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Estado de Minas COVID-19

Transporte público deve ser bem gerenciado durante a flexibilização

Pesquisadores analisaram números de Nova York e Los Angeles, e conversam com autoridades de BH para auxiliar na flexibilização do isolamento


postado em 04/05/2020 18:45 / atualizado em 04/05/2020 19:14

Estudiosos compararam sistemas públicos de Nova Iorque e Los Angeles, nos Estados Unidos(foto: Reprodução/Pexels)
Estudiosos compararam sistemas públicos de Nova Iorque e Los Angeles, nos Estados Unidos (foto: Reprodução/Pexels)

Como serão as cidades quando o vírus for menos letal e o isolamento social não for mais necessário? Seguiremos nossas vidas da mesma forma como fazíamos antes? Se depender de pesquisadores de engenharia de transporte, a resposta é não. Um estudo ainda em andamento e elaborado por universidades mineiras e cariocas aponta que aquelas cidades que têm meios de transporte mais acessíveis foram também as mais afetadas pela COVID-19. O motivo? Nesses lugares, o vírus, que se iniciou em setores mais ricos da sociedade, se espalhou mais facilmente com a aproximação de setores sociais distintos.

Inicialmente, para elaborar a tese, pesquisadores do CEFET-MG, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) levaram em conta as cidades americanas Nova York e Los Angeles. Enquanto a primeira possui um dos melhores transportes públicos do mundo, a segunda é baseada em uma lógica automobilística e não se destaca quando o assunto é transporte público, principalmente se comparada a outras cidades importantes do país.

Os pesquisadores também levaram em conta às medidas de contenção das duas cidades, que, segundo eles, foram bem semelhantes. No entanto, Nova York apresenta um número de casos e mortes muito superior ao registrado em Los Angeles. Enquanto a cidade da Califórnia tem cerca de 25,6 mil casos e 1,2 mil mortes, a cidade mais famosa dos EUA já contabiliza 170,5 mil e 18,9 mil, respectivamente. Os dados são do governo norte-americano.

Conforme os pesquisadores destacam na parte inicial do estudo, 54,5% dos domicílios de Nova York não possuem carro, sendo que em Manhattan, o número chega à 76,6%. Já em Los Angeles, 12,2% dos domicílios não possuem carro.

A tese dos pesquisadores é de que a maior utilização do transporte público pelos nova-iorquinos possa ter acelarado a chegada do vírus a setores mais pobres da sociedade. Inicialmente, o coronavírus atingiu as pessoas com maior poder aquisitivo.  

“Nova York pode estar sendo penalizada em relação a Los Angeles por exibir uma conformação urbana mais democrática, em que o uso intensivo do solo, a oferta de espaços públicos e o transporte público de massa acessível, criam espaços propícios ao contato humano e, consequentemente, para o espalhamento da contaminação do vírus. Já Los Angeles, cujo processo de expansão contou com a figura indispensável do automóvel, apresenta maior resiliência à eventos de pandemia que exigem, num primeiro momento, a prática generalizada de distanciamento físico e social”, frisam no documento.

O mesmo padrão foi analisado em cidades como Barcelona e Madrid, na Espanha; e Milão, na Itália. 

Transporte "democrático"

Com as análises iniciais, os pesquisadores chegaram à conclusão de que os transportes públicos mais acessíveis influenciaram diretamente na propagação do vírus. Porém, conforme ressaltam, os pesquisadores não têm o objetivo de julgar um transporte de qualidade, desejado por todas as administrações públicas. 

“Nosso objetivo com esse estudo é pensar no futuro e não no agora. É pensar no que eu tenho que fazer e  como organizar o transporte coletivo para reduzir o contágio de contato entre essas pessoas. Queremos instruir as cidades e sistemas de transporte para que também sejam resilientes em momentos como esses”, explica Guilherme Leiva, do departamento de engenharia de transportes do CEFET-MG e um dos autores da pesquisa.

Leiva defende que, além de ter um transporte público de qualidade, é necessário descentralizar as cidades. “No Brasil, o grande problema das cidades é que só têm um único centro forte. Todo mundo faz viagem com um único destino. Todo mundo se mistura e usa o mesmo transporte. Se tivéssemos uma cidade mais descentralizada e o sistema de transporte atendesse bem, o contato entre as regiões seria mais ilimitado e haveria um transporte que otimizaria esse deslocamento de curta distância”, defende.

Belo Horizonte

Estudiosos analisam sistema de transporte público da capital mineira e ritmo da propagação do vírus em BH(foto: Divulgação/ Guilherme Leiva)
Estudiosos analisam sistema de transporte público da capital mineira e ritmo da propagação do vírus em BH (foto: Divulgação/ Guilherme Leiva)

Os pesquisadores pretendem agora levantar dados de Belo Horizonte, para auxiliar a administração pública a como lidar com o transporte público, quando o isolamento social for flexibilizado. A ideia é de que o estudo já esteja pronto antes mesmo do próximo dia 25, quando, segundo o prefeito da capital mineira, Alexandre Kalil (PSD), o isolamento será ajustado.

“Estamos pesquisando quais as linhas de Belo Horizonte são mais propícias ao contágio, Agora, começamos a entrar em contato com a BHTrans e Secretaria Municipal de Planejamento, para agregar valor e incluir as melhores estratégias”, ressalta.

*Estagiário sob supervisão da editora Liliane Corrêa


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