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Estado de Minas

Ao chamar o Samu, avise se tiver sintomas de COVID-19, pede enfermeira

Na linha de frente, Patrícia Aguiar destaca importância de a equipe de socorro se preparar para o atendimento


postado em 26/04/2020 04:00 / atualizado em 25/04/2020 22:42


"Não tenham medo de dizer que o paciente está sofrendo sintoma [ao ligar para o Samu], o atendimento não vai ser negado, mas aí a equipe vai com o equipamento adequado para fazer o atendimento. Estamos muito expostos"

Patrícia Aguiar de Oliveira Soares,Enferme ira do SUS BH há 11 anos e professora de enfermagem na Unifenas

Durante a pandemia de coronavírus, há várias formas de ajudar: em geral, a melhor delas é ficar em casa para evitar a transmissão do vírus, altamente contagioso. Por outro lado, há profissionais que precisam ir para a frente de batalha, lutar contra o maior inimigo global atualmente. A enfermeira Patrícia Aguiar, que trabalha no Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte há 11 anos, é uma dessas pessoas. Sua rotina foi alterada com a chegada do vírus ao país e, desde então, sente a solidão de uma mãe que não vê o filho há um mês, mas também com a satisfação de ver seu trabalho sendo valorizado. É em meio a esse contraste de sentimentos que ela, a cada dia, reforça sua conduta, não de heroína, mas de ser humano. 

Duas vezes por semana, Patrícia enfrenta jornada de 12 horas aguardando chamadas de belo-horizontinos que acionam o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela compõe a equipe da Unidade de Suporte Avançado (USA) 04, baseada no 1º Batalhão de Bombeiros Militar, na Região Centro-Sul de BH. Seu serviço se baseia em atender pacientes que necessitam de cuidados emergenciais, como aqueles que sofrem acidentes de trânsito.

No entanto, no meio de março, sua rotina foi alterada. Com a chegada do coronavírus ao país, a atenção e os cuidados no trabalho tiveram que ser triplicados. Se antes usar equipamentos de proteção individual (EPIs) – luvas, máscaras e macacão – era o necessário, agora ela precisava de ainda mais. “Em todos os meus anos de carreira, nunca imaginei que íamos viver uma coisa dessa”, conta a profissional, que é enfermeira desde 1998.

O maior baque foi no dia 16, quando decidiu enviar seu filho Vinícius, de 15 anos, para morar com o pai, já que tinha medo de contaminá-lo. “Faz um mês que não vejo meu filho, a gente fica morrendo de saudade. Por isso, criei uma forma de  me comunicar todo dia com ele por vídeo, para ver como ele está. O Vinícius gosta muito de mitologia grega, então fiz uma live no Instagram com ele e começamos a conversar com as pessoas sobre isso. Desde então, voltei a estudar para estar alinhada com o pensamento dele. Estamos longe, mas, ao mesmo tempo, perto por causa da tecnologia”, detalha.

Atualmente, ela mora apenas com a irmã. Também devido à COVID-19, Patrícia não vê seus pais há muito tempo. Idosos, eles fazem parte do grupo de risco e atualmente estão isolados em casa, no Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul.

Ansiedade 

Enquanto estão focados para salvar vidas, os profissionais de saúde também sofrem com a enorme exigência de cuidados e atenção. Com Patrícia não é diferente: a cada ligação recebida pela central do Samu, a tensão aumenta.

Em meio a tudo isso, Patrícia encontrou a meditação como forma de aliviar a ansiedade gerada nos últimos dias. “Temos que tentar buscar uma serenidade, encontrar um ponto de equilíbrio nesse momento, senão a gente surta. O pânico não deixa a gente ver as coisas com clareza e a contaminação é o fator central desse vírus. A ansiedade tira muito a paciência da gente e é importante termos paciência”, defende a enfermeira, que publica dicas de meditação em seu perfil no Instagram (@pattyaguiar77).

Por fim, Patrícia pede para que as pessoas passem todas as informações necessárias ao ligar para a central do Samu. Isso porque, conforme ela explica, há ambulâncias e equipes especializadas para atender pessoas com suspeita de coronavírus e, portanto, omitir síndromes gripais faria com que a equipe enviada estivesse mais suscetível à contaminação. “Todos nós temos a capacitação para atender, mas isso ajuda no fluxo. Não tenham medo de dizer que o paciente está sofrendo sintoma, o atendimento não vai ser negado, mas aí a equipe vai com o equipamento adequado para fazer o atendimento. Estamos muito expostos”, ressalta.

Como enfermeira do Samu, Patrícia também atende outros tipos de acidente, mas frisa que o momento é de ficar em casa e que qualquer outra chamada pode afetar no fluxo do serviço. “Outro dia, em meio ao isolamento, fomos atender uma pessoa que se acidentou enquanto andava de bicicleta. Eu pediria para as pessoas prestarem atenção e desenvolver a consciência para tudo: higiene, cuidados com a casa e cuidado com todos nós. Esse cuidado agora é o isolamento e evitar ir aos locais onde tem mais pessoas”, finaliza.

*Estagiário sob supervisão do editor Álvaro Duarte


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