Cerimônias de casamentos adiadas, igrejas fechadas, missas e outras celebrações religiosas suspensas, enquanto as contas de água, luz e telefone não param de chegar, os salários de funcionários vão vencendo e as obras sociais seguem à espera de recursos. Mesmo com a flexibilização do isolamento social em alguns municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, as igrejas católicas vão continuar fechadas, e impedidas as aglomerações religiosas em espaços públicos abertos, conforme determinação da Arquidiocese de BH. Um exemplo está na tradicional Missa do Trabalhador, celebrada há 44 anos com a presença de milhares de pessoas, na Praça da Cemig, em Contagem. Nesta sexta-feira, a cerimônia será a portas fechadas, na Cúria Regional do município vizinho à capital, com transmissão, às 9h, pela Rede Catedral de Comunicação Católica (televisão, rádio e internet). Rezar, portanto, só em casa.
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Dom Darci lembra ainda que quase todas as paróquias fazem campanhas de arrecadação de alimento e vão iniciar a coleta de agasalhos. “Uma paróquia, em Datas, mobilizou costureiras para produzir máscaras caseiras. Todos os religiosos renunciaram a parte do salário, e as paróquias maiores adotaram as menores, a modo de paróquias-irmãs”.
Já é comum nas cidades ouvir o temor de padres quanto ao pagamento dos compromissos e dos trabalhos sociais. Com o cancelamento das tradicionais solenidades da semana santa, que atraem milhares de visitantes de todo o país e movimentam a economia local, párocos e auxiliares celebraram missas e conduziram ritos com transmissão pelas redes sociais. Houve gastos, mas não houve as tradicionais ofertas.
“Hoje, pagamos R$ 1.982 de luz e a folha de pagamento de funcionários está em R$ 41 mil, com encargos e benefícios. Se não entrou recurso, já estamos no negativo. Precisamos, então, de contar com a solidariedade”, diz o vigário paroquial da Igreja São José, no Centro de Belo Horizonte, padre Flávio Campos.
Padre Flávio explicou que o maior número de casamentos ocorre em maio e junho, mas nenhum foi desmarcado. “Todos foram adiados, com taxas já pagas. Felizmente, as obras de restauração da igreja, com a campanha São José é 10, já terminaram”, afirma o padre, pesaroso, de antemão, com o cancelamento das barraquinhas das festas juninas.
LOURDES E BOA VIAGEM
Na Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, outra preferida das noivas, cerimônias de casamento também foram reagendadas para o segundo semestre, embora alguns noivos tenham insistido em manter a data para junho e julho, conta o padre Gedeão Maia, há dois meses como titular da paróquia.
No Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua Nossa Senhora da Boa Viagem, houve também adiamento dos casamentos, que foram marcados para depois de abril em função das obras de restauro. “Uma noiva nos falou que precisamos ser flexíveis, mas isso já sabemos. De agora em diante, ninguém vai agir como antes”, diz o reitor e pároco Marcelo Silva.
Solidariedade em Rede
Mesmo em crise, a iniciativa Solidariedade em Rede, da Arquidiocese de BH, já alcança números expressivos. Segundo a assessoria da instituição, há 84 pontos de referência para amparo aos mais pobres, de modo descentralizado, compreendendo lugares carentes da capital e 14 municípios da Região Metropolitana de BH. No total, foram distribuídas 1,4 mil cestas básicas, 400 kits de limpeza, 500 kits de higiene e mais de 15 mil máscaras de proteção.
Proposta de gestão desperta polêmica
“Hoje pagamos R$ 1.982 de luz e a folha de pagamento
de funcionários está em $ 41 mil, com encargos
e benefícios. Se não entrou recurso, já estamos no negativo”
Padre Flávio Campos, vigário paroquial a Igreja São José, no Centro de BH
Com 28 municípios, 280 paróquias e 2 mil comunidades de fé, a Arquidiocese de Belo Horizonte vem se preparando para os impactos decorrentes da pandemia. “Temos que pensar na situação de todas as pessoas neste momento de dificuldade. E também não vamos dispensar os milhares de funcionários que trabalham conosco, na capital e no interior. São muitas famílias”, diz o bispo auxiliar dom Vicente Ferreira.
Ele informa que já é possível sentir os impactos na receita, por isso a Arquidiocese de BH trabalha com o projeto da gestão solidária para que uma paróquia ajude a outra neste momento de pandemia. “Estamos seguindo as determinações das autoridades, as igrejas estão fechadas, mas o recurso de muitas paróquias não dá para pagar as contas. Elas não estão isoladas, são parte de um todo”, diz o bispo auxiliar.
Dessa forma, há reunião dos bispos e conselhos pastorais da Arquidiocese de BH para elaboração de um plano de coleta comunitária. “Estamos empenhados em continuar nosso trabalho de evangelização”, afirma dom Vicente.
Diante de comentários que considera notícia falsa, a assessoria da Arquidiocese de BH divulgou nota de repúdio contra posts, e até um abaixo-assinado virtual que circula em redes sociais, dando conta de que o dinheiro das coletas, dízimo e contribuições seria depositado numa conta da Arquidiocese de BH, e que os fiéis não saberiam o destino da colaboração.
Diz a nota: “Isto é uma grande mentira. Atualmente, está em processo de formatação, com a participação dos padres, um plano para que as paróquias se ajudem. A ideia é criar uma gestão solidária dos recursos da Igreja, de forma ainda mais transparente. Isto significa que cada fiel, ao fazer sua oferta, continuará sinalizando para qual paróquia quer contribuir. A melhoria é que cada paróquia deverá apresentar um orçamento prévio, bem detalhado, que contemple as suas despesas (com obras, servidores, manutenção de templos). A ideia é justamente aperfeiçoar a destinação de recursos, para que sejam possíveis ações de ajuda mútua – as paróquias contribuindo umas com as outras”.
Segundo o texto o modelo não é novo, e tem mecanismos de controle: “Essa gestão solidária é praticada em vários países e no Brasil. Será acompanhada por muitos conselhos, que contam inclusive com importante participação de fiéis leigos. Não existe decreto, e sim uma proposta.