na necessidade da nossa volta. Agradeço também ao Estado de Minas, cuja ajuda foi muito importante".
A comunidade Quilombolas do Suaçuí, segundo Isac, está se preparando para recebê-los. "Nossa casa é pequena e moram 14 pessoas, entre adultos e crianças. Meu pai tem 80 anos. Por isso, já arrumaram um lugar para que eu e a Isaura façamos uma quarentena. Vão nos levar comida todos os dias. E planejo estudar espanhol no tempo em que estiver recolhido. Existe um medo muito grande do coronavírus na comunidade, principalmente por causa da nossa raça", comenta.
Abandonados
A sensação do casal Eduardo Pereira de Almeida, de 55, engenheiro, e Simone Faleiros de Melo, de 44, advogada, que estão retidos desde março em Windhoek, na Namíbia, onde estavam em férias, é de completo abandono pelo governo brasileiro."O pessoal do consulado simplesmente desapareceu desde a nossa única conversa, na manhã de sexta-feira. Esqueceram-nos aqui. Teríamos de sair de Windhoek para ir para Luanda, em Angola, para pegar o voo de volta ao Brasil, no mais tardar, na manhã deste sábado. São dois mil quilômetros de distância. No mínimo, três dias de viagem. O voo partirá no dia 21, terça-feira. Mas parece que não existimos para eles", desabafa Eduardo.
Apesar do silêncio do consulado, ele e Simone mantêm a esperança. “Se nos disseram que estaremos no voo e que teremos o salvo conduto, sairemos daqui neste sábado e vamos percorrer os dois mil quilômetros em tempo recorde", afirma Eduardo.
Continuam inalterados os casos de Tawler Andrade dos Santos, de 31, natural de Ponte Nova, onde vive e trabalha, que está retido na Venezuela; e do casal de Belo Horizonte André de Rezende Jardim, de 42, e Júlia Cristina Magalhães Prates, de 36, que está no Chile, onde a viagem que faziam, de carro, com destino ao Alasca, foi interrompida.
Eles ainda não sabem se sairão, e nem como. Também parecem esquecidos pelo Itamaraty.