Em uma semana, a quantidade de mortes por coronavírus em Minas Gerais saltou de 47 para 80, um incremento de 70,2%. O número real, porém, deve ser bem maior. Segundo dados atualizados em tempo real pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil), cartórios do estado registraram 143 óbitos com confirmação ou suspeita de COVID-19 até a tarde desta quarta-feira. A crescente nas estatísticas liga sinal de alerta na administração de Belo Horizonte, onde 1,9 mil covas exclusivas para vítimas da doença já começaram a ser abertas.
A medida faz parte de um plano de contingência, que envolve ampliação de infraestrutura, compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e contratação de profissionais. O Estado de Minas registrou nesta quarta-feira a abertura de covas nos cemitérios da Saudade e da Paz. Além dos dois, Belo Horizonte conta com outras três necrópoles públicas: a Capela Velório Barreiro e os cemitérios da Consolação e do Bonfim.
Ao anunciar a abertura das covas, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) citou Manaus e São Paulo para justificar a medida de prevenção. A cidade do Amazonas registrou 274 mortes por COVID-19 até essa terça-feira (78,1% do total do estado) e, em meio ao colapso do sistema funerário, empilha caixões em valas comuns. Já na capital paulista, a administração pública comprou milhares de sacos plásticos para envolver as vítimas da doença antes de enterrá-las.
"Fico horrorizado quando fico sabendo que um estado está importando um avião de caixão (Manaus), um avião inteiro. Os caixões acabaram. Fico horrorizado com a falta de sensibilidade. A prefeitura de São Paulo está encomendando saco plástico reforçados para embalar corpos. Não é ditadura ou gracinha... Não quero ser prefeito-coveiro. Vamos nos recuperar de tudo isso. O segundo passo, depois de salvarmos vida, é ajudar quem nos ajuda agora", disse o prefeito.
Em uma semana, Belo Horizonte registrou um aumento de 43,7% na quantidade total de mortes por COVID-19. Segundo boletim epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), são 16 óbitos confirmados em decorrência da doença - sete a mais que os nove da quarta-feira anterior. O número real, porém, tende a ser maior. Como mostrou levantamento do EM publicado no último dia 22, os dados publicados pelo governo apresentam defasagem de até uma semana. A desatualização se deve ao tempo para detectar o coronavírus como causa das mortes.
São ainda 561 casos confirmados de COVID-19 em Belo Horizonte. Assim como a quantidade de mortes, o número de infectados tende a ser maior. Isso porque a cidade só diagnosticou 5,9% das 30.366 notificações feitas no sistema de saúde local. Ou seja, 28.545 suspeitas ainda não sabem - ou nem saberão - se tiveram contato com o coronavírus.
Alerta
Outro fator que preocupa as autoridades sanitárias de Belo Horizonte é o número de notificações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que aumentou 299% em relação ao mesmo período de 2019. Em 2020, foram 1.232 casos registrados, 820 a mais que os 420 do ano passado. O incremento expressivo aumenta o alerta para a possível sobrecarga no sistema de saúde e indica o avanço na propagação do Sars-CoV-2 (novo coronavírus), embora outros vírus e bactérias também possam causar a doença.
Em Minas Gerais, o aumento de internações por SRAG em 2020 é ainda mais expressivo. Segundo a SES, o número de notificações saltou de 1.078 para 5.893, um incremento de 447% nos casos em relação ao mesmo período de 2019. No Brasil, o registro em cartórios de mortes por SRAG cresceu 1.012% desde o primeiro óbito confirmado por coronavírus, em 16 de março.