As práticas de prevenção, afastamento social e ações adotadas em Belo Horizonte garantiram até agora, segundo dados oficiais, uma situação de controle sobre a pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2) e menos danos ante as demais capitais brasileiras. Segundo dados do Ministério da Saúde e das secretarias municipais e estaduais da área, compilados pela reportagem do Estado de Minas, BH é a penúltima em volume de casos comparados à sua população, de 2,5 milhões, apresentando uma taxa de 21,7 diagnósticos confirmados da COVID-19 por 100 mil habitantes (entre as 50 cidades com mais casos do Brasil). O índice só perde para o de Curitiba, que é de 20,9 por 100 mil habitantes (confira a tabela). As ações refletem também na mortalidade de doentes, que faz de BH a quarta capital com menos óbitos entre os que adoeceram, com uma taxa de 2%, acima apenas de Porto Velho (1,7%), Florianópolis (1,6%) e Boa Vista (0,8%).
O resultado de um controle de casos e mortes tão efetivo é uma curva de evolução de óbitos com avanço suave, ao longo de 45 dias de circulação da doença na capital mineira. Nesse período, os registros de 11 pacientes que não se recuperaram e faleceram ocorreram em nove datas. O desempenho se aproxima ao de Vitória, capital com um óbito a mais. Contudo, a população capixaba é sete vezes menor, com 362 mil habitantes. A distribuição dos casos é também mais abrupta, com os 12 óbitos ocorrendo em sete dias, o que garantiu uma escalada mais drástica de óbitos, em 42 dias de circulação da doença. Para se ter uma ideia, a taxa de doentes por 100 mil habitantes de Vitória é mais de cinco vezes a de BH, com 115,7, enquanto a letalidade da doença alcançou 2,9%.
Os baixos números de Belo Horizonte também destoam fortemente das capitais com volume populacional de mesmo patamar. Como Brasília, de 3 milhões de habitantes e taxa de 34,9 casos por 100 mil residentes (1,6 vezes a capital mineira); Salvador, de 2,9 milhões e taxa de 50 por 100 mil (2,3 vezes); Fortaleza, de 2,7 milhões e taxa de 187 por 100 mil (8,6 vezes); e Manaus, de 2,2 milhões com registro de 124,7 por 100 mil (5,7 vezes).
Esse quantitativo de casos e de mortes da capital mineira é uma realidade praticamente paralela se comparado ao das maiores capitais nacionais, todas com curvas bruscas e acendentes. São Paulo por exemplo, como epicentro da pandemia no Brasil, figura em todas as tabelas com os piores resultados e uma taxa de mortes por 100 mil habitantes de 110,3, cinco vezes a belo-horizontina, enquanto os cariocas apresentam 78,3 por 100 mil, índice 3,6 vezes os registros de BH.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA), vários fatores contribuíram para uma situação menos crítica na capital mineira. O subsecretário de Promoção e Vigilância à Saúde, Fabiano Pimenta, destaca três como os principais pilares que sustentaram o controle mais efetivo sobre a transmissão do vírus. “Primeiro foi a opção clara da prefeitura pela preservação da vida, com a busca de se evitar aglomerações. Em segundo lugar, trabalhamos com dados confiáveis para manter ou ampliar as medidas tomadas e as ações preventivas, conscientizando a população sobre a necessidade da etiqueta da tosse (usando cotovelo para aparar e mantendo distância), além do uso de máscaras. O terceiro é a abrangência da rede assistencial, do Sistema Único de Saúde consolidado”, afirma.
O subsecretário destaca, ainda, que a cobertura da saúde muitas vezes não é valorizada como importante para os trabalhos de prevenção, mas é uma estrutura fundamental. “Por exemplo, tivemos uma campanha de vacinação contra a gripe e o município está com coberturas excelentes. Não é contra o novo coronavírus, mas ajuda ao profissional médico a fazer um diagnóstico preferencial (já que a incidência de doenças que provocam síndrome gripal ficarão reduzidas). Essa cobertura, nos idosos, chegou a 100%, mas não se reverteu em filas e aglomerações que seriam perigosas, porque conseguimos a parceria com farmácias e outros locais para atendê-los separadamente de pessoas que poderiam transmitir a COVID-19”, destaca Pimenta.
Autoridades receitam uso de recursos privados
O drama das 23 capitais brasileiras com mortalidade de doentes do novo coronavírus acima de Belo Horizonte e 25 com número de casos afetando proporcionalmente mais pacientes de sua população é destacado por nota técnica divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Ministério da Saúde. Justamente devido à aglomeração que é inerente a essas realidades, em seus sistemas de transporte, serviços de saúde e abastecimento. Uma das saídas para evitar o estrangulamento do sistema de saúde público quando a disseminação da doença foge ao controle, pode ser a utilização de espaços particulares para o tratamento dos doentes. “Há muitos desafios para comportar a demanda por cuidados em centros de maior aglomeração populacional, onde já são maiores os números de casos de COVID-19, mas também se situam mais recursos. A possibilidade de regulação única dos recursos públicos e privados precisa ser considerada fortemente”, sugere a nota.
A avaliação leva em conta também a distribuição dos casos pelo Brasil e os efeitos sendo agravados onde há menos disponibilidade de recursos. “Em termos gerais, as análises apontam as enormes diferenças regionais na disponibilidade dos recursos hospitalares considerados, com áreas amplas de vazios nas regiões Norte e Nordeste e maior concentração de recursos nas regiões Sul e Sudeste”.
O distanciamento social e as medidas preventivas figuram com destaque como sendo as ações que fazem com que cidades como Belo Horizonte tenham um controle maior dos casos e mortes. “As medidas para minimizar a circulação de pessoas continuarão sendo fundamentais para diminuir os níveis de transmissão da COVID-19, atenuar a propagação acelerada do vírus, distribuir a demanda por atendimentos no tempo e evitar colapso do sistema de saúde, mesmo sem desconsiderar que simultaneamente outras iniciativas de prevenção e tratamento sejam implementadas”, informa a nota.
O que é o coronavírus?
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.
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