O uso de máscaras passa a ser obrigatório em Belo Horizonte a partir de hoje. De acordo com decreto municipal publicado na última sexta-feira, a medida é válida para todo espaço público da cidade, transporte coletivo e para os estabelecimentos comerciais. As lojas terão de afixar cartazes informando sobre como usar a máscara e o número de clientes permitidos ao mesmo tempo no local. Medida essa para evitar aglomerações. A fiscalização será feita pelos próprios comerciantes. Se descumprirem a norma, poderão ser punidos com a perda do alvará de funcionamento.
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Debate
A polêmica medida abraçada por prefeituras mineiras segue as recomendações atuais do Ministério da Saúde, que mudou suas instruções em relação ao uso de máscaras de proteção por pessoas que não apresentam sintomas do novo coronavírus. No entanto, especialistas divergem com relação à eficácia do uso irrestrito do equipamento. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) admite que não existem atualmente estudos conclusivos que comprovem a eficiência de máscaras caseiras. Recentemente, a OMS reuniu em um guia orientações sobre a utilização de máscaras em países que, assim como o Brasil, recomendam o uso por pessoas sem sintomas e reforçou que as máscaras cirúrgicas e respiradores, como N95, devem ser prioritariamente distribuídas a profissionais da saúde. O guia também ressalta prós e contras do uso da máscara por pessoas assintomáticas. Uma possível vantagem seria a redução do risco de transmissão por pessoas que ainda não apresentaram sintomas como tosse seca e febre.Em contrapartida, o texto elenca uma série de riscos quanto ao uso do equipamento, como autocontaminação por toque e reutilização da máscara, dificuldades respiratórias e falsa sensação de segurança, o que pode levar a uma menor adesão a outras medidas como distanciamento físico e higiene das mãos. Tendo em vista as contradições com relação ao uso do equipamento, o Estado de Minas conversou com três especialistas a respeito da questão para entender melhor a polêmica.
Para a professora-adjunta do Departamento de Microbiologia da UFMG Jordana Coelho dos Reis, como já existem estudos que comprovam que pessoas que utilizam máscaras cirúrgicas disseminam menos o vírus, em um contexto de calamidade como o atual, o uso de máscaras caseiras vem a ser uma alternativa recomendável. “Os estudos são baseados em máscaras cirúrgicas. As máscaras caseiras são alternativas e vão ter sobrevida menor, principalmente se não forem usadas adequadamente”, defende.
Medida secundária
A OMS não recomenda o uso de máscaras por pessoas saudáveis por considerar a medida desnecessária. Nesse quesito, os especialistas têm opiniões divergentes. Enquanto para uns os riscos não compensam o benefício, para Jordana, tendo em vista que a COVID-19 pode não se manifestar em pacientes infectados, o uso da proteção poderia controlar a disseminação do vírus por pessoas que nem sequer sabem que estão com a doença.
“As pessoas assintomáticas podem estar infectadas, é o que chamamos de teoria do iceberg. A gente só vê a ponta da infecção, mas temos muitos casos subnotificados e as microgotículas de saliva e contaminantes podem ser propagados mesmo por pessoas assintomáticas, por isso o uso da máscara é importante.”
Há um consenso entre os especialistas entrevistados pelo EM com relação ao uso de quaisquer tipos de máscaras – sejam elas caseiras ou não. Para os especialistas, a utilização deste equipamento pela população deve ser uma medida secundária.
As recomendações principais para se prevenir da infecção pelo novo coronavírus continuam sendo o isolamento social e a higienização das mãos, como explica o infectologista e professor da UFMG Mateus Westin.
“Quando as pessoas estão de máscara, elas podem relaxar com relação às outras medidas de prevenção. Elas podem conversar mais próximas umas das outras, encostar mais umas nas outras, levar mais a mão no rosto sem fazer a higienização adequada e, inclusive, levar mais as mãos ao rosto para ajustar a máscara, porque a máscara sai do lugar, esquenta, dificulta a respiração e muitas vezes esses fatores podem gerar a confusão no potencial benefício do uso da máscara”, pondera Westin.
Jordana também destaca que a higienização das mãos é fundamental. “Mesmo com a máscara, se a pessoa colocar a mão no rosto ela pode ser infectada. A mão é o principal veículo para trazer o coronavírus para dentro do nosso organismo.”
Já a microbiologista Viviane Alves, também da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pontua que, além da falsa sensação de segurança que a máscara pode proporcionar, a utilização do equipamento caseiro feito de pano exige cuidados específicos com relação à lavagem, ao tempo de uso e utilização.
“Deve haver ações educativas voltadas para os mais vulneráveis, para que eles compreendam que a máscara não os protege, e sim, minimiza o risco, e que outras medidas de prevenção são obrigatórias”, alerta. Para ela, entre as opções de máscaras caseiras, a mais recomendada, por ter sido cientificamente testada, é a confeccionada com toalha de papel, que deve ser descartada e não reutilizada, como as de pano.
Papel-toalha
Outro fato apontado por Viviane seria o tamanho das partículas contaminantes do vírus que poderiam penetrar certos tipos de tecido, contaminando a própria pessoa que está usando.“Se vamos usar, o ideal é que fossem as cirúrgicas. Não tem a cirúrgica para todo mundo, por enquanto, mas a produção deve aumentar. Enquanto isso, a gente precisa ter cuidados muito importantes, porque senão a máscara vai se tornar uma fonte de infecção. Pode ser do tecido que for, se ela ficar suja, se não trocar a cada duas horas, se não lavar diariamente, a pessoa corre o risco de estar fazendo pior. Então, eu creio que é melhor ficar sem. Mas como a ordem agora é usar, o ideal é que seja uma máscara que tenha como colocar um papel-toalha dentro para que ele absorva a umidade porque a gente vai respirando, vai ficando úmido e essa umidade facilita que coisas de fora entrem”, alerta Viviane.
Outro consenso entre os especialistas é que o uso de máscaras não impede a contaminação de pessoas saudáveis, e sim, dificulta a propagação do vírus por pessoas doentes.
“Não existem evidências conclusivas de que usar máscara na população em geral ajude a combater a transmissão da epidemia e a propagação do vírus no contexto acadêmico. Mas existe essa plausibilidade de que, como a infecção pelo coronavírus vem sendo transmitida por pessoas sem sintomas ou com poucos sintomas, a estratégia de que todos devem usar máscaras impede que, através da fala, tosse e espirro a pessoa fique disseminando partículas respiratórias contendo vírus no ambiente. Ainda assim, existem todos esses fatores que podem se contrapor a esse potencial benefício. Então, o fato é que é uma medida polêmica do ponto de vista científico.” *Estagiária sob supervisão o editor Álvaro Duarte
O que é o coronavírus?
Como a COVID-19 é transmitida?
Como se prevenir?
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
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