A máscara se tornou um item essencial para a proteção das pessoas diante da pandemia do novo coronavírus. Ao mesmo tempo, torna-se um objeto histórico que marca o momento atual. É com esse objetivo que nasce o projeto de uma designer de moda de se apropriar e levar alguma mensagem por meio desse tecido costurado ao elástico. Mais de 25 artistas - entre designers de moda, tatuadores, performances, até artistas plásticos - interviram, livremente, em uma máscara em branco.
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Coronavírus: Guarda Municipal aborda 127 estabelecimentos em BHMortes em casa crescem 18% em Minas; casos em BH sobem quase 40%Grafite: Concurso com prêmio de R$ 10 mil prioriza mulheres na arteA designer de moda Caroline Kurowsky é a idealizadora do projeto chamado Máscara em Branco. Ela tem um ateliê de moda e começou a produzir máscaras de tecido devido à facilidade de materiais que tem à disposição em casa.
“Quando costurei a primeira máscara branca me veio uma vontade de passar alguma mensagem por meio dela, uma vontade de me apropriar desse elemento tão novo e obrigatório para nossa proteção, mas também tão evidente e, de certa forma, constrangedor inicialmente. Neste momento, entendi que poderia transformar esse elemento em arte junto com alguns artistas”, contou.
Assim, ela convidou para participar da ação artistas locais que admirava. “Comecei a convidar artistas de Belo Horizonte, pois, é minha cidade de residência atualmente. Apesar disso, já tem alguns artistas de outros estados pedindo para participar. Serão todos acolhidos”, disse ela.
Ela conta que os artistas criaram um verdadeiro laço durante esse processo de apropriação e criação. “Muitos estão experimentando caminhos novos, materiais que não estavam acostumados... Eu sinto que a máscara em branco como ponto de partida mexeu com todos. Justamente, em um momento em que os questionamentos são muitos e se expressar, às vezes, é perigoso”, contou.
Ela conta que algumas máscara viraram, de fato, uma peça de arte. "Outras, além da arte, poderiam ser usadas. Algumas estão politizadas, outras são a extensão do trabalho do artista”, completou.
Os artistas
Bruna Zanetti é tatuadora, artista visual e uma das artistas que participa do projeto. O seu trabalho recebeu o nome: “Bosta na boca, sangue nas mãos - Brasil 2020”.
A máscara em branco que Bruna recebeu deu lugar a um grande borrão marrom, acompanhado de insetos. O elástico que prende a máscara foi pintado de vermelho.
“A minha ideia é que esta máscara fique como objeto histórico que marque este período. Eu acho que a mensagem está bem explícita: a boca que defeca, que destila ódio, que atrai bicho de esgoto. Essa boca que tem falas imorais e que se entrega em tudo que diz. Não tem entrelinhas, está tudo dado por essa boca”, disse ela. “E, por isso, as alças sujas de sangue que vem de uma mão, de uma mesma boca, que se exime de responsabilidades, que coloca a vida o sistema de saúde pública em risco”, acrescentou.
Ela conta que encarou o convite com muito entusiasmo. “Trata-se de uma iniciativa que contempla muitos aspectos importante… A importância de se cuidar e usar a máscara; a produção e a colaboração entre artistas; a distribuição de verba para projetos sociais”, disse.
Além disso, a iniciativa se torna ainda mais importante por dar um retorno financeiro aos artistas: “o projeto vai contra a produção artística não remunerada ou apenas usada como o capital simbólico através dessa “moeda” de divulgação ou visibilidade”, pontuou.
O designer gráfico Bruno Ulhôa concorda. Ele conta que ficou muito feliz ao receber o convite. “Estava aqui em casa procurando meios de me distrair e fazer isso com o que se ama não tem preço! Achei muito carinhoso a forma com que ela conseguiu unir varias formas de ajudar... Incentivando o trabalho do artista, incentivando o uso da máscara, arrecadando doações, incentivando o artista que trabalha com tecido, ajudando com a saúde mental, nos deixando mais próximos dos amigos e trazendo mais cor nesse momento tão incerto”, disse.
Ele usou da técnica do stencil para estampar a máscara em branco que recebeu. O trabalho foi inspirado no registro fotográfico feito em 1974 pelo fotógrafo Jack Bradley do garotinho Harold Whittles no momento em que seu médico coloca seu primeiro aparelho auditivo. “E essa foi a reação dele quando emergido para esse novo mundo.Me fez pensar no momento em que vivemos hoje,esse encontro com o desconhecido, essa nova forma de ser e estar nesse novo mundo”, disse.
Para a artista Efe Godoy, este momento tem sido, no mínimo, estranho. “A quarentena tem sido estranha. Mas, eu sou uma pessoa caseira, eu tenho meu ateliê dentro de casa. Então estou aproveitando para criar o tempo todo. Se você for no meu perfil, você vai ver que todo dia vai ter um desenho novo. Essa é a minha forma de não pirar. Se a gente parar, a gente pira. Eu tento deixar a minha cabeça oxigenada trabalhando”, contou ela.
A máscara de Efy chama a atenção pelo colorido. “Eu usei a tinta de tecido, costurei duas pérolas e uma pena cor-de-rosa. Usei um mix de técnicas", afirmou.
E um grande toque especial: "além dos materiais, eu usei também um pouco de magia. Eu sinto que quando a gente está criando, a gente deposita energia alí. Hoje, foi um dia que eu estava bem feliz. Eu sinto que essa alegria foi depositada no tecido", acrescentou.
O leilão
O resultado das intervenções será leiloado. Uma parte da verba arrecadada vai para doação, outra pra os artistas e outra para o projeto.
O leilão será feito pelo próprio Instagram. “Vai ser um leilão por dia e uma máscara por leilão. Vou anunciar o leilão e publicar um post da máscara a ser leiloada e os lances serão feitos nos comentários", disse Carol, idealizadora do projeto. O último lance leva a máscara. "Vai valer a partir das 10h e até as 23h do dia postado. O lance inicial vai ser de 50 reais e subsequentes de 5 reais. E só vai ser concretizada a venda após o pagamento em até 24 horas”, completou a idealizadora do projeto.
Os leilões devem começar na semana que vem. O endereço é https://www.instagram.com/mascara.em.branco/
A doação será divida igualmente para três projetos sociais: Rede Solidária BH, Um Milhão de Máscaras e Lá da Favelinha!